Quando relembro minhas duas temporadas na Fórmula 1 com a McLaren, vejo várias grandes corridas. A primeira foi o GP do Brasil de 1974. Fizemos muitos testes antes da temporada e realmente melhoramos o carro, o M23. Aí, na primeira corrida de 1974, na Argentina, tive um problema. Não sei se vocês lembram, mas sem querer bati a mão na chave geral e desliguei o carro na largada. Naquela época, os filtros de ar eram críticos e eles podiam chupar a poeira pelo circuito e isso travava o acelerador aberto. Havia um botão no volante para desligar o motor. Eu nunca esperava tocar nisso, mas desliguei o motor sem querer.

Foi uma pena, porque o antigo circuito de Buenos Aires tinha a mais rápida e longa curva da Fórmula 1 e o M23 era ótimo naquele trecho. Mike Hailwood era o mais rápido da McLaren naquela curva e eu o havia seguido para descobrir como ele ia tão bem. Claro, meu outro companheiro, Denny Hulme, venceu a corrida – confirmando que o M23 era um ótimo carro – e eu cheguei só em décimo lugar. Isso significou uma pressão extra para a segunda corrida, justo na frente da torcida brasileira.

Meus patrocinadores e eu havíamos escolhido juntos a McLaren e agora apareciam perguntas da imprensa e do público: tínhamos tomado a decisão certa?

O Grande Prêmio do Brasil respondeu a todas essas perguntas negativas. Tudo se encaixou. O carro era rápido e tivemos uma excelente corrida, uma ótima vitória desde a pole position. Um momento perfeito: era a primeira vitória da McLaren no Brasil e a minha segunda de uma série. Vencer em casa foi especial. Acredite, quando você pode dormir na sua própria cama – e não num hotel – e daí vencer o GP, isso traz um sentimento muito, muito especial. 

Interlagos é onde eu comecei a correr com 14 anos de idade. Tinha minha família e amigos por perto, além de muitas boas lembranças. A antiga pista de Nürburgring era, em minha opinião, a pista de maiores desafios. Mas era uma alegria correr no antigo traçado de Interlagos. Tinha quase oito quilômetros de extensão e todo tipo de curva: descendo, subindo, devagar, rápido… Você tinha de acertar o carro com vários compromissos para obter a melhor média de velocidade em cada curva. Aí, no final você era o mais rápido. Um circuito muito técnico para os pilotos e para as equipes. Interlagos hoje tem um circuito bem menor, mas ainda se reconhece partes do velho traçado. 

Foi espetacular para o Brasil ter um vencedor “de casa”, mas foi muito bom também para a equipe, que ganhou confiança e entusiasmo para as próximas corridas. Interlagos era um desafio técnico tão grande que vencer lá realmente mostrou o potencial da McLaren.