Morando em São Paulo, quei procurando motivo para gastar quase R$ 150.000 em um Trailblazer. Não encontrei. De uma enchente fugiria facilmente e passando por cima de canteiros e praças. Em um passeio acomodaria até sete amigos. Mas como enfrentar alagamentos ninguém quer nem pretende e outros carros levam sete passageiros sem ser tão “rurais”, não achei razão para comprar um Trailblazer. Nada que justi casse pular como um cabrito nos buracos, pois andar nesse SUV em baixa velocidade no asfalto ruim não é nada confortável (apesar de uma discreta melhoria nessa linha 2015). Até aí, normal – o Trailblazer não nasceu para a cidade grande.

Mas como todo mundo às vezes tenho sonhos, imagino vidas diferentes. Em uma delas, tenho um sítio na serra, acessado por uma estrada de terra quase intransponível, ainda pior quando chove. Em outra, largo tudo, caio na estrada com minha família e vou desbravar o Deserto do Atacama, atravessar os Andes, explorar o mundo. E aí a Trailblazer poderia, perfeitamente, ser meu carro. A tração 4×4 com reduzida supera qualquer obstáculo, a construção sobre chassi, à moda antiga, tem robustez invejável e o espaço exagerado permite levar “a vida” junto. A central multimídia reproduz de tudo – música para milhares de quilômetros – e ainda toca DVD para a criança e tem GPS para não me perder.

Nessa vida de viagens, porém, não sei se conviveria bem com a sofrível posição de dirigir. Você senta alto, vê tudo de cima, mas falta o ajuste de profundidade do volante. É preciso car com o banco mais perto dos pedais do que se gostaria. Teria problemas também com a autonomia do carro, pois o V6 a gasolina, agora com injeção direta e mais potente (277 cv), ainda é gastão: na estrada, é difícil superar 8 km/l. O desempenho é ótimo, e o motor é muito melhor do que o fraco 4 cilindros  ex do Toyota SW4 (disponível só na versão 4×2) e do que o V6 ex do Mitsubishi Pajero Dakar. No fim, acabaria optando pelo Trailblazer a diesel, de R$ 176.490. Confesso, porém, que ainda caria na dúvida: por esse valor, dá para comprar um crossover/SUV menor, com consumo contido e igualmente valente no off-road. Seria minha escolha, voltando à vida real (e não se preocupe, estou feliz com ela, apesar das divagações).