Monza sempre vai ser amargo e doce para mim. Lá, em 1970, passei um dos piores fins de semana da vida. Tinha 23 anos, havia corrido apenas três GP de F1 e meu companheiro de Lotus, Jochen Rindt, liderava o campeonato. No sábado, depois do café juntos, ele bateu na classificação e morreu. Jochen era um piloto e um amigo fantástico. Fiquei devastado. A Lotus se retirou em respeito a Jochen e só estreei em Monza em 1971, que foi um péssimo ano. Com o motor Pratt&Whitney 56B cheguei na oitava posição com o Lotus turbina. 

Um ano depois tudo era diferente. Cheguei a Monza liderando o Mundial por 25 pontos e só o Denny Hulme, da McLaren, poderia me tirar o título. Cada vitória valia nove pontos e Denny teria de ganhar os três GPs que faltavam. E o Lotus 72 era altamente competitivo. A semana começou mal. Nosso caminhão bateu e meu carro foi bem danificado. Um reserva foi montado em tempo recorde e foi da Inglaterra para a Itália. Já nos treinos ficou claro que as Ferrari eram muito rápidas. Jacky Ickx pegou a pole com a 312-B2, enquanto seus companheiros, Clay Regazzoni e Mario Andretti, conseguiam a quarta e a sétima posições. O segundo era Chris Amon, o terceiro era Jackie Stewart. Denny, da McLaren, era o quinto e eu peguei a sexta colocação com a Lotus. O pior viria na corrida. No warm-up, o tanque vazava. Eddie Dennis, mecânicochefe, disse: “Emerson, não há tempo, mas vamos trocar”. Ansioso, observei o Lotus ganhar um tanque novinho em minutos.

Aí tudo mudou a nosso favor. O Tyrrell de Jackie quebrou no grid, enquanto o Matra de Chris saiu na terceira volta. Jacky e Clay continuavam na frente em Monza, onde a paixão pela Ferrari é lendária. Eu era terceiro e Denny o sexto, felizmente. Na 17ª volta, Clay saiu e eu virei segundo, atrás só da Ferrari de Jacky Ickx. Faltando nove voltas, o motor de Jacky quebrou. Eu liderava e as nove voltas eram uma eternidade. Pensava no chefe Colin Chapman, que saltaria do muro para a pista e jogaria o boné para o ar. E pensava no meu pai, Wilson, o Barão, comentando para a tevê brasileira. 

Finalmente as nove voltas acabaram, cruzei para vencer a corrida e o campeonato, me tornando o mais novo campeão da Fórmula 1 e o primeiro brasileiro a levantar o título. Vi Colin jogar o boné e imaginei meu pai descrevendo a cena. Devo tudo ao meu pai, que me encorajou a correr quando percebeu que eu era uma promessa. Mais do que tudo, me passou amor pelas competições, que vou manter toda minha vida. Recentemente escutei o áudio do meu pai em Monza. Tentou ser imparcial, mas quando percebeu que eu ia fazer história, sua voz tremia e ele gritava entusiasmado. Escutar isso, tantos anos depois e após meu pai falecer, foi muito forte. Por isso, Monza é uma mistura de amargo e doce.