Que tal um novo crossover alemão de luxo com tamanho de Ford EcoSport, Jeep Renegade e Honda HR-V? E que tal se ele for fabricado no Brasil? Não, não estamos falando do BMW X1 atual (um pouco maior e já produzido em Santa Catarina) nem de sua próxima geração (cujo design revelamos na edição de outubro). O segredo aqui é o Audi Q1, um modelo menor, de preço ainda mais atraente – que partiria de cerca de R$ 100.000 – e cuja história de nascimento é curiosa. Vamos começar por ela. Há anos a Audi não consegue tirar da cabeça esse projeto.

Desde 2005, com a morte da “minivan” A2 (leia abaixo “A família Q hoje”), um verdadeiro “gênio incompreendido”, a marca pensou muito em como preencher o vazio deixado por ele. O A1, lançado em 2010, agradou aos fãs de compactos, mas não a quem gostava da praticidade e da versatilidade do A2. A Audi passou a pensar, então, em um modelo bom para a cidade, mas também fora dela. Um carro prático, acessível e multiuso. Uma outra minivan foi até considerada, mas causava temor de novo fracasso. A resposta para a dúvida veio com a atual febre dos crossovers/SUVs compactos – um fenômeno global.

Aqui no Brasil, eles são hoje os únicos modelos com filas de espera (mesmo em um mercado em crise) e, no caso das marcas de luxo, estão entre os líderes de vendas, ainda que consideremos todas as categorias: o quarto lugar é do Range Rover Evoque e o terceiro carro “premium” mais vendido hoje é o Q3, irmão maior do Q1 e já confirmado para produção nacional. Os dois são superados, por muito pouco, só pelo Audi A3 Sedan e pelo BMW Série 3 (esses quatro tiveram, cada um, cerca de 1.700 unidades vendidas até abril). É de olho nesse mercado que, em vez de um novo A2, no primeiro semestre do ano que vem a Audi lançará um novo crossover.

Isso a MOTOR SHOW já havia noticiado, mas foi só agora, no começo do ano, que a Audi confirmou a produção desse modelo – a princípio, só na Europa. O plano era que se chamasse Q2, mas, como a Alfa Romeo já tem esse nome registrado (para um diferencial), ele vai se chamar Q1. Estilisticamente, como adiantamos aqui em ilustrações exclusivas, será um modelo de transição, influenciado por Wolfgang Egger, chefe de design até 2013, mas com toques do sucessor Marc Lichte e “homenagens” ao A2. Já o interior deve ser minimalista, porém flexível para atender às necessidades dos “aventureiros metropolitanos” e equipado com novos e avançados sistemas de conectividade.

Mas voltando ao que mais nos interessa, a boa notícia é que esse crossover tem enormes chances de ser feito no Brasil, na fábrica de São José dos Pinhais (PR), junto com o A3 Sedan e com o Q3, os outros dois nacionais da marca. Isso porque, além de ser exatamente o que nosso mercado mais procura hoje, ele compartilhará com eles a plataforma MQB – que também será usada pelo VW Golf e pelo crossover derivado dele, baseado no conceito T-Roc exibido no último Salão do Automóvel de São Paulo (leia mais na edição 377).

Com cerca de 4,20 m de comprimento, o Q1 deve ser inicialmente importado para cá, mas poderia ganhar produção nacional ainda em 2016 ou, no mais tardar, em 2017 (o A3 Sedan começa a ser feito lá em setembro e o Q3, seis meses depois). O motor das versões de entrada, com tração dianteira, seria o 1.4 turbo dos companheiros de fábrica (flex e recalibrado para 150 cv). Já as versões Quattro (tração integral) teriam o 1.8 turbo do A3 Sedan, mas também flex, com cerca de 185 cv. Uma opção com um motor 3 cilindros turbinado – derivado do usado no VW Up – também será lançada na Europa, mas é muito pouco provável para o Brasil.

Sem dúvida, o Q1 é o produto que mais ajudaria o fabricante alemão a atingir sua ambiciosa meta de vender 30.000 carros/ano no Brasil em 2020 (este ano deve emplacar 15.000). Questionado por MOTOR SHOW sobre a produção do Q1 no Paraná, o presidente da Audi do Brasil, Jörg Hofmann, não confirmou a informação, tampouco a negou: disse apenas que está estudando a possibilidade.Mas as evidências indicam que o Q1 será mesmo nacional. Afinal, teria tudo para roubar clientes das versões topo de Honda HR-V, Jeep Renegade, Mitsubishi ASX e cia. (a exemplo do que o A3 Sedan tem feito com as versões topo de linha dos sedãs médios de grande volume).

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A família Q hoje

De 4,4 a mais de 5 metros

O menor crossover/SUV da Audi hoje é o Q3, maior que Honda HR-V e cia. Quando o Q1 chegar, com 4,2 metros, possibilitará à marca brigar na fatia do mercado que mais cresce

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Gênio incompreendido

O Audi A2 de 1999 nunca chegou ao Brasil. Era um citycar sofisticado, com uma carroceria de van em miniatura (tinha 3,82 m de comprimento, o tamanho de um VW Fox). E o que ele tem a ver com o Q1, essa última novidade da marca, que mistura um pouco de perua e um pouco de SUV, como todos os crossovers? Essa evolução – ou metamorfose, se assim preferir – é algo natural, e não só na linha Audi: as minivans compactas estão de fato em extinção, já que o apetite dos consumidores por veículos com posição de dirigir mais alta, mesmo para uso urbano, é aparentemente inesgotável. Não por acaso, diversas marcas estão desistindo de minivans, peruas e até mesmo de sedãs para investir em crossovers.