Porquinho e papagaio nos carros. Será uma brincadeira interna da equipe ou mandinga para vencer o GP Brasil?

Todos os anos, o autódromo de Interlagos (SP) vira uma verdadeira cidade por conta do circo da F-1. Gente – muita gente -, do mundo inteiro, circula por lá. A língua oficial é o inglês, o que não impede que aquilo vire uma torre de Babel. O francês, o alemão e o português são constantemente ouvidos.

Enquanto os mecânicos e engenheiros correm de lá para cá, os turistas aproveitam para tirar fotos. Qualquer imagem vale como uma bela recordação. Para ver tudo isso é preciso ter uma credencial, seja ela de imprensa, seja da área VIP, o Paddock, uma espécie de terraço do circuito. Lá ficam executivos, celebridades e endinheirados em geral.

Alguns aproveitaram o treino livre de sexta-feira para fazer testes. Foi o caso do baiano Luiz Razia, que compete na GP2 e é o terceiro piloto da Lotus. “Foi muito bom e estou aberto a negociações”, disse à MOTOR SHOW em uma empolgação quase tão grande quanto a do público que o acompanhava. É contagiante. Os expectadores se empolgam até com o carro madrinha. “Oh, my God, is a AMG!”, berrou um boliviano diante do Mercedes SLS. Coisas de corrida.

Falar com os mecânicos é quase impossível. Eles são bem fechados e, às vezes, parecem até meio arrogantes. Qualquer tentativa de fotografar o carro ou se aproximar do boxe é vista como uma possível espionagem. Para fazer as imagens que ilustram estas páginas, levei vários empurrões e ouvi até alguns xingamentos. Os pilotos andam apressados, com as mangas do macacão amarradas na cintura, mas são acessíveis. Param para falar com qualquer “mortal” que os aborde. Foi assim que consegui duas entrevistas exclusivas naquele fim de semana: uma com Bruno Senna (no quadro ao final desta reportagem) e outra com Jackie Stewart (na seção Personagem, pág. 82).

Cenas constantes no circo da F-1: carro com a placa Fuel In (em abastecimento), mecânicos limpando peças nos boxes, rodinhas de conversas (nem sempre sérias) dos mecânicos e engenheiros no cockpit

No domingo, o burburinho é quebrado quando o primeiro motor dá a partida. Ah, música! Uma “sinfonia” forte e aguda que obriga o uso do protetor auricular. É impossível descrever a sensação. Já na sala de imprensa, os jornalistas ficam protegido do ronco quase ensurdecedor por um vidro à prova de som. Entre um sanduíche e um refrigerante, os olhos dos profissionais estão fixos nos monitores.

Terminada a corrida, depois de Mark Webber subir no mais alto degrau do pódio, começam as coletivas de imprensa. Em final de temporada, todos querem fazer balanços, sem afirmar nada de concreto para o futuro. “Só preferia ter um campeonato mais competitivo até o final. Vivencio uma situação difícil na Ferrari. Mas não foi por causa do acidente de 2009. Temos reuniões, muitas cobranças e vamos trabalhar para tudo voltar como era antes”, disse Felipe Massa, da Ferrari. “Temos consciência de que a Red Bull está a anos-luz da gente. Agora é esperar por 2012”, disparou seu colega de escuderia Fernando Alonso. O piloto Lewis Hamilton, da McLaren, interrompe a coletiva e dá um abraço em Massa. É o desfecho de uma disputa acalorada nas pistas durante todo o ano e que parecia ter azedado o relacionamento entre eles. “Eu não tenho problemas com ninguém, mas esperava essa atitude”, disse o brasileiro.

 

À esq., o mecânico tenta esconder os acertos na Ferrari. À dir., Barrichello descontraído com os filhos

Rubens Barrichello também falou sobre 2012. “Não estou preparado para parar de correr. A equipe trabalha muito bem e a minha experiência conta muito. O que faltou foi um carro mais competitivo”, afirmou o brasileiro. “Para ser bem realista, possivelmente eu continuarei na equipe Williams”, concluiu.

Ao final, mais corre-corre. Agora, para desmontar o circo. Começa a contagem regressiva para 2012: mais trânsito, mais aglomeração, mais 36 horas de trabalho e mais um pouco dessa incrível sensação de alegria que só um apaixonado por automobilismo pode entender.

Fazer fotos do bico ou do desgaste dos pneus é uma tarefa difícil. Abaixo, o carro sendo empurrado mostra que o circo começa a ser desmontado

 

Bruno Senna

Em entrevista exclusiva, o piloto da equipe Renault disse estar bastante satisfeito com o desempenho de seu carro em Interlagos. “É uma pista difícil e das mais competitivas. O carro estava ótimo. Todos ficaram satisfeitos. Apenas queria que tivesse chovido”, resumiu. Sobre a temporada de 2012, o brasileiro, que ainda não é presença confirmada, foi enfático: “Teremos que começar do zero e apagar o que aconteceu em 2010. É importante superar as dificuldades e ir atrás dos resultados.” Com relação à punição por bater no carro de Schumacher, rebateu.”É a típica atitude para desencorajar os pilotos”