Como todo fumante sabe, quando termina o maço de cigarros a ansiedade começa. Repor o estoque se torna prioridade, mesmo que seja durante o horário de trabalho. Mas quem testa um protótipo não deve parar nunca, mesmo que seja “rapidinho”, só para comprar um maço. Principalmente deixando abandonado, ali na frente, o modelo de desenvolvimento de um dos mais aguardados esportivos da atualidade, o Alfa Romeo 4C.

É verdade que esse não é o único exemplar do modelo visto por aqui nas últimas semanas. Eles têm aparecido com frequência no eixo que liga as cidades italianas de Modena, Balocco e Turim.

No entanto, Gino (nome que inventei para o piloto de testes) faz uma cara assustada quando percebe que, devido à sua parada na tabacaria, observo o Alfa bem de perto. Maximilian, o fotógrafo, está agachado do outro lado da praça para não ser notado. Pouco vejo do interior, quase todo coberto de proteções. Há tempo para uma rápida olhada, suficiente para notar o manettino do sistema DNA de gerenciamento do motor no túnel central – onde não há alavanca de câmbio, o que comprova que o Alfa 4C terá transmissão de dupla embreagem (TCT) controlada por borboletas no volante. Do lado de fora, alguns “remendos” cobrem as linhas finais, que reproduzem as do conceito de 2011. A única diferença parece estar na porta, que acaba antes da tomada de ar que resfria o intercooler (o radiador principal segue na dianteira).

Tranquilizado por minha aparente falta de interesse, o piloto engata uma conversa. Fala sobre a dificuldade para resfriar o cofre do motor, que requereu um exaustivo trabalho para aproveitar o fluxo de ar sob o carro. “Mas o maior problema é outro”, confessa. “Nesse carro, tudo é novo para nós. O último modelo de motor central que lembro é o X1/9, e eu era criança. E não se trata de um carro feito sobre outro. Por isso, requer muitos testes, muito afinamento”, revela.

Pergunto se o carro terá vocação 100% esportiva. “Terá de oferecer uma experiência empolgante ao volante, sim, mas também deverá ser agradável no cotidiano.” Tarefa complicada! É verdade que o DNA permite selecionar quatro modos de condução, mas altera só o gerenciamento do motor e do câmbio – se muito, os freios. Em respeito à fórmula escolhida e para limitar o peso, amortecedores eletrônicos não servem a esse Alfa.

Falando em peso, a meta, ambiciosa, era não passar de 850 quilos. Gino não tem os números precisos, mas fala de algo em torno de 920 quilos, usando carbono na carroceria e alumínio nas suspensões. O limite de peso/ potência planejado era de 4 kg/cv, e o motor de 1.750 cc – de alumínio, com duplo comando variável, turbo e injeção direta – terá, a princípio, 250 cv (3,68 cv/kg). Nada mau.

Gino decide ir embora. Entra no carro e acelera. Atenuado pelo turbo, o som que sai do escape é encorpado, lembrando o do antigo motor Twin Cam. Vamos atrás, mas o agilíssimo Alfa Romeo 4C rapidamente desaparece de nossa vista.