Em 18 de novembro de 1993, a Audi estreava no Brasil pelas mãos de ninguém menos que nosso Ayrton Senna. Menos de um ano depois, o primeiro Audi RS – uma perua RS2 – aparecia no Salão do Automóvel. E ela chegaria ao nosso mercado, ainda em 1995, para revolucionar o panorama nacional de esportivos, como fez no resto do mundo. RS é a sigla para RennSport, “racing sport” em alemão. Está nas grades e carrocerias dos mais potentes Audi desde 1993, quando a tração quattro nasceu (leia abaixo “Duas décadas de Audi RS no Brasil”).

Os RS chegaram com motores turbinados e tração integral para enfrentar rivais da Mercedes-Benz e da BMW com motores aspirados e tração traseira – essa última sempre mais divertida, valorizada e envolvente nas pistas. Apesar dessas diferenças conceituais, a receita dos RS deu certo – porque nem todos são fãs incondicionais da tração traseira e porque ter dois eixos motrizes colocava os RS em vantagem nas arrancadas e na arte de “andar sobre trilhos”. Aqui, além de mostrar os principais destaques desses 20 anos de história dos Audi RS – sempre lançados no Brasil bem pouco depois do que na Europa –, fomos a uma pista de corridas conferir como são, ao volante, as diferentes receitas dos mais cobiçados modelos da Audi.

No desafiador e extremamente técnico autódromo de Velo Città, em Mogi-Guaçu (SP), demos três voltas rápidas em cada um de quatro modelos especialmente selecionados – R8, RS 4, RS 7 e RS Q3, nessa ordem. Todos têm muito apetite por velocidade e a mesma tração quattro, mas suas receitas – e principalmente o comportamento dinâmico – são bem diferentes. Confira a seguir qual mais se adequa ao seu gosto.
 

R8: um 10 cilindros no lugar certo

Não gostei de entrar logo de cara no R8, sem poder fazer nenhum “aquecimento” antes. Com 550 cv diponíveis a 8.000 rpm e 55,1 kgfm, seu 5.2 V10 não é mais potente que o V8 biturbo do RS 7, mas mesmo assim ele é o Audi mais rápido. Nasceu para desafiar o Porsche 911, e tem mesmo credenciais para isso: com carroceria levíssima e um ótimo câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas, atinge 100 km/h em 3,5 segundos e chega a 317 km/h. O motor central-traseiro garante uma distribuição de peso excelente, que o torna muito equilibrado nas curvas. A tração quattro é mais traseira que nos RS, ajudando na dinâmica impecável. Já a entrega de potência do V10 aspirado é bastante progressiva, ajudando a dosar melhor acelerações a partir do ápice das curvas. A nova geração chega aqui no ano que vem com o mesmo V10 (“só” com 526 cv), e também na nova opção Plus, recalibrada para 610 cv (0-100 km/h em 3,2 segundos e máxima de 330 km/h). Preço: R$ 958.990.


 

RS 4: o descendente direto

O RS 4 é descendente direto do RS2, o primeiro RS. Ambos foram construídos a partir da perua “compacta” da época – mas dos anos 1990 para cá, as dimensões gerais dos carros cresceram, e é difícil chamar uma peruona de 4,71 m de compacta. De qualquer modo, a receita também é diferente. Em vez de um 6 cilindros turbo, o RS 4 hoje tem um 8 cilindros aspirado que gira alto (450 cv a 8.250 rpm e 43,8 kgfm). Depois de andar no R8 V10, ele pareceu fraco, mas os números provam que está longe disso: 0-100 km/h em 4,6 segundos e máxima de 250 km/h (ou 280 km/h, opcionalmente). O V8 deixa a dianteira pesada, dá para sentir, mas a tração quattro se encarrega de evitar escapadas da dianteira. O acelerador não responde com a brutalidade do V8 turbinado, mas para os mais inexperientes o desdobramento de força retilíneo o torna um carro mais dócil de guiar. Preço: R$ 466.990.


