De repente, todo mundo parece que ficou interessado em comprar um crossover ou um SUV. E a profusão de lançamentos é enorme. Mas quantos são de fatos Sport Utility Vehicles? Poucos, bem poucos! Por isso, aqui reunimos dois legítimos representantes dos carros que topam tudo – eles podem ser chamado de crossovers pelo conforto e comportamento dinâmico, mas também podem ser chamados de SUVs pela capacidade de enfrentar terrenos difíceis. De um lado, o Jeep Cherokee Limited (R$ 214.900); do outro, o Land Rover Discovery Sport HSE (R$ 206.100).


O Cherokee é mais descontraído no interior. Seu volante tem ótima pegada. O quadro de instrumentos tem um visor em LCD entre o conta-giros e o velocímetro, e a telamultimídia é bem destacada. O controle dos modos de tração fica ao lado da alavanca do câmbio automático

Essas são as duas versões intermediárias, mas ambos têm mais duas: de entrada, o Cherokee Longitude (R$ 199.000) e o Discovery Sport SE (R$ 183.100); no topo da linha, o Cherokee Trailhawk (R$ 229.900) e o Discovery Sport HSE Luxury (R$ 235.200). Para efeito de comparativo, vamos nos ater às duas versões intermediárias (Limited e HSE), cuja diferença de preço é de R$ 8.800. E de cara já podemos dizer que poucas vezes, nos últimos tempos, reunimos dois carros tão parecidos em suas propostas, embora o Jeep tenha um motor V6 3.2 de 271 cv e o Land Rover possua um 4 cilindros 2.0 de 240 cv – ambos turbinados, com duplo comando de válvulas variável, e acoplados a câmbios automáticos de nove marchas.


O painel do Discovery Sport é sóbrio e seu volante tem mais funções. O cluster tem dois “canhões”, a tela multimídia é discretíssima, os controles do modo de tração ficam abaixo dos ajustes do ar-condicionado e o câmbio automático é acionado por um botão giratório

Esqueça um pouco os SUVs alemães (mais esportivos), japoneses (mais brutos) e coreanos (mais comedidos). A briga aqui é entre as escolas americana e inglesa. O Jeep Cherokee é fabricado em Toledo, Estados Unidos, e está na sua quinta geração. O Land Rover Discovery Sport é feito em Halewood, Inglaterra, e surgiu este ano como sucessor do Freelander 2. No mercado brasileiro, o Freelander vendia mais. De setembro de 2014 (quando o novo Cherokee foi lançado) até abril de 2015, o inglês registrou 617 emplacamentos e o americano obteve 288.


Acima, os bancos dianteiros e traseiros do Cherokee, em duas cores. Abaixo, os do Discovery Sport. Os espaços se equivalem. Os monitores nos bancos do Land Rover são opcionais das versões HSE e HSE Luxury

Só que o Freelander começava em R$ 165.100 – e uma diferença de R$ 18.000 no carro de entrada não pode ser desprezada, mesmo nessa categoria. Em termos de equipamentos, os dois carros são bem parecidos. Embora seja um pouco mais caro, o Cherokee Limited tem navegador por GPS com mapas em 3D, porta-malas com tampa motorizada, entrada no carro sem chave e sistema start-stop de série. Os três primeiros equipamentos são opcionais no Discovery Sport HSE, que não dispõe de start-stop nem como opcional. A percepção de luxo a bordo, entretanto, é maior no modelo inglês.

Sua tela multimídia compõe melhor com o conjunto, o painel é mais requintado e cheio de detalhes, com ampla utilização de couro nos revestimentos. A alavanca do câmbio automático foi substituída por um botão giratório. E o quadro de instrumentos é do tipo “dois canhões”, que dá mais profundidade. O bagageiro comporta 42 litros a mais, o que não deixa de ser um mérito, considerando que o carro é mais curto. A maior sofisticação do Discovery Sport aparece também nas borboletas para troca de marchas. Quando se fala em dirigibilidade e personalidade, o vento muda a favor do carro americano. O Cherokee é marcante.

Você pode até não gostar do ousado conjunto ótico dividido em três partes, mas essa é uma solução de design que muitos carros copiarão nos próximos anos. Além disso, se houver uma batida de trânsito que danifique um farol, o conjunto do Cherokee custará R$ 7.224, um valor que se torna barato diante do assombroso preço de um farol do Discovery Sport: R$ 23.810. Ok, o Land Rover traz excelentes faróis de xenônio com assinatura em LED, com sensor de luminosidade, mas os do Jeep também têm tudo isso. Em termos de design, o problema é que a morte do Freelander 2 resultou em um carro sem personalidade própria, muito parecido com o Range Rover Sport.

No que diz respeito à dirigibilidade, o Cherokee faz valer a autoridade do ótimo motor Pentastar V6. Ele é um carro mais ágil na cidade e bastante agradável na estrada. Com uma relação peso/potência um pouco melhor (6,8 contra 7,7 kg/cv), o Jeep Cherokee responde com mais prontidão às solicitações do acelerador (é quase 1 segundo mais rápido de 0-100 km/h), enquanto o Discovery Sport pareceu meio pesado no trânsito. O conforto a bordo também é melhor no carro americano, que tem a suspensão tipo maria-mole e, portanto, um rodar mais macio. Isso foi proposital, pois a marca mira um público mais amplo do que aquele interessado na geração anterior, mais focado na utilização todo-terreno.

Em compensação, o motor 2.0 Si4 desse Land Rover é incrivelmente silencioso. Aliás, quem quiser se aventurar em caminhos ruins não vai ter problema com nenhum dos dois carros. O Cherokee tem o sistema de tração Active Drive I, que ajuda a corrigir uma saída de frente ou de traseira (no asfalto) se o motorista entrar muito rápido em uma curva. Ele inclui o Select-Terrain, que seleciona o tipo de tração adequado para cada terreno. O modo Auto detecta a necessidade de 4×4, o Sport limita a ação do controle de tração e o Sand/Mud pode ser usado para areia ou lama. Já o Land Rover conta com o sistema Terrain Response, que também adapta os parâmetros de tração, aceleração e torque de acordo com o tipo de terreno.

O Discovery Sport HSE vem ainda com o sistema Hill Descent Control (disponível no Cherokee Trailhawk), que mantém a velocidade do carro em descidas muito íngremes. Nesse comparativo, nenhum dos dois carros foi submetido a uma aventura off-road, mas ambos apresentaram problemas durante o test drive. O Discovery Sport veio com o marcador de combustível sem funcionar – rodamos sem saber quanto combustível havia no tanque. O Cherokee teve uma pane no câmbio e foi substituído. Embora sejam problemas pontuais, que não podem ser considerados na avaliação, não deixa de ser surpreendente que dois carros novos, acima de R$ 200.000, possam causar tais desconfortos.

A escolha de um ou de outro depende muito mais da necessidade do comprador em termos de equipamentos de série (ou mesmo dos opcionais), de seu gosto pessoal quanto ao design, de sua identificação com a marca e de suas preferências quando a potência e conforto. E tem o mercado também. Por um lado, o Discovery Sport passará a ser fabricado no Brasil em 2016; por outro, a Jeep vai ampliar consideravelmente sua presença no País com a fabricação do Renegade. Mas, claro, não ficaremos em cima do muro. Devido à sua personalidade única, ao motor mais potente, à maciez ao rodar e às melhores sensações que transmitiu ao volante, o vencedor desse duelo é o Jeep Cherokee Limited.