O brasileiro, em geral, tem uma forma peculiar de escolher seu automóvel. Segundo especialistas em marketing das montadoras, diferentemente dos americanos e europeus, não somos apegados a segmentos. Não nos mantemos fiéis a hatches ou sedãs, por exemplo. Escolhemos o carro que gostamos e está dentro do orçamento, sem nos importarmos muito com as formas da carroceria. Um dono de uma minivan pode trocá-la, sem maiores problemas, por uma picape. Ou pular de uma perua para um compacto. Quantas pessoas solteiras você conhece que dirigem carros grandes como um SUV? Isso, acredite, não é normal.

Apesar dessa flexibilidade, há momentos em que a realidade impõe limitações às nossas escolhas. Um casal tem muitas opções: de um city car como o smart até utilitários como o Range Rover. Mas quando chegam os filhos e a família começa a crescer, as prioridades mudam. E vem o dilema: como conciliar as necessidades de todos em um só produto? Como aliar conforto, segurança, praticidade com doses mínimas de diversão ao volante? Um carro grande nem sempre é garantia de problemas resolvidos.

Para tentar solucionar essa questão, avaliamos carros entre R$ 70 mil e R$ 80 mil de seis categorias: um crossover, uma picape, uma minivan, um SUV, uma perua e um sedã (con ra os selecionados ao lado). Vale frisar que comparamos aqui mais os segmentos do que os carros em si. A ideia era descobrir qual deles é capaz de agradar ao pai, à mãe e aos filhos de uma família de quatro pessoas. Será que algum consegue esse feito?

Peugeot 3008 Allure Fipe / Motor Show R$ 80.050

Quase o ideal

Ele não mima a família tanto quanto a minivan, mas se redime com o desempenho digno de um hatch

Os crossovers, em geral, têm potencial para ótimos familiares. O Peugeot 3008 é um dos melhores exemplos da categoria no Brasil e, sem dúvida, um dos melhores carros para a família vendidos hoje. Misto de hatch, perua, SUV e monovolume, ele oferece tudo que um carro precisa para carregar crianças e adolescentes com espaço e conforto, sem tirar do motorista a diversão ao volante.

O motor 1.6 16V turbo tem 156 cv e 24 kgfm a 1.400 rpm. Melhor do que o da maioria dos 1.8 e até alguns 2.0. Unido ao eficiente câmbio automático de seis marchas e às suspensões que privilegiam a tocada esportiva, esse propulsor faz você se esquecer que está em um carro tão grandalhão. E a dirigibilidade lembra a de um hatchback.

Por dentro, preocupação com o bem-estar em todos os detalhes, a começar pela luminosidade: o para-brisa é enorme. Há porta-objetos por todos os lados: nas portas, no console, sob o volante, sob o assoalho traseiro… No total, são 50 litros de espaço dentro do habitáculo e há ainda três tomadas de 12 volts. Nos bancos traseiros, duas crianças nem chegam a se tocar.

O assento central vira um apoio de braço com porta-copos (ou dá acesso ao bagageiro). E os pequenos têm ainda saídas de ar, porta-revistas e cortina quebra-sol na versão top (a mola pode ser perigosa para as crianças). Para as cadeirinhas de bebê, há o sistema Isofix, mais prático e com engate rápido e seguro, já que vem preso ao chassi do carro. Só falta um espelho vigia para monitorar as crianças no banco de trás. O porta-malas de 512 litros e abertura dupla acomoda tudo o que uma família necessita e tem um sistema semelhante a prateleiras com três andares para a carga. Para completar, na segurança, oito airbags, ABS, controle de estabilidade e sensor de estacionamento, entre outros.

Chevrolet S10 Fipe / Motor Show R$ 69.732

Não convence!

Mesmo nas versões cabine dupla, as picapes mais baratas não são as melhores opções

A S10 é o melhor exemplo de que medidas exageradas não fazem um familiar. Como veículo para a família, uma picape, mesmo cabine dupla, não é ideal. No habitáculo do modelo da Chevrolet, quatro pessoas vão bem, mas sem conforto. Os porta-objetos são poucos e não há airbags traseiros, engate para cadeirinhas de bebê e nem saídas traseiras de ar-condicionado. A caçamba pode ser encarada como um enorme porta-malas, mas tem limitações.

A carga fica desprotegida e normalmente é complicado abrir e fechar a cobertura para alcançar as compras. Assim, o habitáculo acaba sendo usado para as tralhas do dia a dia. A mecânica também não ajuda a fazer as pazes com a família. Essa picape impõe um pula-pula interminável e exige uma direção cautelosa, já que apresenta certa instabilidade. O motor é o único flex, mas muito fraco para empurrar seus 1.700 quilos.

Citroën C4 picasso Fipe/Motor Show R$ 79.023

Exemplo familiar

A minivan é a melhor oferta para um casal com dois filhos, mas o desempenho decepciona

Assim como o 3008, o Citroën C4 Picasso é o sonho de consumo de qualquer família. Não deixa de oferecer nada que você ou seus filhos precisem. A começar por todos os porta-objetos imagináveis: há lugar para garrafas, copos, compartimento refrigerado para lanchinho, porta-revistas, porta-documentos e espaços com tampa sob o assoalho.

