Você pode até ser partidário da máxima de que gosto não se discute, mas, nesse caso, terá que descer do muro. Olhe este BMW e responda: o design o agrada? É que, do meu ponto de vista, a paixão pelas linhas exóticas do modelo são a única justificativa para você sair de uma loja BMW a bordo desse carro – misto de SUV com cupê – considerando que estaria renunciando a um autêntico SUV (no caso, o X5 V8 4.4) e a um legítimo cupê (o Z4 3.0). Todos eles, vale lembrar, vendidos por mais de R$ 320 mil, praticamente o mesmo valor do X6.

Misturando propostas tão distintas, a BMW criou um carro que não fica nem cá nem lá. A justificativa da marca é que o X6 é um esportivo. Mas não é. Não tem altura de esportivo, Cx de esportivo, vão livre de esportivo, peso de esportivo… Tem sim um motorzão seis cilindros em linha, biturbo, com injeção direta e potência e torque para levá-lo de zero a 100 km/h em 6,7 segundos e à máxima de 240 km/h. E tem uma dinâmica exemplar: faz curvas como um automóvel e se mantém sempre preso ao chão. Isso tudo é verdade. Mas é verdade também que o X5 não fi ca atrás. Com seu motor de 355 cv (pelo preço do X6), acelera de zero a 100 km/h em 6,5 segundos e também atinge 240 km/h.

Por que o X6 é mais esportivo que ele? Por que tem o teto mais baixo? Na verdade, o X6 é mais largo, a bitola traseira é maior que a dianteira, a distância do solo é menor e tem um sistema que divide o torque não só entre os eixos dianteiro e traseiro, como também entre as duas rodas traseiras, dependendo da situação. Mas tanto o X5 quanto o X6 oferecem uma segurança dinâmica tão além do que o motorista comum vai precisar, que as vantagens do segundo desaparecem no uso diário. O que fica latente são suas desvantagens. Espaço só para quatro pessoas (o X5 carrega sete), bagageiro menor, visibilidade traseira ruim, largura exagerada, pouco espaço para a cabeça de quem vai atrás, volante pesado, suspensão dura…

É um bom carro? Sem dúvida. Tem todo o conforto e tecnologia que um BMW de mais de R$ 300 mil pode oferecer. Se eu compraria? Só se tivesse me apaixonado pelo design, o que não é o caso. Racionalmente, ficaria com o X5 ou, se estivesse a fim de um esportivo, compraria o novo Z4 ou um Porsche Boxster…

À direita, o interior impecável. Abaixo, o volante com borboletas para trocas de marcha e os botões do freio de estacionamento e dos controles do sistema multimídia, juntos da alavanca de câmbio

Abaixo, os comandos do ar e do sistema de

som e tevê, e os dois bancos traseiros

Uma câmera na traseira mostra imagens no painel para ajudar nas manobras

A traseira chama a atenção, mas, alta demais, prejudica a visibilidade. As linhas de cupê limitam o espaço para a cabeça nos bancos traseiros

CONTRAPONTO

● Concordo com a Flávia em relação à estranha proposta do X6, que mistura duas carrocerias com um resultado de gosto duvidoso. Na cidade, também me incomodaram o volante pesado, a largura excessiva e a visibilidade ruim. Seu lugar sem dúvida é a estrada, onde a frente imponente faz os demais carros darem passagem rapidamente e a rodagem é confortável – desde que o asfalto seja bom, pois qualquer irregularidade já incomoda. O comprador de X6 deve ser aquele que busca status acima de tudo, e nisso este BMW é quase incomparável. É impressionante o quanto as pessoas olham, apontam e elogiam o carro. Em um estacionamento, o recepcionista estranhou o design e me perguntou “Que carro é este?” – logo depois, vi que no meu recibo estava escrito Citroën, provavelmente pela fama da marca de fazer carros com design “diferente”. Parece que a marca francesa não está mais sozinha nesse aspecto.