Pupilas dilatadas, batimentos cardíacos acelerados, suor excessivo e pressão sanguínea elevada. Essas são algumas das características de um indivíduo que está experimentando aquilo que chamamos de “prazer ao dirigir”. Uma sensação que se baseia em conceitos subjetivos, é verdade, mas que, depois de iniciada, dispara em todos os seres humanos uma revolução química – à qual damos o nome de emoção – bastante característica, semelhante àquela decorrente do uso de drogas ou da atividade física prolongada. Quando vivemos uma experiência fortemente positiva ou quando fazemos atividade física por mais de 30 minutos, o nosso corpo produz a endorfina, responsável pelo prazer, pelo bem-estar e pelo alívio de eventuais dores.

Dirigir esportivamente satisfaz as condições necessárias para que essa substância seja liberada. De um lado, poder desfrutar até o limite de um objeto que consideramos encantador gera prazer. De outro, controlá-lo exige um grande esforço físico para reagir às forças naturais da dinâmica do veículo (balanço da carroceria, transferência de carga, inércia). Com isso, a descarga de endorfina acaba acontecendo em doses moderadas e não destrutivas, mas que – assim como as drogas – podem gerar dependência.

Um dos papéis da endorfina é o de regular a produção de outras substâncias como  o cortisol – que aumenta a glicemia – e das catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina entre outras). Todos esses compostos são fundamentais na resposta ao estresse e, na direção esportiva, garantem que você esteja sempre pronto para reagir às situações de perigo. As pupilas ficam dilatadas para receber mais luz, aumentando o campo de visão e diminuindo áreas de sombra; os olhos são apertados involuntariamente, melhorando o foco; e os intervalos entre as piscadas aumentam de dez para 14 segundos, para que você enxergue mais e melhor. Além disso, essas substâncias aumentam a quantidade de açúcar disponível no sangue para deixar os músculos preparados para reagir, dilatam os pulmões para receber mais ar, fazem o sangue circular mais rápido, aumentam a pressão e aceleram os batimentos cardíacos. Tudo para manter o piloto em estado de alerta.

E isso vale para todo mundo. Ainda mesmo que não perceba, você passa por isso sempre que experimenta o prazer de dirigir esportivamente. Seja um piloto pro ssional ou um motorista comum. “Não existe nenhuma atividade física que ative o sistema nervoso simpático a um nível tão intenso e por tanto tempo como a F1”, afirmou o médico de diretor da Formula Medicine. Por conta disso, ele realizou uma pesquisa, juntamente com a Universidade de Piza, na Itália, para descobrir se o mecanismo de resposta dos pilotos era o mesmo que o nosso. Com o uso de ressonância magnética funcional ele notou que, em situacões de estresse, comparado a indivíduos não atletas com as mesmas características e idade, os pilotos de F-1 têm as mesmas respostas. A única diferença é que o especialista precisa de menos ativação cerebral. Isso garante que ele aguente essa situação de exigência máxima por um período muito maior.

Na prática, significa que se você – sem treinamento – fosse disputar um GP de F-1 seu corpo sucumbiria na primeira meia hora de prova. As reações são as mesmas, o que muda é a intensidade e o tempo de tolerância ao mecanismo químico. Mas, levando um carro ao limite, somos todos iguais!