Ayrton era considerado quase imortal por rivais e fãs. Um dia antes de ele falecer – sábado, 30 de abril de 1994 –, Roland Ratzenberger, 33, havia morrido nos treinos. Todos estavam profundamente chateados, mas, embora a morte de Roland tenha sido tão trágica quanto a de Ayrton, a deste último tinha uma força mais visceral. Inevitável, porque Ayrton já havia transcendido o status de mero piloto e sido colocado em um patamar acima do de qualquer de seus rivais. Até agora, 23 anos depois, ainda sinto certa descrença: “Não, não Ayrton, não pode ser verdade, não pode, ele é bom demais para morrer”. Mas morreu.

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Mas será que sua morte foi em vão? Todas as mortes são terrivelmente tristes – literalmente um desperdício de vida – e mortes acidentais, ou pior, violentas, são ainda mais perturbadoras. Mas não, Ayton não morreu em vão. Ele morreu porque um braço da suspensão dianteira perfurou seu capacete quando o carro atingiu o guard-rail da curva Tamburello.
E isso só aconteceu porque na época o ambiente de trabalho de um piloto de F1 – seu cockpit – era aberto e desprotegido dos ombros para cima. Observe uma foto lateral de qualquer carro de F1 em 1994 e verá o que digo.

Mas por ter sido a morte de Ayrton, e não de qualquer piloto, foi tão perturbadora para tantas pessoas que ficou claro que a F1 tinha que se tornar mais segura – e se tornou, graças às ações do ex-detentor dos direitos comerciais da F1, Bernie Ecclestone, do presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, e do chefe médico da FIA, Sid Watkins (que atendeu Senna naquele fatídico dia).

Como resultado, nenhum piloto de F1 morreu depois disso (até 5 de outubro de 2014, em Suzuka, quando Jules Bianchi sofreu um acidente, porém esse diretamente relacionado à desorganização da prova, e não à segurança dos carros). Os pilotos que saem hoje sãos e salvos dos seus carros depois de acidentes horríveis devem suas vidas a esses três homens – e, indiretamente, também ao Ayrton.

Mais que isso, a morte de Ayrton teve um efeito positivo até nos recursos de segurança dos carros de rua. Max Mosley fez o seguinte comentário para jornalistas há alguns anos: “Aquele fim de semana em Ímola foi o catalisador de mudanças nos automóveis que salvaram dezenas de milhares de vidas. Sem isso, nós [a FIA] jamais teríamos criado o Euro NCAP [órgão de segurança automotiva responsável por crash-tests] e a segurança nas estradas seria menor. Dezenas de milhares de pessoas estão vivas hoje, sãs e salvas, mas teriam morrido se não fosse pelo que foi feito. E tudo começou com o acidente de Ayrton.”