Mesmo sabendo que a teoria da sociedade do espetáculo, do francês Guy Debord, refere-se à produção cultural, eu gostaria de emprestar essa fantástica expressão para exemplificar um nicho cada vez maior na República do Automóvel. São os carros aventureiros. Desde que a Fiat lançou o Palio Adventure, em 1999, esse tipo de carro não parou mais de surgir no mercado brasileiro. O próximo Salão de São Paulo, a partir de 30 de outubro, mais uma vez será palco para a apresentação de vários carros aventureiros.

Mas o que são esses carros aventureiros? Quando o Palio Adventure nasceu, no finalzinho do Século XX, foi a primeira tentativa de dar a um carro razoavelmente acessível o estilo que o Volvo Cross Country e o Audi Allroad traziam a preços estratosféricos. Basicamente esses carros eram uma opção para os SUVs (Sport Utilities Vehicles), na época chamados de “jipões”, entre os quais se destacavam modelos como o Jeep Grand Cherokee e o Mitsubishi Pajero. O Audi Allroad trazia, para além da tração 4×4, proteção de plástico nas extremidades, como as caixas de rodas e os para-choques. A carroceria tinha maior distância do solo do que a de modelos normais. Os pneus eram de uso misto (50% para estrada e 50% para fora-de-estrada). Por dentro, o motorista contava com equipamentos como bússola e inclinômetro.

Com o Palio Adventure, a Fiat ousou experimentar a fórmula em um automóvel com tração dianteira (4×2). E deu certo. Tanto que até hoje o carro é vendido. A partir dessa experiência, vários fabricantes passaram a incluir em suas linhas os tais modelos aventureiros. Mas nenhuma experiência foi tão bem sucedida quanto a da Ford com o EcoSport. O carro nada mais era do que um Fiesta. Entretanto, a Ford aumentou bastante sua distância do solo, introduziu os aparatos de aventura e, principalmente, posicionou o estepe do lado de fora do veículo, na traseira. Em questão de semanas os consumidores passaram a olhar para o EcoSport como se fosse uma miniatura do Pajero. A Volkswagen não perdeu tempo e logo em seguida lançou o CrossFox, também com o estepe do lado de fora.Mesmo sabendo que a teoria da sociedade do espetáculo, do francês Guy Debord, refere-se à produção cultural, eu gostaria de emprestar essa fantástica expressão para exemplificar um nicho cada vez maior na República do Automóvel. São os carros aventureiros. Desde que a Fiat lançou o Palio Adventure, em 1999, esse tipo de carro não parou mais de surgir no mercado brasileiro. O próximo Salão de São Paulo, a partir de 30 de outubro, mais uma vez será palco para a apresentação de vários carros aventureiros.

Mas o que são esses carros aventureiros? Quando o Palio Adventure nasceu, no finalzinho do Século XX, foi a primeira tentativa de dar a um carro razoavelmente acessível o estilo que o Volvo Cross Country e o Audi Allroad traziam a preços estratosféricos. Basicamente esses carros eram uma opção para os SUVs (Sport Utilities Vehicles), na época chamados de “jipões”, entre os quais se destacavam modelos como o Jeep Grand Cherokee e o Mitsubishi Pajero. O Audi Allroad trazia, para além da tração 4×4, proteção de plástico nas extremidades, como as caixas de rodas e os para-choques. A carroceria tinha maior distância do solo do que a de modelos normais. Os pneus eram de uso misto (50% para estrada e 50% para fora-de-estrada). Por dentro, o motorista contava com equipamentos como bússola e inclinômetro.

Com o Palio Adventure, a Fiat ousou experimentar a fórmula em um automóvel com tração dianteira (4×2). E deu certo. Tanto que até hoje o carro é vendido. A partir dessa experiência, vários fabricantes passaram a incluir em suas linhas os tais modelos aventureiros. Mas nenhuma experiência foi tão bem sucedida quanto a da Ford com o EcoSport. O carro nada mais era do que um Fiesta. Entretanto, a Ford aumentou bastante sua distância do solo, introduziu os aparatos de aventura e, principalmente, posicionou o estepe do lado de fora do veículo, na traseira. Em questão de semanas os consumidores passaram a olhar para o EcoSport como se fosse uma miniatura do Pajero. A Volkswagen não perdeu tempo e logo em seguida lançou o CrossFox, também com o estepe do lado de fora.

