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O melhor sedã do Brasil o consumidor já escolheu. Em março faz exatos dois anos que a quinta geração do Toyota Corolla chegou, desbancou o então líder Honda Civic e dominou o mercado. No ano passado, foi campeão absoluto de seu segmento, com incríveis 36% de market share, e o décimo carro mais vendido no País. Compreensível, pois de fato na faixa até R$ 90.000 não havia mesmo opção melhor. Mas este ano tudo muda. Novos e modernos sedãs chegam surfando na onda do downsizing e trazem motores menores e turbinados no lugar dos tradicionais 2.0 ou 1.8 (sem versões aspiradas e turbo convivendo).

Os mais temidos são os novos Honda Civic – maior ameaça ao Corolla – e Chevrolet Cruze. Mas o primeiro a chegar é o VW Jetta. No mês passado, ele aposentou de vez o arcaico 2.0 8V (seu maior defeito) e adotou um moderno 1.4 TSI. Será a mudança suficiente para virar o jogo e destronar o “imperador” Corolla? Na MOTOR SHOW, o único comparativo que esse Corolla já perdeu foi da injustificada versão Altis,de R$ 102.990. Um de seus algozes foi justamente o Jetta – que nessa faixa tem a opção Highline 2.0 TSI de 211 cv. Mas a briga aqui é entre as configurações mais procuradas pelo consumidor e com desempenho e preços mais parecidos.

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O Corolla XEi é a versão mais acessível com o motor 2.0. Ele é vendido por R$ 89.990, quase exatamente os R$ 89.750 do Jetta 1.4 TSI Comfortline “básico” – o carro avaliado, com todos os opcionais, sai por R$ 100.350 (já a versão Trendline, de R$ 78.230 com câmbio manual ou R$ 83.630 com a caixa automática, é bem menos equipada). Em equipamentos, cada um tem suas vantagens. O Jetta tem sensores de estacionamento, o Corolla tem câmera de ré; o sedã alemão tem porta-luvas refrigerado, o japonês tem tevê digital… (detalhes na tabela “Equipamentos”).

O problema do Volks é que só com o pacote Exclusive, de R$ 6.470 extras, ele ganha alguns itens de série do rival – e “básicos” nessa faixa de preços –, como bancos de couro, GPS e ar-condicionado automático (o pacote engloba toda sua ampla lista de opcionais, menos o teto, que custa R$ 4.120 extras). O design é bastante discreto – principalmente no caso do Jetta – e as dimensões são quase iguais. O Toyota tem entre-eixos maior, o Volks ganha na capacidade do porta-malas. Já no espaço interno, na frente o Jetta é mais amplo e tem melhor posição de dirigir, graças aos ajustes mais amplos do volante.

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Atrás, o Corolla tem vantagem do assoalho plano, bom para o quinto passageiro (o Jetta tem túnel alto, mas compensa com as saídas de ar-condicionado traseiras). No acabamento, a disputa também é equilibrada. Os detalhes em alumínio do Jetta são mais finos que a imitação de carbono do líder, há carpetes nos porta-objetos (reduzem ruídos) e o apoio de braços é ajustável. O Corolla, por outro lado, tem mais couro, desde a cobertura do painel até as portas (onde há grande quantidade do material, enquanto o rival tem só no apoio de braço e detalhes).

A central multimídia, porém, embora mais completa, é ruim de ver, pois reflete muita luz – além de ter respostas lentas e interface confusa. Mas o grande argumento do Jetta nessa disputa é a nova motorização. Afinal, a evolução na dirigibilidade foi marcante. Seu 1.4 não é flex, verdade, e a potência é similar à do Toyota, mas o fato de ser turbinado garante muita força em baixas rotações e consumo baixo. São 5,2 kgfm a mais que no Corolla, e disponíveis em baixíssimas rotações. Isso se sente tanto na cidade quanto na estrada.

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No Jetta você acelera um pouco e após um discreto turbo lag ele responde forte e silenciosamente. É raro passar de 2.000 rpm. No Corolla, até aceleradas suaves levam o motor até 3.500/ 4.000 giros, e dá para ouvi-lo mais na cabine. Os dados de consumo oficiais mostram empate na cidade e boa vantagem do Jetta na estrada. Durante a avaliação, o Volks superou 10 km/l no uso urbano e 16/17 km/l no rodoviário; o Corolla, com gasolina, não passou muito de 9 e 14,5 km/l, respectivamente.

Pisando fundo, o Jetta empolga mais. A diferença de desempenho não é dramática – o Jetta ganha por um segundo no 0-100 km/h –, mas o motor turbinado é mais divertido, com respostas e retomadas mais vigorosas. O câmbio CVT do Corolla é um dos melhores do mercado, com saídas e trocas rápidas e sete marchas virtuais (que enganam bem, principalmente no modo Sport). Nas retomadas, porém, o motor do Corolla sobe muito de giro e a transmissão patina – o que não ocorre no automático tradicional de seis marchas do Jetta, também rápido nas trocas sequenciais.

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Na estrada, a 120 km/h, ambos rodam a 2.100/2.200 rpm. No Jetta se ouve mais o vento. No Corolla, o motor. O Jetta ainda tem suspensões mais sofisticadas – independentes nas quatro rodas, seguram mais a carroceria nas curvas – e a direção é ainda mais precisa (não que a do Corolla seja ruim). Coisa para quem quer um sedã com mais sal para pegar uma serra sem a família. Nessas situações (e em muitas outras) o Volks ainda tem a vantagem de oferecer de série em todas as versões o controle de estabilidade (ESP), um item de segurança essencial e ausente no líder de vendas (mesmo na versão Altis), e o diferencial com bloqueio eletrônico (XDS).

Na mecânica e no rodar, portanto, o Jetta supera com facilidade o queridinho do mercado no último ano. Mas o Corolla revida na manutenção. Até 30.000 km, as revisões custam R$ 1.141, contra R$ 1.859 do Jetta. E enquanto a Toyota exige visitas anuais, na Volks elas são semestrais (penalizando quem roda pouco). No caso dos preços das peças, a coisa fica ainda pior: um pacote de oito itens do Jetta sai por assustadores R$ 15.983, contra R$ 4.068 no caso do Corolla.

Exemplos: os quatro amortecedores custam R$ 4.176 no Volks e R$ 971 no Toyota, enquanto o par de pastilhas de freio sai por R$ 776 e R$ 210, respectivamente. O Corolla não é líder à toa, mas o Jetta agora tem bons argumentos – principalmente em prazer ao dirigir e consumo – para roubar seus clientes. Por outro lado, peca nos itens de série e tem manutenção muito mais cara. Depois de dirigir os dois, você vai querer comprar o Jetta. É o melhor carro, sem dúvida. Mas a razão – e principalmente o bolso – talvez o façam acabar optando pelo Corolla.

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