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Coração acelerado. Mãos transpirando. Olhos vidrados. Um misto de palpitação e de respeito. Não era exagero, pois à minha frente estava a monstruosa perua Audi RS 6 Avant Performance. Encarei-a silenciosamente por alguns instantes e lembrei da brutalidade da RS 6 Avant “normal” de 560 cv. Passados minutos de contemplação superei minha ansiedade, me acomodei nos bancos esportivos de formato concha forrados em couro e…

Ao apertar o botão de partida, um berro grave, rouco e nervoso ecoou na garagem. O motor V8 4.0 biturbo estava vivo. Minha inquietação não era mais controlável. Coloquei a alavanca do câmbio na posição D (Drive) e, nos primeiros quilômetros, optei pelo programa Comfort. Guiando nesse modo de condução do Audi Drive Select, as reações ficam até contidas, com as marchas sendo passadas brevemente, com giro baixo. Por instantes pensei: “É um foguete, que pode ser utilizado para passear com a família ou até ir ao supermercado”. Obviamente, tomando cuidado com os buracos e imperfeições do asfalto – afinal, as grandes rodas de 21” vestem pneus ZR (velocidade superiores a 240 km/h por mais de 30 minutos) de baixíssimo perfil 30.

Passados alguns dias, aproveitei uma viagem de trabalho ao interior de São Paulo para sentir o comportamento desse míssil na estrada – mais seguro seria estar em uma pista. Do “pacato” Comfort passei para o Dynamic, que deixa mais rápida e afiada as respostas do motor, da transmissão, da direção, da suspensão e do diferencial esportivo. Viajando a 120 km/h, bastou eu pressionar o pedal do acelerador para a agulha do velocímetro pular vertiginosamente para mais de 200 km/h. Levei um soco no peito e gritei todo o meu vocabulário de palavrões! À medida que ganhava velocidade, o ronco de carro de corrida tomava conta do habitáculo – o sistema de exaustão é o mesmo do irmão RS7 Performance – e a cada troca de marchas os estouros emitidos pelo escape mexiam com todos os meus sentidos.

Comparado ao RS 6 Avant “normal”, o RS 6 Avant Performance oferece 45 cv a mais. São 605 cv de potência e 71,3 kgfm de torque antes de 2.000 rpm – número semelhante ao do McLaren 675 LT, que também é equipado com um propulsor V8 4.0 biturbo. O motor do Audi RS 6 Avant Performance também se diferencia do V8 do RS 6 Avant pelo comando do turbocompressor, pela abertura das válvulas do motor e pelo sistema de injeção. A pressão de trabalho dos dois turbocompressores (instalados no centro do “V” do bloco de oito cilindros) é de 2,0 bar absoluto, que saltam para 2,3 bar no overboost – acionado automaticamente no programa Dynamic dependendo da marcha e da velocidade.

Depois desse choque e extasiado com o desempenho monumental, retomei minha consciência e voltei a dirigir de forma civilizada. Nessa condição são desligados quatro dos oito cilindros, quando não há variação de velocidade no plano ou em subidas leves são desativados os cilindros 1, 4, 7 e 6. Então o motor passa a utilizar somente os cilindros 2, 3, 5 e 8. Para quem está curioso, consegui cravar médias rodoviários de até 12 km/l. Excelente para uma cavalaria desse porte. Nas curvas, a tração integral gruda a perua no chão, podendo variar até 15% da força no eixo dianteiro e 85% atrás ou vice-versa.

As suspensões são pneumáticas e em relação ao conjunto do RS 7 Performance mudam as molas e os amortecedores devido ao peso diferente na porção traseira dos carros. O RS 6 Avant Performance pesa 1.950 kg e o RS 7 Performance, 1.905 kg, só para comparar. Uma outra mudança em relação ao RS 6 Avant está na nova calibração da caixa de direção. Rápida e direta, ela adivinha os seus pensamentos ao entrar rápido nas curvas. Já o DRC (Dynamic Ride Control) foi desenvolvido para diminuir a rolagem da carroceria, fazendo-a contornar com muito mais agilidade/precisão, além de minimizar o efeito de mergulho da dianteira durante as frenagens. E falando em parar, os freios utilizam discos dianteiros de carbono-cerâmica de 390 mm com pinças de seis pistões.

Como falei no início do texto, o visual é impactante e os apêndices aerodinâmicos foram instalados para aumentar o efeito downforce, com exaustor de ar traseiro junto de quilhas direcionais. O RS 6 Avant Performance é canhão para poucos afortunados. Aliás, a perua custa praticamente o preço de um elegante apartamento em São Paulo. Daí eu digo: para quem já tem uma belíssima moradia e deseja um superesportivo disfarçado de perua, vá com fé nesse Audi. No meu caso, posso dizer que já estou com saudades.


Ficha técnica:

Audi RS 6 Avant Performance

Preço básico: R$ 699.000
Carro avaliado: R$ 699.000
Motor: 8 cilindros em V 4.0, 32V, biturbo, start-stop, sistema de desativação de cilindros
Cilindrada: 3993 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 605 cv de 6.100 a 6.800 rpm
Torque: 71,3 kgfm entre 1.750 e 6000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados de carbono-cerâmica (d/t)
Tração: integral
Dimensões: 4,979 m (c), 1,936 m (l), 1,461 m (a)
Entre-eixos: 2,915 m
Pneus: 285/30 R21
Porta-malas: 565 litros
Tanque: 75 litros
Peso: 1.950 kg
0-100 km/h: 3s7
Velocidade máxima: 305 km/h*
Consumo cidade: 6,3 km/l
Consumo estrada: 8,9 km/l
Emissão de CO2: 192 g/km
Nota do Inmetro: E
Classificação na categoria: D (Esportivo)

*limitada eletronicamente