A série Rota dos Extremos, exibida no Discovery Channel, despertou saudosismo nos amantes do automobilismo. Durante as aventuras do programa de tevê, um dos motoristas que guiaram o Nissan Patrol na gelada Sibéria e na inóspita Malásia foi Mika Salo, piloto de F-1 fi nlandês que nos anos 1990 defendeu escuderias como Sauber, Toyota e Ferrari. Hoje, aos 46 anos, afastado das categorias de ponta, ele continua pilotando por lazer e não pretende abandonar as pistas. Assim como Luciano Burti e Rubens Barrichello, Salo é comentarista em um canal de tevê de seu país, a MTV3. Apesar de não esconder seu descontentamento com a nova profi ssão, ele acredita que seja uma forma de contribuir com o esporte, mesmo de fora do cockpit.

Nascido em 1966 em Helsinki, Salo fez sua fama na F-1 mesmo sem ter vencido uma única prova. A falta de bons resultados não ofuscou o brilho do piloto, respeitado por torcedores da Ferrari e um dos responsáveis pelo título mundial de construtores da equipe em 1999. A oportunidade de vestir o macacão vermelho apareceu cinco anos após sua estreia na F-1, no GP da Áustria. A responsabilidade era grande: substituir por seis corridas Michael Schumacher, que havia quebrado a perna. “Foi um convite incrível. Estava em uma equipe de ponta e a pressão era enorme”, disse à MOTOR SHOW. Mas ele tinha experiência com monopostos. Já havia pilotado para Lotus, Tyrrell, Arrows e BAR desde sua entrada na categoria em 1994. Subiu no pódio duas vezes em seis corridas.

Salo não tem saudades da política que envolve o automobilismo; sempre teve dificuldade para lidar com ela. Após o início de sua carreira no kart, em 1989, ingressou na F-3000 britânica. Mas, no mesmo ano, foi pego dirigindo alcoolizado e teve a superlicença da FIA suspensa. Para esperar a poeira baixar, refugiou-se no Japão, onde disputou campeonatos regionais. De lá, seguiu para a F-1, onde manteve sua rivalidade com  Mika Häkkinen, da equipe McLaren-Peugeot. Uma briga antiga, que vinha dos tempos da F-3000 britânica. Na época, Häkkinen levou a melhor, mas Salo insistia que era mais rápido que o conterrâneo. A história mostrou que ele estava errado, já que seu oponente foi duas vezes campeão do mundo de F-1, em 1998 e 1999. Quando perguntado sobre o desempenho dos finlandeses na categoria, Salo parece não ter superado a briga nas pistas e prefere falar de Kimi Räikkönen (campeão em 2007) em vez de citar Häkkinen. “Os pilotos finlandeses conquistaram bons resultados. Acho o Kimi Räikkönen um talento natural. Ele é rápido em um F-1, um carro de rali ou uma bicicleta. Mas Ayrton Senna é o melhor de todos os tempos”, afirmou, sem citar o adversário.

Piloto da F-1 até 2002 pela Toyota, o finlandês partiu para uma nova empreitada com carros Turismo e de Endurance e se deu bem. Venceu a Classe GT2 das 24 Horas de Le Mans em dois anos consecutivos – 2008 e 2009. “Dirigir em Le Mans é um desafio. Você anda sem tirar o pé do acelerador”, conta empolgado. Suas aparições na pista estão cada vez menos frequentes, mas ele garante que ainda não sabe o que vai fazer quando tiver de parar de correr definitivamente. “Tenho que pensar nisso”, brinca.