Demorou, mas a Ford finalmente decidiu trazer o Mustang para o Brasil. Ele será a grande atração da marca no Salão de São Paulo – e vem em dose dupla, nas carrocerias fastback (cupê) e conversível. A versão escolhida foi a GT 5.0, que tem motor V8 aspirado de 441 cv de potência e 55 kgfm de torque. Dirigimos o novo Mustang num roteiro de 400 quilômetros na Califórnia. Nesse primeiro test drive mundial do novo Mustang, a versão 2.3 EcoBoost também estava disponível, mas cou claro que os 310 cv do motor 4 cilindros turbo não empolgariam os brasileiros. Da mesma forma, o Mustang V6, de 3,7 litros e 304 cv, não será importado.

O Mustang dessa sexta geração é um carro totalmente diferente do modelo da geração anterior. Pela primeira vez, depois de 50 anos de produção ininterrupta e mais de 9 milhões de unidades vendidas, o Mustang foi pensado para ser global desde o primeiro parafuso. O fato de querer romper as fronteiras dos Estados Unidos fez muito bem ao mitológico carro da Ford. A principal modificação técnica ocorreu nas suspensões. Nessas cinco décadas, o Mustang nunca deixou de ser um “muscle car” tipicamente americano, com motor potente, mas pouca aptidão para as curvas – afinal, nas free ways americanas as curvas são basicamente abertas, de raio bastante longo. Para rodar na Europa e no Brasil é preciso ser bom de curvas. E o novo Mustang é. Ele agora tem suspensão independente nas quatro rodas, o que o deixou mais firme na traseira e com uma pegada excelente, conforme pudemos comprovar em estradas sinuosas.

O interior do Mustang é agradável e tem bom espaço para motorista e passageiro. Atrás, só cabem duas crianças pequenas (trata-se de um 2+2). A posição de dirigir é tipicamente esportiva, com o volante bastante inclinado, na altura do peito do motorista. Mas o banco, estranhamente, só tem ajuste elétrico no encosto, o que é uma falha inadmissível para um carro que poderá custar R$ 250.000. Da mesma forma, o motor V8 não aplica o sistema de desativação de quatro cilindros quando o carro está em baixa velocidade. E também não tem sistema start/stop (o botão com essa inscrição no painel é apenas para ligar ou desligar o motor). Por outro lado, existem quatro botões no centro inferior do painel que permitem configurar a leveza do volante e o acerto da suspensão – o carro fica mais duro à medida que fica mais esportivo. Outra opção é desligar o controle de estabilidade para dirigir no modo Race (corrida). Só não gostei da posição dos pedais do freio e do acelerador – um pouco distantes para fazer punta-taco (frear e acelerar ao mesmo tempo só com o pé direito). Ainda no interior do carro, destaque para o excelente navegador por GPS e para o airbag de porta-luvas, uma inovação (sem eliminar esse compartimento). O espaço para latinhas, garrafas e celular é muito bom.

Para além de oferecer uma ótima aceleração (0-100 km/h em 5,5 segundos), o motor 5.0 V8 emite um ronco forte e agradável aos ouvidos do motorista. O carro desenha as curvas com bastante e ciência e quase não rola a carroceria, mas não tem a suspensão dura – pelo contrário, é bem confortável, o que vale um elogio aos engenheiros da Ford. Da mesma forma, os designers estão de parabéns por conseguirem dar ao Mustang a linguagem visual dos novos modelos globais da Ford sem perder a exclusividade que esse carro merece. A frente ficou bastante agressiva e muito bem resolvida com três luzes verticais de LED, assim como na traseira as lanternas mostram as luzes vermelhas verticalmente.

Para o Brasil, a única versão importada será a GT 5.0 fastback com o Pack Performance, trazendo todos os equipamentos topo de linha, adereços esportivos e as rodas pretas. Mas sua vinda dificilmente ocorrerá antes do último trimestre de 2015, pois os desafios técnicos para trazer um carro esportivo de 441 cv para rodar no Brasil não são pequenos. Questões como a gasolina com 25% de etanol e estradas ruins estão sendo consideradas com atenção pela Ford brasileira. Mas uma coisa é certa: ao contrário do Chevrolet Camaro – que foi tema de música sertaneja, está amplamente distribuído e se popularizou –, o Mustang quer ser um carro mais seletivo.

Quanto ao preço, por mais que a Ford tenha convicção de que o novo Mustang é um carro superior ao Camaro (por ser mais estável, confortável e amigável ao volante) e que não vai usar a mesma estratégia de vendas da GM, o preço dificilmente poderá ficar acima de R$ 250.000. Com muito boa vontade, poderia chegar a R$ 260.000. Para se ter uma ideia, o Camaro cupê custa R$ 222.096 e o conversível sai por R$ 239.900. Por outro lado, a Ford não poderá posicionar o novo Mustang como concorrente direto dos esportivos alemães, pois, apesar da grande potência do motor V8, o carro está tecnicamente abaixo do trio Audi/BMW/Mercedes. A lição de casa não será pequena, pois não basta ter um bom carro, é preciso posicioná-lo no lugar certo e com o preço certo.