O Camaro é grande, consome muito, não é ágil e tem um enorme “V-oitão” sob o capô. Essas características já mostram que ele não está nem aí para o mundo ecologicamente correto. Nem poderia. Essas peculiaridades são sua fórmula de sucesso desde que foi lançado, nos anos 60.

Rodar com o Chevrolet é como ir a uma festa fantasiado de Papai Noel. Todos olham, apontam, sorriem, comentam. Todo o visual, apesar de moderno e atraente, tem um ar retrô. Até a pouca visibilidade é um charme. Mas o que mais gostei foi do seu comportamento selvagem. Mesmo com controle de tração, é possível sentir a fúria do motor V8 6.2 despejando seus 406 cv e 56,7 kgfm de torque no eixo traseiro.

Para otimizar o consumo (eis uma preocupação ambiental!), o modelo conta com um sistema de injeção que desliga quatro cilindros em velocidade de cruzeiro. O câmbio automático de seis marchas sequencial é bem escalonado e auxilia na missão de economizar. Fazer as trocas no volante é uma diversão à parte. Pode-se guiar de maneira ainda mais esportiva.

Em um dos dias em que utilizei o carro, com asfalto molhado, me certifiquei de que o controle de estabilidade estava acionado e não hesitei em afundar o pé no acelerador, bem no meio de uma curva. Senti que a traseira queria fazer a curva antes da frente, mas, quanto achei que fosse perder o controle, senti o sistema trabalhando. Seus controles de estabilidade e tração, quando ativados, ficam em uma espécie de modo de vigilância: permitem certas estripulias, mas retomam o controle na hora H. Eu mesmo só não me senti o piloto domando aquele carro porque conhecia a “pegadinha”.

Mesmo sem deixar de lado esses atributos de sua origem, o Camaro oferece relativo conforto para quem viaja na frente e uma relação de equipamentos razoável. É claro que um carro desses não é a melhor opção para uso diário, o espaço atrás é escasso e não são raras as vezes em que o modelo raspa em lombadas. Por isso, ele não seria minha opção. Como veículo para o dia a dia, ficaria com o Passat CC, que custa quase o mesmo. Como segundo carro… aí, sim, ele cairia bem.

O painel limpo preserva a mesma linha retrô que aparece na carroceria. As borboletas no volante permitem trocas sequencias do câmbio, aumentando a sensação de esportividade, ratificada pelos bancos com abas de apoio e pelos relógios com pressão de óleo e temperatura, entre outros

As tradicionais linhas de cupê comprometeram o espaço traseiro

CONTRA PONTO

● Só tive coragem de descer para o subsolo do meu prédio com este Camaro uma vez. A raspada no fundo, entre os eixos, foi tão assustadora que não arrisquei mais. O enorme capô dianteiro prejudicava seriamente a visibilidade, escondendo os buracos que faziam sofrer as grandes rodas com pneus baixos. Com a carroceria larga, ainda tinha que tomar muito mais cuidado que o normal com os motoqueiros. Este Camaro não é nada prático e eu já começava a não gostar nada dele. Mas aí, pensei: seu habitat não é uma cidade como São Paulo (apesar de permitir uma condução relativamente confortável). Decidi, portanto, cair na estrada. Foi onde ele mostrou para o que serve. Como o Rafael Freire, me deliciei com as escapadas controladas da traseira (que podem ser bem acentuadas com a opção de acerto esportivo do ESP). Mas o melhor mesmo foi acelerar tudo e sentir o enorme V8 fazer seu trabalho. Não gosto do desenho do Camaro, e ele ainda é apertado e grande demais. Não o compraria, por mera questão de gosto, mas o recomendaria.

Flavio R. Silveira| Editor-assistente

OS CONCORRENTES

 

Challenger SRT-8

“Se a intenção é experimentar a força bruta de um V-oitão americano, vá de Dodge. Mas o Camaro é mais refinado e confortável”

Ana Flávia Furlan

 

Lancer Evo X

“Oferece mais que um motor e uma cara de mau. Ele foi pensado como esportivo, em todos os sentidos, inclusive no chassi”

Rafael A. Freire