Minha estréia na F1 foi em julho de 1970, no GP da Inglaterra, ao lado de meu herói Graham Hill e de Jochen Rindt, na Lotus. Duas semanas depois, já era o GP da Alemanha, em Hockenheim. Cheguei em quarto com o modelo 49. Jochen Rindt, com o Lotus 72, venceu de novo. Ele era um piloto magnífico e um cara adorável. Desde meu primeiro teste para F1, em Silverstone, ele foi incrivelmente gentil, checando se o calouro era bem preparado.

A próxima etapa foi na Áustria, onde o motor de Jochen quebrou e eu terminei só em 15º. Depois veio o GP da Itália, em Monza, e eu estava mais do que ansioso para correr lá. No sábado, antes dos treinos, tomei café da manhã com Jochen. Foi então que ele me disse:
– Emerson, não quero mais correr na Fórmula 2 e também na Foórmula 1, como venho fazendo. Eu e Bernie Ecclestone (sócio de Jochen) gostaríamos que você corresse na Fórmula 2 no próximo ano.
– Claro, Jochen, aceito.

Apenas algumas horas depois, na frenagem para a Parabólica, no final de uma volta muito rápida de classificação, seu Lotus 72 escorregou e bateu. Ele morreu na hora. Jochen era o piloto mais rápido e habilidoso que surgiu na F1. Sua morte foi um golpe duro. Ele liderava com tantos pontos quando faleceu que ninguém conseguiria ultrapassá-lo no resto do ano. Foi o único campeão póstumo da F1.

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Para mim – com apenas 23 anos e longe da família – o outono de 1970 foi de engolir seco. Colin Chapman decidiu não correr o próximo GP, no Canadá, e a Lotus só voltaria no GP dos EUA, em Watkins Glen. Quando cheguei ao autódromo americano, sabia que não tinha experiência para ser o líder na Lotus. Sentia uma enorme pressão. Mesmo assim, estava com o modelo 72 e classifiquei em terceiro, ótimo para o moral do time. Bem na minha frente na largada, em segundo, estava meu herói de infância: o inigualável Jackie Stewart.

Naquela tarde me senti doente, febril, e fui para a cama cedo. Não consegui dormir e chamei um médico. Tomei remédios, mas não dormi a noite toda. De manhã, estava cansado e mal. Tudo parecia dar errado e eu estava nervoso. Mas, quando foi dada a largada, tudo parecia se encaixar. Eu pilotava bem, atrás do Tyrrell de Jackie e do BRM de Pedro Rodriguez. Meu 72 estava ótimo e minha confiança crescia. Achava que não ultrapassaria Pedro ou Jackie, mas que chegaria em terceiro, meu primeiro pódio.

Mas o Tyrrell de Jackie vazou óleo e ele saiu da corrida, me deixando logo atrás de Pedro. “Segundo lugar está muito bom”, eu pensava. Não sabia que Pedro tinha pouco combustível. Faltando oito voltas, ele foi para os boxes e voltou em segundo. Era apenas meu quarto GP e eu liderava! As últimas voltas pareciam um sonho, mas lembro de ver Colin correndo para a chegada e jogando seu boné para o ar. Quando criança, vi muitas fotos dele fazendo isso para Jim Clark e Graham Hill. Agora, fazia para mim! Uma cena que continua maravilhosa na memória.