Há exatos oito anos, a Jaguar contratou o designer escocês Ian Callum e o incumbiu de uma tarefa espinhosa: modernizar, reestilizar e dar um padrão unido e harmônico aos famosos carros ingleses. Admirado como um dos maiores projetistas de sua geração, Callum assumiu a missão sem pestanejar, certo de que seria capaz de mudar a face da Jaguar sem afrontar os valores que consagraram a marca. “É emocionante unir-me à Jaguar e comandar um grupo de estilistas altamente talentosos”, disse ele, quando foi contratado por salário ainda mantido sem segredo. Seu maior desafio era desfazer a imagem que os Jaguar tinham de automóveis de colecionador, para pessoas de cabelos brancos – “an old man’s car”.

Em setembro de 2006, Callum deu a primeira mostra de sua criatividade, ao lançar o coupé XK. Restava o desafio maior: romper com o passado também no desenho dos sedãs. Após quatro anos de trabalho intenso, Callum finalmente deu vida a sua mais nova criatura. Lançou no Salão de Frankfurt, no início de setembro, o luxuoso modelo XF, que substitui o tradicional S-Type e dá início a um novo capítulo na história da montadora. “Por volta de 2010, a Jaguar terá firmado a reputação de produzir os carros mais modernos do mundo”, afirmou Callum ao apresentar o XF com exclusividade para a MOTOR SHOW, na divisão de engenharia da Jaguar, na cidade de Withley, perto de Birmingham, a 200 km de Londres.

Nascido em Dumfries, na Escócia, em 1955, Ian Callum é graduado na Glasgow School of Art e mestre em desenho de veículos pelo Royal College of Art de Londres. Depois de trabalhar 11 anos na Ford e projetar modelos sóbrios como o Mondeo, foi para a TWR onde criou o Aston Martin DB7 (à direita), que lhe rendeu o prêmio Jim Clark Memorial de 1995. Oito anos atrás, foi novamente recrutado pela Ford, com a importante missão de modernizar a marca Jaguar

Apesar da experiência de 30 anos, Callum exibe o XF como se fosse sua primeira criação. A apresentação obedece a um roteiro quase teatral. Primeiro, detalha o desenvolvimento do projeto com o auxílio de painéis. “O carro deve ter presença e energia. Deve transmitir uma sensação de confiança.” Também é importante, diz ele, a percepção da qualidade. “O cliente de marcas premium é muito exigente, mas a nossa maior diferença está exatamente no acabamento artesanal”, assegura Callum. O designer conta que a maior dificuldade foi escolher a frente do XF. “Tínhamos que pensar no futuro e decidimos abandonar os faróis característicos, por serem óbvios.”

Finda a apurada lição de design, os visitantes são levados para um jardim. Ergue-se uma porta de garagem e finalmente aparece o novo Jaguar. Suas linhas, de fato, surpreendem. Restou pouco da tradição. “É mais moderno, mais dinâmico. É um Jaguar, mas muito mais agressivo. Este é o estilo do futuro”, comemora Callum enquanto alisa a carroceria do XF como se fosse um bicho de estimação. Ele faz questão de mostrar ainda o interior em couro e madeira, o botão giratório do câmbio e o computador de bordo touch-screen, com o qual se atrapalhou um pouco na hora da demonstração dos recursos. “Temos uma marca forte. Tudo no Jaguar deve ser sinônimo de qualidade.”

“Este é o estilo do futuro. A Jaguar ficou presa no passado por muito tempo, queremos novos compradores”

Callum não consegue esconder que está ansioso com a repercussão de seu trabalho, mas para o designer, o lançamento de um carro é sempre emocionante. Callum trabalhou na Ford por 11 anos e conta que visitou a fábrica da montadora em São Paulo nos anos 80 e participou do desenho do Logus e do Pointer. “Não sei se isso é bom para o meu currículo”, brinca.

Ainda na Ford, foi para a Itália como gerente do Ghia Design Studio. Mais tarde, transferiu-se para a TWR, uma firma britânica de design independente. Como desenhista-chefe da empresa, Ian Callum projetou um carro antológico: o Aston Martin DB7, que serviu de inspiração para modelos da Volvo e da Mazda e o projetou definitivamente como designer de ponta. Quatro anos depois, o brilhante cidadão escocês foi convocado novamente pela Ford, desta vez, para dar um banho de modernidade nos Jaguar.

Ao criar o DB7, ele mostrou que é possível olhar para o futuro, sem perder de vista os valores do passado. Agora, com o lançamento do XF, promete o mesmo. “Você não teme a reação negativa dos clientes tradicionais da Jaguar?”, pergunto. “Um designer não pode pensar nisso. Sua obrigação é inovar. A Jaguar ficou presa ao passado por muito tempo. Queremos novos compradores”, responde Ian Callum, certo de que vai acertar mais uma vez.