 

RS 7: design ímpar, força brutal

Na pista, o RS 7 Sportback (como seu “gêmeo” RS 6 Avant) tem temperamento explosivo, resultado do V8 biturbo (560 cv e 71,2 kgfm) e do acelerador hipersensível. Acelera de 0-100 km/h em 3,9 segundos e todo cuidado é pouco nas saídas de curva: exageros do pé direito são respondidos com a atuação do ESP – e se você desligá-lo, pode acabar na caixa de brita. Já em uma autobahn vazia na Alemanha, rodamos acima dos 250 km/h, com a pista levemente nevada, com tranquilidade – sabendo que, graças à tração quattro, a eletrônica que está ali para te salvar não foi nem levemente solicitada. O câmbio é automático de oito marchas e o sistema C.O.D. desliga cilindros para poupar combustível. Na linha 2015, ganhou novas grades e faróis – esse últimos full-LED com luz alta que “sombreia” outros carros para não ofuscar os motoristas. Preço: R$ 624.990.


 

RS Q3: incoerência conceitual

Ainda bem que o RS Q3 foi o último que acelerei na pista. Ser o único 5 cilindros da turma (apenas enquanto o novo RS 3 Sportback não chega) não significa ser fraco: com 310 cv e força digna de um V8 (42,8 kgfm disponíveis já abaixo das 2.000 rpm), o desempenho impressiona – e agradou muito nas ruas e estradas, apesar do exagerado turbo lag, com 0-100 km/h em 5,2 segundos e um ronco bastante grave, mesmo que não seja o de um V8. Na pista, porém, a história é diferente. É uma questão conceitual: SUVs e crossovers não são esportivos de fato. Por mais que se enrijeça as suspensões, a carroceria alta vai inclinar mais nas curvas e dançar nas freadas e aceleradas. E as suspensões do RS Q3 nem são tão rígidas: é um carro que dá para usar no cotidiano e, por isso, na pista, mesmo depois de apenas três voltas, me deixou enjoado. Como disse em nossa avaliação anterior, é um carro bastante incoerente. Porém delicioso de guiar. Só não exagere nas curvas se não tiver estômago para isso. Preço: R$ 284.990.


 

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Duas décadas de Audi RS no Brasil
 

1995 – RS2 Avant

O primeiro dos Audi RS foi também a primeira perua superesportiva do mundo e o primeiro RS no Brasil. O motor 5 cilindros turbinado tinha 2,2 litros e desenvolvia 315 cv. Atingia 100 km/h em 5s4 e chegava a 262 km/h. Freios e rodas eram da Porsche, parceira no desenvolvimento e na produção do carro. Lançado na Europa em 1994, chegou aqui no ano seguinte.


 

2000 – RS4 Avant

A inglesa Cosworth ajudou a elevar a potência do V6 biturbo de 2,7 litros para generosos 380 cv. Baseada na familiar A4 Avant, sucedeu o RS2 como perua esportiva da RS (e adotou a nova nomenclatura, com o 4 no lugar do 2). Acelerava de 0-100 km/h em 4s9 e teve uma procura tão alta que a marca teve de dobrar o volume de produção planejado inicialmente.


 

2002 – RS6

Seu V8 biturbo de 450 cv possuía cinco válvulas por cilindro (40 no total) e ainda era montado pela Cosworth. A transmissão automática Tiptronic tinha cinco marchas e o 0-100 km/h levava 4s7. Estreou o sistema DRC (controle dinâmico de rodagem), que atuava nos amortecedores evitando que a carroceria deitasse nas curvas. A versão Plus, de 2004, atingia 280 km/h.


 

2005 – RS4

A segunda geração do RS4 chegou com as tradicionais carrocerias (sedã/perua) e depois ganhou a versão Cabriolet (foto). Foi o primeiro RS com motor aspirado – um novo V8 de 4,2 litros e 420 cv que girava alto e tinha injeção direta. A tração quattro com distribuição assimétrica de torque ajudava nas curvas e os freios podiam ser de cerâmica com carbono.


 

2007 – R8

O “911 da Audi” não é chamado de RS (mas é o único R). Seu motor central-traseiro 4.2 V8 de 420 cv o fazia atingir 100 km/h em 4s6 e chegar a 301 km/h. O câmbio automatizado de embreagem simples inicial era péssimo, mas depois de substituído permitiu o sucesso do R8. Nos anos seguintes, ganhou a carroceria Spyder e a opção V10, avaliada aqui.


