Pobre Fiat 500 Abarth. Na pista de testes em Chelsea, Michigan, havia jornalistas do mundo todo, mas nenhum parecia dar atenção para ele. A maioria estava interessada em acelerar dois dos mais desejados esportivos da atualidade: o monstruoso SRT Viper, com bloco V10 de 640 cv, e o Alfa Romeo 4C, com carroceria de bra de carbono e motor central de 240 cv. Enquanto isso, a versão apimentada do Cinquecento era apenas coadjuvante: servia para entreter os que estavam na la para acelerar as estrelas. Para mim, porém, o Fiat tinha um atrativo extra: começa a ser vendido no Brasil em  breve, O plano é que chegue às concessionárias em setembro, antes do Salão do Automóvel, com preço na faixa dos R$ 70.000. De longe, o visual já mostra que esse 500 é bem diferente: externamente, ele tem tomadas de ar maiores, escape duplo, adesivos e logotipos Abarth, saias laterais, aerofólio maior e difusores traseiros. Dentro, a exclusividade está em várias partes, com destaque para o volante de base chata e a alavanca de câmbio, ambos com costura  vermelha, e o painel de instrumentos personalizável – que, no modo Sport (selecionável por um botão), dá destaque ao conta-giros e mostra indicadores de força G, aceleração instantânea, potência e torque usados, etc.

Mas a esportividade aqui vai muito além do visual: na pista travada preparada para os testes, os dois 500 Abarth  disponíveis – um com câmbio manual, outro automático – me arrancaram mais sorrisos que seus cobiçados companheiros. E não só porque pude dirigi-los por mais tempo, rodando pela pista até cansar, mas porque, dependendo do percurso, pequenos esportivos conseguem ser mais divertidos do que modelos maiores e mais poderosos. A Abarth, para quem não conhece, é a preparadora oficial da Fiat. Na Itália, é, inclusive, tratada como submarca: esse Fiat 500 Abarth lá se chama apenas Abarth 500. Independentemente do nome, o fato é que a Abarth não tem um escorpião como símbolo à toa: ela adora injetar veneno nos mais pacatos Fiat. No caso desse 500, o motor é o mesmo 1.4 MultiAir das versões “normais”, mas, com uma turbina somada à receita, potência e torque saltam de 107 cv e 13,8 kgfm para 160 cv e 23,4 kgfm. Para garantir exaustão sem restrições, a saída de escape tem duas saídas. Além de úteis, são invocadas visualmente e tornam o ronco do 500 mais intimidador.

Ao volante, essa envenenada fez uma diferença brutal. A aceleração de 0-100 km/h caiu de 12,2 para 7,4 segundos e a velocidade máxima subiu de 180 para 211 km/h. Na pista travadinha, a direção elétrica mais direta ajudou nas curvas e no slalon. A boa dinâmica é reforçada pela carroceria mais baixa (15 mm), pela barra estabilizadora traseira, pelos pneus largos (205/40 R17) e pelos amortecedores de tubo duplo. Seguindo recomendações, desliguei o controle de estabilidade. Em condições normais, ele até exagera na cautela, mas a Abarth adicionou opções de desligá-lo parcial ou totalmente. Mesmo com ele totalmente desligado, dá para exagerar sem sustos: a dianteira avisa que vai escapar, tornando fácil retomar o controle. Se dirigir no modo normal já é divertido, há ainda o modo Sport, que deixa a direção mais pesada e as respostas mais imediatas, além de acionar a shift-light, que indica a hora de trocar de marcha – função útil, principalmente no modelo com câmbio manual. Falando nisso, o Brasil deve ter somente essa versão, com cinco marchas, alavanca bem posicionada e engates curtos; a automática de seis velocidades, que acaba de ser lançada, não deve vir – e não há por que lamentar. Apesar de recalibrada pela Abarth, com recursos como o punta-taco nas frenagens, mostrou-se lenta. E, cá entre nós, um esportivo como esse é bem mais divertido com o pedal da embreagem.

Você deve estar se perguntando: e o Alfa 4C e o SRT Viper? Bem, em uma rápida volta neles, muitos cones (que marcam a trajetória ideal na pista) foram derrubados e cou claro que fazem parte de outro mundo. Não tanto pelos preços mais elevados, mas por precisarem de muito mais espaço que o 500 para botar um sorriso no rosto do motorista.