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(Carros pra casar? Costuma-se falar daqueles que sofrem grande desvalorização e ficam com um valor de revenda tão baixo que você se recusa a vender. Ou daquela versão manual de um sedã médio pelo qual ninguém mais tem interesse. Enfim, daqueles carros dos quais você quer se livrar e não consegue. Mas essa não é a minha visão de um casamento; não o vejo como algo do qual as pessoas querem se livrar. Para mim, casar é uma forma de ficar pra sempre com alguém (ou algo, no caso aqui) que se ama. Nessa nova seção do Blog Sobre Rodas, portanto, falarei dos carros que conquistaram meu coração. Daqueles pra colecionar, casar, pra ter para sempre como companhia).

Depois de estrear com o esportivo Honda Civic Si (leia aqui), agora me apaixonei pelo Range Rover  Vogue (apelido exclusivo do Brasil; no resto do mundo é apenas Range Rover) na versão de entrada TDV6, com motor a diesel. E nem precisa ser dessa belíssima série especial Black, limitada a 13 unidades no Brasil. De diferente do Range Rover “de entrada”, ela tem enormes rodas aro 22 com acabamento preto, entrada de ar frontal e grade escurecidas, assim como as saídas de ar laterais e o acabamento das portas. E, apesar do nome, não é oferecida apenas na cor preta – pode ser cinza também. Mas lamento dizer que esse não é um casamento pra qualquer um: considerando que custa quase R$ 600.000, é preciso muito “amor” para se dispor a concretizá-lo.

O que desperta a paixão

  • A versatilidade é o ponto alto desse SUV. Sabe aquele papinho clichê de luxo de sedã com valentia de jipe? Pois aqui, como muito raramente acontece, essa afirmação é verdadeira. O Range Rover consegue, sim, unir em um mesmo veículo tudo o que você precisa e pode precisar. A não ser, é claro, que você precise de um carro compacto, que caiba em qualquer vaga, pois o Range tem exatos 4,999 m de comprimento (maior que um Audi A6, quase um Chrysler 300C), além de imponentes 1,835 m de altura.
  • O acabamento de primeira. A cabine impressiona, com nível similar ao dos melhores sedãs de luxo – Mercedes-Benz Classe S, Audi A8, BMW Série 7. As superfícies são todas cobertas de couro finíssimo ou de madeira nobre, o encosto de cabeça parece de plumas de ganso e tem ajuste como nas classes executivas dos aviões. Até os lugares onde não se enxerga são caprichados. E o exagerado isolamento acústico garante que você se sinta em um mundo à parte, devidamente separado do caos, do barulho e da poluição ao redor.
  • As suspensões a ar, que garantem conforto absoluto em todas as superfícies. Sabe aquela sensação boba da paixão, que te deixa meio “flutuando”? Pois assim é rodar com o Range Rover, e não importa o terreno. É como se fosse um tapete mágico, flutuando sobre pedras, buracos, costelas de vaca, facões – ou mesmo lombadas e valetas. Os movimentos da carroceria são sempre suaves e nas curvas, considerando a altura do carro, a inclinação é bem pouca. Os pneus 275 e a tração integral ajudam a manter o carro colado no chão. Não espere comportamento de esportivo, no entanto. Claro que peso e proporções atrapalham, é inevitável, mas a dinâmica merece elogios. Isso sem falar no ajuste de altura – ao toque de um botão, o carro abaixa para facilitar a entrada dos passageiros e ou se eleva para encarar o off-road. Já volto a isso..
  • Pois essas mesmas suspensões ajudam a garantir uma capacidade off-road ridícula (no bom sentido, claro). Com a altura off-road selecionada, além de ganhar alguns centímetros a mais de altura livre de solo, para escapar de pedras, os ângulos de ataque e saída do Range melhoram consideravelmente. Além disso, há o pioneiro Terrain Response, sistema de tração e controle inteligente do carro. Ele pode funcionar de modo totalmente automático (padrão), monitorando a qualidade do piso e respondendo a ele, ou a atendendo a pedidos: você seleciona o terreno (areia, lama, pedra, etc…) e o sistema adapta o comportamento da transmissão, do sistema de tração e do acelerador, entre outros. Para completar, uma série de telas mostra da profundidade da água e o limite de travessia (medida por um sensor) ao esterço das rodas, condição dos diferenciais (bloqueados/livres) e análise do piso. Para quem gosta de off-road, é incrível.
  • O visual elegante e a história também ajudam. Nobre, clássico, o Range Rover dispensa apresentações. Além de pioneiro dos SUVs de luxo, é o carro da Rainha da Inglaterra, um verdadeiro ícone de estilo e garantia de status.
  • E tudo isso com um consumo bastante contido do silencioso V6. A maioria das pessoas pode dirigir o Range Rover TDV6 por dias sem perceber que é movido a diesel, de tão contido seu ruído (e tão bom o isolamento da cabine). Acoplado ao ótimo câmbio ZF de oito marchas, o V6 impressiona pelos 61,1 kgfm que garantem aceleração de 0-100 km/h em menos de 8 segundos. Rodando a 110/120 km/h, fiz médias de 14 km/l na estrada. Já na cidade, marquei com facilidade 10 km/l (números bem próximos dos oficiais do Inmetro). Com o tanque tem 85 litros, dá para pegar uma estrada e só parar mais de mil quilômetros depois. E sem cansaço.