Não demorou muito, porém, para que os estepes voltassem para dentro do carro, o que não era um problema nos enormes SUVs, mas era para modelos compactos como o CrossFox. Percebendo que os consumidores quase não usavam os aparatos de aventura, a Volkswagen manteve o estepe do lado de fora, mas lançou outros dois carros com o estilo aventureiro (e com os estepes dentro do porta-malas): Gol Rallye e SpaceCross. De seu lado, a Fiat manteve-se fiel à proposta inicial, manteve os grandes protetores de caixas de roda, bem como a bússola, o inclinômetro e o grafismo diferenciado do quadro de instrumentos, além de lançar várias outras versões Adventure, da picape Strada, do utilitário Doblò, do familiar Idea e até do pequeno Uno (que, todavia, foi batizado de Way e não de Adventure). Mais tarde a Fiat adotou o sistema Locker, que permite ao carro atravessar atoleiros em linha reta. A Volkswagen, ao contrário, eliminou até as proteções de plástico das caixas de rodas, substituindo-as por um material preto e relativamente discreto colado nas bordas da carroceria. Nem o interior escapou da limpeza. Hoje, o painel de um Gol Rallye é igualzinho ao de um Gol normal e o mesmo se aplica ao CrossFox em relação ao Fox.

E aqui voltamos à sociedade do espetáculo, expressão gentilmente “cedida” por Debord para textos como este. Afinal, hoje, as pessoas compram esses carros aventureiros apenas e tão somente para transmitir ao mundo o estilo de vida pelo qual gostariam de ser vistas pela sociedade e não necessariamente aquele que elas realmente têm. As pessoas gostam de se diferenciar com esses carros, da mesma forma que antigamente procuravam se distinguir ao comprar modelos esportivos como o VW Gol GTi, o Chevrolet Kaddet GSi e o Ford Escort XR3. Antigamente, as montadoras faziam algumas mudanças técnicas nesses carros, como dotá-los de suspensões mais duras, encurtar as relações de marchas e até aumentar a taxa de compressão do motor. Atualmente, versões esportivas ou aventureiras nada mais são do que carros com visuais diferentes e com 2 cm mais altos. Só. Afinal, na sociedade do espetáculo, não precisa ser, basta parecer.
Não demorou muito, porém, para que os estepes voltassem para dentro do carro, o que não era um problema nos enormes SUVs, mas era para modelos compactos como o CrossFox. Percebendo que os consumidores quase não usavam os aparatos de aventura, a Volkswagen manteve o estepe do lado de fora, mas lançou outros dois carros com o estilo aventureiro (e com os estepes dentro do porta-malas): Gol Rallye e SpaceCross. De seu lado, a Fiat manteve-se fiel à proposta inicial, manteve os grandes protetores de caixas de roda, bem como a bússola, o inclinômetro e o grafismo diferenciado do quadro de instrumentos, além de lançar várias outras versões Adventure, da picape Strada, do utilitário Doblò, do familiar Idea e até do pequeno Uno (que, todavia, foi batizado de Way e não de Adventure). Mais tarde a Fiat adotou o sistema Locker, que permite ao carro atravessar atoleiros em linha reta. A Volkswagen, ao contrário, eliminou até as proteções de plástico das caixas de rodas, substituindo-as por um material preto e relativamente discreto colado nas bordas da carroceria. Nem o interior escapou da limpeza. Hoje, o painel de um Gol Rallye é igualzinho ao de um Gol normal e o mesmo se aplica ao CrossFox em relação ao Fox.

E aqui voltamos à sociedade do espetáculo, expressão gentilmente “cedida” por Debord para textos como este. Afinal, hoje, as pessoas compram esses carros aventureiros apenas e tão somente para transmitir ao mundo o estilo de vida pelo qual gostariam de ser vistas pela sociedade e não necessariamente aquele que elas realmente têm. As pessoas gostam de se diferenciar com esses carros, da mesma forma que antigamente procuravam se distinguir ao comprar modelos esportivos como o VW Gol GTi, o Chevrolet Kaddet GSi e o Ford Escort XR3. Antigamente, as montadoras faziam algumas mudanças técnicas nesses carros, como dotá-los de suspensões mais duras, encurtar as relações de marchas e até aumentar a taxa de compressão do motor. Atualmente, versões esportivas ou aventureiras nada mais são do que carros com visuais diferentes e com 2 cm mais altos. Só. Afinal, na sociedade do espetáculo, não precisa ser, basta parecer.