 

2008 – RS 6

Comparado em nossa edição 330 com Mercedes E 63 AMG e Jaguar XFR, o RS6 Avant de 2008 era até há pouco tempo o RS mais potente já produzido, com um 5.0 V10 biturbo de 580 cv. A aceleração de 0-100 km/h levava 4s6 e a máxima era de 280 km/h. Em 2010, ganhou a opção de atingir 303 km/h. Os nomes dos carros passaram a ter o RS separado do número.


 

2010 – RS 5

Com linhas bastante esportivas, o legítimo cupê (com apenas duas portas) baseado no A4 foi lançado em 2007 e não podia ficar sem uma versão RS – que, no entanto, só chegou em 2010. Seu motor 4.2 V8 atinge 450 cv a altíssimas 8.250 rpm e garante a marca de 0-100 km/h em apenas 4s5 (10s9 para chegar a 200 km/h). Tem a sexta geração da tração quattro.


 

2011 – RS 3

O hatch-quase-perua trouxe de volta aos RS um motor 5 cilindros turbo, como no ancestral RS 2. Desenvolvia 340 cv e, ajudado pelo excelente câmbio de dupla embreagem e pelo baixo peso – graças a componentes de plástico com fibra de carbono (CFRP) –, garantia ao hatch atingir os 100 km/h em 4s6. Sua nova geração chega este ano ao Brasil (com 367 cv).


 

2013 – RS 4

Lançada na Europa em 2012, a terceira geração (somente na versão perua) mantém o bom motor 4.2 V8 aspirado, mas sua potência sobe para 450 cv. Os faróis de LED e a eletrônica sofisticada aumentam a segurança e o câmbio é de dupla embreagem. A máxima é limitada a 250 km/h (ou, opcionalmente, a 280 km/h) e a aceleração de 0-100 km/h leva apenas 4s7.


 

2013 – RS 6

Sinal dos tempos: o motor 5.0 V10 foi substituído por um 4.0 V8 biturbo capaz de desativar quatro cilindros quando não são requisitados, melhorando o consumo. Mesmo assim, graças à carroceria mais leve – e às duas turbinas, claro –, foi o primeiro RS 6 a quebrar a barreira dos 4 segundos no 0-100 km/h (leva 3s9). O câmbio é automático de oito marchas.


 

2014 – RS 7

A febre de uma carroceria para cada nicho de mercado chegou à linha RS, e, para encarar o Porsche Panamera e o Mercedes CLS, a Audi lançou o A7 Sportback – e, é claro, sua versão superesportiva RS 7. Com mais de 5 metros de comprimento e duas toneladas de peso, tem motorização e desempenho idênticos aos do irmão RS 6, que lhe serve de base.


 

2014 – RS Q3

Por mais sem sentido que sejam, os SUVs esportivos têm muita procura. E a RS entrou na jogada com esse modelo baseado no RS 3 – com quem compartilha o motor 5 cilindros turbo (com “apenas” 310 cv) e o câmbio de dupla embreagem. Acelera até 100 km/h em 5s2 e, com o controle de chassi no modo conforto, é um dos mais amigáveis RS para um uso mais “civil”.

 

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Audi Quattro, o precursor

A quattro GmbH, com letra minúscula, nasceu em outubro de 1983 como subsidiária da Audi responsável pela produção dos veículos superesportivos RS. O nome foi “emprestado” do Audi Quattro, o carro de rallye que serviu de “berço” para o nascimento da tração integral quattro, também com minúscula. Mostrado inicialmente no Salão de Genebra de 1980, foi produzido até 1991 em diferentes versões – e venceu inúmeros ralis na década de 1980, aproveitando as novas regras que permitiam a tração nas quatro rodas. O Sport Quattro S1 (foto) tinha motor 2.1 com bloco em alumínio e produzia 306 cv na versão de rua e cerca de 450 cv nas de competição. Em 1984, foi lançada uma versão que esterçava as quatro rodas para melhor performance em curvas.