O que pode levar ao divórcio

  • A central multimídia. É quase surreal ver os gráficos do sistema multimídia, indignos do carro. Além da feia e difícil de usar, com cara e interface envelhecidos,  a central multimídia é incompatível com Android Auto e Apple CarPlay. Como opção, oferece o InControl Apps, que permite acessar o conteúdo do smartphone e tem alguns apps compatíveis, mas o Range merecia mais. A qualidade sonora, por outro lado, é impecável. Os alto-falantes da Meridian emitem um som tão limpo e claro que você esquece que os comandos são ruins.
  • Os reflexos nos cromados do painel. Se é para achar defeito, então sejamos chatos. Com o sol alto, dependendo da posição, os raios refletem nos cromados que ficam ao redor do painel de instrumentos, atrapalhando a visibilidade não só dele, mas também da rua – pois o motorista fica ofuscado. É raro de acontecer, porém irritante.
  • A lista de equipamentos. Não que ela seja ruim, mas pelo valor do carro podia ser um pouco mais generosa. Há monitor de ponto cego, mas não alerta de mudança de faixa. Há bancos elétricos com memória, mas não piloto automático adaptativo. Há teto solar panorâmico, mas não um alerta de colisão. E a tampa do porta-malas, pesada, bem que podia ser motorizada.

Filhos?

  • Sim, e cheios de tralhas. O espaço interno é enorme, seja para colocar as cadeirinhas, seja para carregar coisas – ou até mesmo os dois juntos. Com os bancos traseiros todos rebatidos, o SUV acomoda um volume total de mais de 2.000 litros de bagagem. A família só não pode crescer muito, pois não há versão com sete lugares.

FICHA TÉCNICA

RANGE ROVER TDV6
Preço básico: R$ 567.000
Carro avaliado: R$ 591.102

Range Rover Black
Motor: 6 cilindros em linha 3.0, 24V, turbodiesel paralelo-sequencial
Cilindrada: 2993 cm3
Combustível: diesel
Potência: 258 cv a 4.000 rpm
Torque: 61,1 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensão: duplo triângulo (d) e integral-link (t), amortecedores a ar, altura ajustável em três níveis
Freios: discos ventilados (d/t)
Tração: integral, com bloqueio do diferencial e reduzida
Dimensões: 4,999 m (c), 1,983 m (l), 1,835 m (a)
Entre-eixos: 2,922 m
Pneus: 275/40 R22 (d/t)
Porta-malas: 550 litros (2.030 c/ banco rebatido)
Tanque: 85 litros
Peso: 2.160 kg
0-100 km/h: 7s9
Velocidade máxima: 209 km/h
Consumo cidade: 10 km/l
Consumo estrada: 11,8 km/l
Emissão de CO2: 186 g/km
Nota do Inmetro: D
Classificação na categoria: A (Fora de Estrada)