Tecnicamente falando, não. Além de não ser um indicativo de atualidade do projeto, já que um propulsor concebido originalmente nos anos 1980 ou 1990 pode receber tranquilamente um sistema de alimentação e ignição que permita queimar etanol, gasolina ou uma mistura dos dois, a tecnologia flex não permite extrair o potencial máximo dos propulsores.

A bem da verdade, os propulsores flexíveis não trabalham de maneira ideal com nenhum dos dois combustíveis. Os sistemas eletrônicos são calibrados para parâmetros médios, que permitem a máquina funcionar com ambos os combustíveis, mas sem estar usufruindo do potencial total de cada um deles.

A taxa de compressão dos motores flex, por exemplo, é aquém do que se utilizaria em um motor a etanol, mas é além do que deveria ser utilizado em um motor a gasolina.

Em um motor que utilizasse apenas etanol e com os recursos tecnológicos proporcionados pelos monitores eletrônicos, poderíamos utilizar uma taxa de compressão ao redor dos 15:1, melhorando a potência, o torque e reduzindo sensivelmente o consumo.

No caso de motores estritamente à gasolina, utilizaríamos relações de compressão na casa dos 11:1, o que permitiria misturas de combustível um pouco mais magras na câmara de combustão e curvas de avanço mais acentuadas, com respostas mais rápidas do motor ao comando do acelerador e menores riscos de quebra por detonação, ocasionados por gasolina de má qualidade.

Na realidade, os motores flex são paliativos, criados e desenvolvidos para se adequar às características de nosso País, que oferece para o consumidor dois combustíveis distintos, cujos preços que oscilam muito em cada região e devido a diversos fatores externos, como a cotação do dólar, o preço do barril de petróleo no mercado internacional e a safra ou a entressafra da cana-de-açúcar.

E aí fica uma questão para reflexão: será que você, consumidor, estaria disposto a trocar a ‘comodidade’ dos flex pelo melhor rendimento dos motores preparados para queimar apenas gasolina ou etanol?