Um começo extraordinário

Nas Seis Horas de Spa, primeira prova disputada, o Audi e-tron quattro conquistou o segundo e o quarto lugares, atrás do R18 Ultra; nas 24 Horas de Le Mans, em junho, os dois Audi e-tron dominaram a corrida e conquistaram o topo do pódio

A edição deste ano das tradicionais 24 Horas de Le Mans seguiu pela estrada da inovação tecnológica, agora de olho em soluções ecológicas. Um processo, aliás, quase obrigatório para as principais categorias do automobilismo mundial. Em 2014, até mesmo a F-1 adotará motores turbo de baixa cilindrada (1,6 litro), em conjunto com sistemas de recuperação de energia mais evoluídos que o Kers atual. A corrida de longa duração, que já inovou com os motores rotativos da Mazda (1991) e com os turbodiesel (vencedores desde 2006), agora deu uma chance aos híbridos. Este ano, ao lado de motores a diesel e a gasolina de grande cilindrada estavam veículos dotados de sistemas de recuperação de energia cinética. O novo regulamento prevê a adoção de um dispositivo de recuperação de energia da frenagem – e no circuito francês elas são particularmente violentas próximo à chicane que quebra a reta – para que seja reutilizada na fase da aceleração.

Uma história de muitos acidentes

A Toyota anunciou no ano passado sua participação no Mundial de Endurance 2012 com o TS030 Hybrid; o modelo passou então por testes no circuito francês de Paul Ricard, mas um sério acidente com Nicolas Lapierre acabou atrapalhando o desenvolvimento do bólido. Nas 24 Horas de Le Mans, novos acidentes tiraram os dois Toyota da corrida.

Evolução e revolução

Acima, o Audi R18 Ultra, que ficou em terceiro lugar, atrás dos dois e-tron quattro (na página ao lado). Com uma carroceria modificada e uma nova caixa de câmbio de fibra de carbono, foi uma evolução do modelo do ano passado. Abaixo, o “batmóvel” da Nissan, o DeltaWing, que, envolvido em um acidente com um dos Toyota, não terminou a corrida

A energia suplementar pode ser transferida para as rodas dianteiras ou traseiras, com algumas condições: para ser considerado híbrido, o carro deve percorrer a pista inteira dos boxes a 60 km/h usando somente a energia do sistema de estoque. Além disso, a quantidade de energia restituída entre duas frenagens (cada uma com desaceleração superior a 2g e com duração de mais de um segundo) não pode superar os 500 kJ por seis segundos. Se o dispositivo estiver ligado ao eixo dianteiro, a liberação de energia é permitida somente acima dos 120 km/h.

Líder histórica em automóveis híbridos, a Toyota não perderia essa oportunidade para promover e testar seu novo carro experimental, o TS030 Hybrid. Já a Audi, que acumula dez vitórias em Le Mans, de 1999 até hoje, decidiu somar à sua arma tradicional, o R10 TDI, vencedor de 2011 e rebatizado de Ultra, uma versão híbrida chamada e-tron quattro, com tração integral.

As fabricantes escolheram caminhos diferentes: os alemães não poderiam renunciar ao turbodiesel nem investir no desenvolvimento de um novo motor à gasolina. Assim, tanto o R18 Ultra quanto o R18 e-tron terão o conhecido V6 turbo de injeção direta a diesel, com quatro válvulas por cilindro, restrições no sistema de admissão e diminuição da pressão do turbo para 2,8 bar, já que o regulamento de 2012 determinou um decréscimo de 7% na potência. Com 3,7 litros, esse seis cilindros alemão desenvolve 510 cv de potência com torque de 86,7 kgfm. Números importantes, considerando o fato de esses carros precisarem funcionar sem parar por 24 horas, percorrendo cerca de 5.400 quilômetros a uma média de 225 km/h. A esse propulsor vai combinado um câmbio sequencial de seis marchas alojado em uma inédita caixa de fibra de carbono. O e-tron quattro tem ainda um acumulador elétrico e um motor gerador elétrico de 204 cv. Na saída da curva, quando supera os 120 km/h, o sistema, sem atuação do piloto, transmite energia às rodas dianteiras.

A Toyota apresentou uma solução diferente, optando por um conjunto híbrido formado por um V8 aspirado à gasolina de 3,4 litros associado a um pacote denominado THS-R, que prevê um condensador Nisshinbo e dois motores elétricos, um dianteiro da Aisin AW e um traseiro da Denso. A energia recuperada é desfrutada alternadamente por cada um dos motores: pelo traseiro, para garantir mais potência nas retas e em trechos velozes, e pelo dianteiro, para garantir mais tração nas saídas de curva. O regulamento não permite que sejam usados simultaneamente.

Patrocínio:

Na prova quem se saiu melhor foi o Audi e-tron quattro, como era de esperar – a marca venceu seis das últimas sete provas. Mas, independentemente de resultados, o que se vê é que este será, sem dúvida, um ano de aprendizado: para a Audi, para a Toyota e para o automobilismo de ponta como um todo.