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O objetivo era confrontar aqui os dois hatches nas versões 1.6 de entrada, equipadas com câmbio manual. Mas o Focus veio na SE Plus (R$ 78.490) e o Golf trouxe os pacotes Comfort e Exclusive (somando inesperados R$ 92.088). O fato é que mesmo os igualando os equipamentos, o Volks é mais caro: com os pacotes Comfort e Elegance, perde em relação ao carro das fotos só o navegador por GPS e a conectividade com Android Auto e Apple CarPlay (itens que o rival vai ganhar só em sua linha 2017) e sai por R$ 88.247. A questão é: será que o Golf vale esses quase R$ 10.000 adicionais?

Bem, o Golf começa a justificar o valor extra já na cabine. Embora sua carroceria seja 10,3 cm mais curta e os porta-malas sejam praticamente iguais, ele é mais espaçoso tanto na frente (onde painel e console não avançam sobre os ocupantes como no rival) quanto atrás (onde ainda tem saídas extras de ar-condicionado). Além disso, seu acabamento é mais sofisticado, com detalhes que imitam aço escovado, além de ter mais couro (opcional) e superfícies macias ao toque. Até seus porta-objetos são revestidos de carpete para evitar ruídos, um cuidado com detalhes raro, e que não é visto no Focus – que ainda peca por não ter nem ao menos luzes de leitura básicas.

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Para completar, no Golf os comandos ficam muito bem posicionados e são mais intuitivos de usar, principalmente os da central multimídia (que ainda tem tela maior e sensível ao toque). Na mecânica, embora o 1.6 do Focus seja até 15 cv mais potente que o do Golf, o torque é quase igual. Em desempenho e consumo absolutos, ambos mostram números bastante similares (em nossas medições obtivemos as mesmas acelerações de 0-100 km/h). Mesmo assim, são diferentes ao volante. O Focus entrega sua força antes, garantindo saídas e respostas ligeiramente mais imediatas, mas é mais áspero e fraqueja em médias rotações.

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Já o 1.6 do Golf, também 16V, é mais elástico e cresce de rotação de modo linear e progressivo, exigindo menos trocas de marcha. Nas transmissões, ambos têm engates justos e alavancas curtas e altas, bem à mão, mas a vantagem é do Golf. As relações mais longas, principalmente da quinta marcha, ajudam a conter tanto o consumo quanto o ruído na cabine. A 120 km/h constantes, seu conta-giros estaciona em 3.000 rpm (quando no Focus já beira 3.400 rpm). A direção também é mais progressiva e refinada no Golf. Ambas têm assistência elétrica, mas a do Volks até parece hidráulica, com peso sempre mais correto e retorno impecável.

Já a do Focus é muito leve nas manobras (o que é bom) e mais direta que a do rival, mas ganha peso de modo “artificial” e não é assim tão comunicativa. Nos freios, ambos contam com discos nas quatro rodas, mas o Golf responde de modo mais suave (alguns acham sua resposta até “emborrachada” demais), enquanto o pedal do Focus é notadamente mais sensível. Já as vantagens do Focus aparecem principalmente no comportamento dinâmico. Culpa, em grande parte, do “barateamento” que o Golf sofreu com sua nacionalização. Ao trocar a suspensão traseira multilink pelo (mais barato) eixo de torção, o Volks perdeu em parte uma de suas maiores qualidades – a dinâmica apurada.

Já o Ford tem suspensão traseira independente, que faz diferença principalmente nas curvas mais rápidas. Onde o Focus consegue entrar firme e forte, o Golf deita um pouco mais sua traseira. Nada grave, mas considerando que boa parte dos compradores de hatches médios gostam justamente da esportividade que oferecem, pode decepcionar (e nesse ponto vale lembrar que a direção do Ford também é mais direta, “afiada”). Devido também à suspensão modificada, o Golf tem uma tendência maior a sair de frente (subesterço), enquanto o Focus é neutro ao extremo.

O que ajuda, nesse caso, é que só o Golf tem o diferencial eletrônico XDS, que consegue corrigir a trajetória sem que o carro precise recorrer às interferências mais duras dos controles de estabilidade (que ambos têm). Outra vantagem na segurança do Golf e que também ajuda a justificar o preço mais alto está nos airbags de cortina, que o Focus não oferece (vai ganhar apenas na linha 2017) – e são importantes para os ocupantes traseiros, principalmente. Mas se as suspensões do Focus são mais sofisticadas construtivamente e mais competentes em curvas, elas pecam pelo nível de ruído. Em ruas um pouco mais esburacadas ou nos defeitos do asfalto, ouve-se muito mais o trabalho delas do que o das do Golf – que ainda mostram mais robustez.

As batidas secas que o Focus dá em buracos maiores não se repetem no rival (um dos argumentos da Volks para a mudança estaria justamente nessa maior robustez do eixo de torção). O Golf é o melhor carro, considerando o conjunto. Mas é menos equipado ou mais caro (assim como suas peças). Pensando só na relação custo-benefício, portanto, o Focus é a melhor compra. E embora o Golf até justifique o que custa a mais quando são igualados os equipamentos, lembre-se que pelo valor do Golf equivalente em itens ao Focus SE Plus 1.6 você leva a mesma versão do Focus, mas com motor 2.0 de até 178 cv e câmbio automatizado de dupla embreagem. Um Golf assim sai por mais de R$ 100.000 – e, novamente, até justifica o valor extra.

PS: a Ford anunciou que a linha 2017 do Focus terá melhorias na lista de equipamentos e nova central multimída (essa versão SE Plus ganhará o sistema Sync3; leia mais aqui). Até o fechamento dessa edição, porém, não divulgou os preços.