O ocupantes contam ainda com bancos que assumem diferentes posições, mesas do tipo avião, cortina e perfumador de ambiente acoplado ao ar-condicionado – com saídas e ajuste de temperatura na traseira. No porta-malas de 576 litros, há até um carrinho de feira dobrável, para ajudar nas compras, e uma lanterna. Outra solução interessante do carro é a alavanca de câmbio na coluna de direção, que libera espaço entre os bancos dianteiros. Se a mãe precisar acudir um dos filhos, dá para acessar o assento de trás sem sair do carro. Seo quem tem filhos sabe o quanto isso vale.

Na segurança, seis airbags, ABS, ESP, freio de mão com acionamento elétrico e automático e três pontos para cadeirinhas Isofix (no Peugeot são dois). Na hora de vigiar as crianças, um indicador no painel mostra quando alguma delas desatou o cinto e indica sua posição. Um espelho extra próximo ao retrovisor interno permite que o condutor monitore o banco traseiro e o sensor de estacionamento ajuda nas manobras dentro de garagens.

Seria o veículo ideal, não fosse por um detalhe: seu comportamento típico de minivan. Em comparação com o Peugeot, ele rouba prazer do motorista. Além de passar atestado de “pai de família” mesmo com o carro vazio, você terá que conviver uma suspensão macia e um carro que aderna nas curvas (ainda assim é eficiente). O motor 2.0 de 143 cv, sofre, por conta do câmbio de quatro marchas, na hora de movimentar a pesada minivan. Falta agilidade, sobra apetite no consumo.

No meio do caminho

O SUV 4×2 garante comodidade e desempenho apenas razoáveis

Assim como as minivans, os SUVs não são ideais para uma tocada vigorosa. Têm a vantagem do visual jovial e descolado, mas, pesados e grandalhões, precisam de motores robustos para proporcionar prazer. Além disso, o centro de gravidade alto deixa o comportamento menos equilibrado. Na Captiva 2011, o motor 2.4 ganhou mais potência com a injeção direta e agora trabalha com um câmbio de seis velocidades.

O desempenho não ficou esportivo, mas está longe de insosso. Alta e espaçosa, ela recebe bem uma família de quatro pessoas, mas passa longe dos mimos oferecidos por 3008 e C4 Picasso. Mas, se sua preocupação é com segurança, ela não fica devendo aos franceses: tem Isofix, seis airbags, ABS, controle de estabilidade, freio de estacionamento automático, monitor de pressão dos pneus e apoios de cabeça antichicote (falta o central traseiro). O porta-malas é amplo, mas não parece ter os 800 litros divulgados. Talvez, se usado até o teto.

VW Jetta Variant Fipe / Motor show R$ 88.885

Alegria dos pais

Se você se preocupa com sua família, mas não abre mão de uma tocada esportiva, vá de perua!

Se você não abre mão do prazer de dirigir, o Jetta Variant é seu familiar ideal. O motor cinco cilindros aliado ao câmbio de seis marchas é suficiente para uma performance quase esportiva. O consumo de combustível é alto, mas as retomadas e acelerações são animadoras e o comportamento dinâmico é exemplar. É tão bom que você chega a esquecer que está pilotando uma perua. Mas o acerto firme das suspensões repassa muito das imperfeições do piso para o habitáculo, o que pode desagradar às crianças no banco traseiro. Para a família, o carro oferece um portamalas generoso, com 505 litros, e o rack de teto.

No habitáculo, seis airbags e som com tela sensível ao toque na qual são reproduzidas imagens da câmera traseira que monitora as manobras. Quem vai atrás conta com saídas de ar mas, no quesito organização interna, ele não oferece muito. Há bolsas plásticas nas laterais de porta e apenas dois porta-copos, além de luzes de leituras individuais e uma tomada 12 volts. Assim como na Captiva, não dá para dizer que sua família ficará desconfortável ou desprotegida, mas também não será tão bem tratada. Pelo menos, em relação ao monovolume, a perua garante diversão para o chefe da casa, quando ele estiver sozinho.

Ford Fusion Sel Fipe/Motor Show R$ 83.660

O Familiar clásico

Os sedãs já foram referência para a família, mas hoje oferecem apenas o necessário

Até pouco tempo atrás, antes de existir em minivans e crossovers, os sedãs eram – ao lado das stations – a melhor opção para uma família. Espaçosos e com comportamento pacato, garantiam muito conforto com desempenho convincente para a proposta. Pouco acima dos R$ 80 mil, o Ford Fusion oferece essas mesmas qualidades. Seu motor 2,5 litros com saudáveis 173 cv garante até algumas doses de emoção. No comportamento dinâmico, o carro é mais confortável do que esportivo e não transmite irregularidades para os passageiros. Ainda assim, faz curvas com competência e a carroceria não inclina mais do que o esperado.

O problema é que as exigências mudaram e os sedãs, em geral, não evoluíram no sentido de agradar a família. No habitáculo, quatro pessoas têm conforto. Na falta do quinto passageiro, um apoio de braço central com porta-copos pode ser usado no assento traseiro. Em relação a equipamentos, o Fusion mima mais o motorista. Os ajustes dos bancos dianteiros, por exemplo, são elétricos, mas quem vai atrás não conta nem com saída do ar. O aviso de cinto desatado indica só a utilização do equipamento nos bancos dianteiros, pouco útil para quem carrega crianças. Hea sensor de estacionamento e seis airbags.