A alça de acesso à rodovia entre Lleida e Fraga, no interior da Espanha, faz uma curva suave à direita. Estou ao volante do novo F-Type R Coupé. Uso a borboleta no volante para reduzir para a terceira marcha e afundo o pé no acelerador. Meu erro. Já sabia muito bem que nunca se deve provocar um carro de 550 cv dessa maneira, ainda mais se ele tem tração traseira. O Jaguar derrapa, eu controlo
pedais e volante. O esportivo retoma a trajetória, eu volto a respirar. Sinto que z uma boa manobra, mas a verdade é que se nada tivesse feito, nada aconteceria. O Jaguar estava blefando. Faz parte do show. Para isso serve o botão com a bandeira quadriculada no console: acionar o modo “dinâmico”, que deixa o carro mais nervoso e o controle de estabilidade mais permissivo.

 Dramaticidade, como se vê, é a principal arma do F-Type para desa ar o mítico Porsche 911. Ela está em toda parte, mas principalmente na sonoridade do sistema de escape. Os estouros que saem dos quatro canos nas trocas de marcha lembram os dos Mercedes-Benz AMG. Talvez os ciclistas com os quais cruzei pelo caminho naquela pacata manhã de sábado, tímpanos castigados por nossa estrondosa passagem, discordem, mas o som do F-Type é especial. Uma mistura de bombardeio aéreo com o rugido de um felino furioso.

Centenas de quilômetros depois, parece que percorri todas as curvas da Espanha. Na Serra de Montsant, entre vinícolas e vilarejos, o F-Type mostrou direção, freios, motor e suspensões exagerados. Imediatos, hipersensíveis e até malcriados, transmitem uma esportividade mais bruta que a do 911. O ruído dos pneus – incomumente alto para um Jaguar – e a traseira hiperativa, como nas versões de tração traseira do Porsche, fazem parte da receita de diversão. Afora sustos solicitados e controlados, o sistema de vetorização do torque freia as rodas internas nas curvas para ajudar a contorná-las e, junto com o bloqueio eletrônico do diferencial, que distribui o torque entre as rodas, garante total domínio sobre o cupê. Um equilíbrio perfeito entre substerço (saída de frente) e sobresterço (saída de traseira). Para completar, os amortecedores são ajustados 500 vezes por segundo!

Já o câmbio automático de oito marchas é rápido como um automatizado de dupla embreagem. Igualmente rápida é a direção hidráulica. Comunicativa e precisa, ajuda a domar os 550 cv do V8 dianteiro – sobrealimentado como na versão V8S do roadster, mas com 55 cv e 5,6 kgfm extras “Suba as marchas, use o torque. Não estique tanto”, me dizia o piloto-instrutor no circuito de Motorland, em Aragon, 24 horas antes. Lá, em um ambiente controlado, havíamos treinado curvas e dado dezenas de outras derrapadas. Lembrei disso na serra, quando o risco não era acabar na brita, mas precipício abaixo. De fato esse felino fica mais dócil nas faixas baixas do conta-giros. A 2.500 rpm, os 69,3 kgfm de torque já estão disponíveis. E são entregues sem demora, sem retardo. Basta afundar o pé para pular da oitava marcha para a quarta – e em instantes passar dos 200 km/h. A prova de 0-100 km/h é vencida em 4,2 segundos (mais rápido que o 911 Carrera S), a de 80-120 km/h em 2,4 segundos e a máxima é de 300 km/h.

A ótima dinâmica é reforçada pelo peso baixo. São apenas 3 kg/cv. A carroceria é inteira de alumínio hidroformado, e uma peça única vai da coluna A às lanternas, eliminando a coluna B. Dois passageiros viajam com bom conforto e contam com 315 litros de porta-malas – ou 407 até o vidro, o que não muda muito a já péssima visibilidade traseira. No interior, muito luxo. É o primeiro Jaguar sem madeira, mas tem couro até no teto (a não ser que você escolha o de vidro, opcional). A única decepção ca por conta do sistema multimídia, com respostas lentas e gra a dos mapas do navegador que não condizem com um modelo desse nível.

O F-Type Coupé chega ao Brasil ainda neste semestre. Além desse R, que deve custar uns R$ 645.000, a Jaguar o venderá com dois outros motores e parte da eletrônica cortada. A versão básica, V6 de 340 cv, deve custar R$ 395.000; a V6S, de 380 cv, R$ 460.000. Segundo a marca, 90% dos futuros compradores desse cupê nunca tiveram um Jaguar na vida. E parece que não vão se decepcionar.