Um passeio por décadas passadas. Assim foi a experiência de circular pelo Salão Internacional de Veículos Antigos, que reuniu cerca de 300 raridades, de 24 a 27 de novembro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi (SP). A primeira edição não foi tão grandiosa. “Em 2010 a feira foi organizada somente pelo Automóvel Clube. Este ano temos a parceria da Reed Exhibitions Alcântara Machado”, conta Ariel Gusmão, presidente do Automóvel Clube do Brasil.

O carro mais antigo exposto no Salão, com 108 anos, fez parte do Corpo de Bombeiros francês. Aqui no Brasil, “trabalhou” nas fazendas da família Matarazzo até a década de 60. Foi restaurado há cerca de dois anos

Impossível ficar indiferente a tantos modelos representativos. “Trouxemos aproximadamente 25 clubes, que mostraram os seus quatro carros mais importantes”, explica Ricardo Oppi, restaurador e um dos idealizadores do evento. Uma comissão julgadora selecionou os carros inscritos e apenas aqueles mais impecáveis e representativos puderam estacionar nas três avenidas do pavilhão: América, Brasil e Europa. Dois museus marcaram presença: o Roberto Lee, de Caçapava (SP), e o Jorme, de São Paulo.

O modelo mais antigo estava na ala dos Bombeiros, um Chenard Et Walker de 1903. Também marcou presença o modelo que popularizou o automóvel, o Ford T, nosso conhecido “Ford de Bigode”. Foi ele quem introduziu o conceito da linha de montagem e da produção em série. Outro clássico da companhia americana, que também apareceu no Salão, é de 1929: o modelo A, que teve a árdua tarefa de substituir, com sucesso, o vanguardista Ford T.

Os esportivos nacionais aceleraram os corações dos visitantes. Entre os destaques, uma rara unidade do Opala SS4, com motor quatro cilindros no lugar do famoso “seis canecos” e o exemplar único do Fúria GT

E o passeio histórico pelos corredores do Anhembi estava só começando. Se, por um lado, o Fiat 509 foi o primeiro carro compacto da marca com motor inferior a um litro, de outro, o Stutz abusava das dimensões exageradas e da extravagância. E, falando em imponência, os Rolls-Royce para sempre serão um símbolo de luxo. A formosa dama The spirit of ecstasy, que adorna o capô dos modelos, completou 100 anos e ganhou uma celebração especial. Outro aniversariante no evento foi o Jeep, que fez 70 anos. Como não poderia deixar de ser, o VW Fusca apareceu em diversos anos de fabricação e versões. Destaque para os modelos 1950 e 1955 feito para o consumo interno europeu – raridades mesmo na Alemanha.

 

O exemplar mais caro do Salão era este Mercedes Asa de Gaivota. O carro, especialmente feito para corrida, tinha portas que se abriam para cima por conta do chassi tubular. Esta unidade está avaliada em R$ 1,8 milhão

Da Europa, os Mercedes-Benz Stuttgart e o 300 SL “Asa de Gaivota” de 1957, para muitos, o carro mais marcante de todos os tempos. O Gullwing apareceu em 1954 e o nome Asa de Gaivota veio em alusão às portas, que se abriam para cima. A mecânica de seis cilindros e três litros desenvolvia entre 240 cv e 260 cv. Foi o primeiro carro a ter injeção direta de combustível. No Salão Internacional de Veículos Antigos era o modelo mais caro, avaliado em R$ 1,8 milhão. A estrela de três pontas também apareceu no 220 S Ponton. Lançado no Salão de Frankfurt de 1955, ele trazia inovações como a antena elétrica e os freios a disco dianteiros. Sua exclusividade fica pelas poucas 3.429 unidades fabricadas. Um outro charme à parte na ala do Velho Continente era o 230 SL “Pagoda”. Produzido de 1963 a 1971, substituiu o mítico 300 SL e recebeu esse nome por conta do formato da capota de aço inoxidável, que remetia aos templos orientais. Os BMW tiveram espaço com o 3.0 CSI e 635 CSI, entre outros.

O coração dos mais de 25 mil visitantes do evento bateu forte com os esportivos Corvette Stingray, Ferrari Dino, Lamborghini Urraco e De Tomaso Pantera. Entre os carrões potentes, estava também o Ford Ranchero GT Cobra Jet 1971. Sob o capô, um V8 de sete litros com 370 cv. Único no Brasil, ele dividia as atenções do público com o querido Chevrolet El Camino. Mas você deve estar se perguntando: onde estão os nossos brasileiros?

Com o T, a Ford criou o conceito da linha de montagem e da produção de carros em série. Esse modelo foi responsável pela popularização do automóvel

A clássica escultura The spirit of ecstasy, que adorna o capô de todos os Rolls-Royce, comemorou 100 anos de existência

A Romi Isetta ainda encanta pelas suas compactas formas. Foram três mil unidades fabricadas entre 1956 e 1961 pelas indústrias Romi. O carrinho também foi montado na Itália, Alemanha, Inglaterra, França e Espanha. O primeiro motor usado vinha da ISSO. Depois passou para um BMW monocilíndrico, quatro tempos de 298 cm3 com módicos 13 cv. Os Ford Corcel I e II, VW Brasília e SP2, Karmann Ghia e Landau, com certeza, trouxeram boas lembranças, assim como os fora de série, que eram uma alternativa no tempo das importações proibidas. O Puma GTB 1974 presente no evento tem o chassi 0001. Ao seu lado, um raro Opala SS4, versão esportiva equipada com motor de quatro cilindros, o Maverick GT V8 e o único Fúria GT existente no mundo. Criado por Toni Bianco, usava a mecânica do FNM 2150 com 130 cv que o levava aos 170 km/h de máxima. Ao final do evento, os 16 melhores carros foram premiados. A viagem chegou ao ­ m. Sempre sob os olhares atentos do Vigilante Rodoviário, que circulava pelo pavilhão, assim como grandes nomes do automobilísmo brasileiro, como o piloto Bird Clemente.

 

Essa unidade de Rumbler foi presenteada pelos pais de um adolescente, que queria um carro antigo para restaurar. Pensando em economizar, eles escolheram o mais barato que encontraram e imaginaram que logo ele iria se desinteressar daquele hobby. Tempos depois, a família descobriu que se tratava de um modelo raríssimo, exemplar único, e todos acabaram se envolvendo no restauro. Hoje são antigomobilistas de carteirinha.

Os Fusca de diversas épocas e versões marcaram presença no pavilhão e atraíram olhares encantados, assim como a cativante Romi Isetta

A época mágica dos motores V8 foi retratada por esportivos clássicos como o De Tomaso Pantera e o sonho americano Chevrolet Corvette

 

A “segurança” do evento foi garantida por Carlos Miranda, o Vigilante Rodoviário, personagem principal (junto com seu cão, Lobo) do primeiro seriado da televisão brasileira

 

Este Tucker Torpedo 1948 é um dos exemplares mais raros do museu Roberto Lee, de Caçapava (SP). Trata-se de uma das menos de 50 unidades do modelo que ainda existem pelo mundo. O grande sedã mede quase cinco metros de comprimento. Criado por Preston Tucker, o primeiro motor desenvolvido era um seis cilindros de 9,6 litros com 150 cv. Já o segundo veio de um helicóptero Bell e era também um seis cilindros de 5,8 litros com os mesmos 150 cv. Mas, em 1949 a fábrica encerrou suas atividades e seu idealizador, Preston Tucker, faleceu em 1955. Por isso, existem tão poucos exemplares.