Em uma manhã de sábado fria e ensolarada, no início da primavera no Hemisfério Norte, aguardava a liberação do Camaro que MOTORSHOW utilizaria para seu primeiro test-drive. Eu estava próximo de Marina Del Rey, vizinho da praia de Malibu, em Los Angeles, Califórnia (EUA). Quem nos levou para o primeiro contato com a máquina da Chevrolet foi Jesus Sandoval, um mariner que serviu no Exército americano por 26 anos na manutenção da frota de combate que havia trabalhado antes da aposentadoria no conflito do Afeganistão – e agora prestava serviços à GM.

O carro estava coberto, para ficar longe dos olhares curiosos no estacionamento do hotel em que estava hospedado. Mesmo tendo sido lançado em 2009, o carro ainda atrai olhares por onde passa. À primeira vista ele impressiona: suas linhas esguias, as janelas baixas, seu porte avantajado com baixa estatura, as enormes rodas de 20 polegadas e a largura até exagerada dos pneus (245/45 na dianteira e 275/40 na traseira) aumentam ainda mais a agressividade de suas linhas. Impõe respeito a quem o vê e mesmo sem olhar a ficha técnica já é possível concluir que se trata de um carro de alta performance. E essa conclusão não é precipitada: o Camaro SS é um verdadeiro míssil.

Desde sua concepção pelos estúdios de design da General Motors comandados por Edward (ou Ed, como é conhecido) Welburn, o novo modelo foi propositadamente concebido com linhas que nos remetem à versão de maior sucesso da linhagem Camaro, lançada em 1969. A versão atual foi desenhada com recursos que realmente o deixaram com formas bem musculosas. O carro é, sem dúvida, um legítimo muscle car americano. Mostrado pela primeira vez no Salão de Detroit de 2006, arrancou suspiros dos mais puristas, que tinham saudades das fases áureas do Camaro dos anos 70. Foi o sinal verde para a GM lançar o modelo 2009 – para brigar com os também renascidos Ford Mustang e Dodge Charger. Nascia outro mito da Chevrolet.

No mercado americano o carro é oferecido nas versões LS e LT (com motor 3.6 V6 com injeção direta de 306 cv e transmissão manual ou automática de seis marchas) ou SS (apenas com motor V8 de 6,2 litros e injeção convencional que produz 426 hp, também com as duas opções de câmbio). As versões LS e LT podem ainda ser equipadas com um kit chamado RS, que nada mais é do que o pacote de equipamentos que diferenciam o SS dos demais.

O poderoso V8 funciona com apenas duas válvulas por cilindro

Acertada a posição do banco forrado em couro e dos retrovisores, saímos para o esperado passeio pelas avenidas à beira-mar da Marina del Rey e pelas estradas sinuosas dos arredores de Los Angeles. Logo na primeira acelerada já percebi que a performance não é para amadores: o carro acelera forte e o controle de tração (que opera em conjunto com o de estabilidade) ajuda a dosar o torque abundante – são pouco mais de seis segundos para se chegar aos 100 km/h no V6 e menos de cinco segundos no V8. Pura força bruta. A visibilidade não é das melhores, principalmente nas manobras. É o preço da agressividade do seu design. Os freios, a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, têm de série pinças Brembo de quatro pistões na versão V8, mais nervosa. A dinâmica do carro não é a de uma Ferrari, mas é muito boa: com suspensão independente nas quatro rodas, um chassi bem resolvido e uma boa distribuição de peso, o carro é equilibrado e justifica plenamente sua esportividade. O sistema de direção poderia ser mais rápido, mas é suficiente. Conforto? Suspensão relativamente macia, ar digital, bancos que acomodam bem motorista e acompanhante. Só sofre um pouco quem vai no banco traseiro.

De olho nesse sucesso e percebendo o quanto é importante para a Chevrolet ter produtos que despertem respeito por parte do consumidor, a marca resolveu importar o Camaro para o Brasil já em outubro. Certamente, o esportivo será um produto muito mais institucional, para fortalecer a marca no Brasil, do que um carro de grande volume de vendas. Tanto é verdade que, para o Brasil, a montadora importará apenas a versão SS V8, já completa, com todos os opcionais disponibilizados no mercado americano. Em relação ao preço, algumas de nossas fontes falam em algo um pouco acima dos R$ 160.000. Se considerarmos que os importadores independentes vendem o Camaro exatamente com a mesma configuração por valores na casa dos R$ 280.000, o melhor negócio é aguardar até outubro e economizar R$ 120.000. Nesse caso, posso garantir que você fará, sem dúvida nenhuma, um ótimo negócio.

Acima, o interior com instrumentos quadrados, para seguir o desenho retrô da carroceria, o console central com alavanca de câmbio revestida em couro com costuras aparentes e os bancos dianteiros, bem confortáveis. Abaixo, o monstruoso V8 de 6,2 litros que o faz acelerar até 100 km/h em menos de cinco segundos