O argentino Carlos Reutemann estreou na Fórmula 1 em 1972 e se aposentou das corridas 10 anos depois, em 1982. Ele começou sua carreira na F1 dois anos antes de mim e saiu dois anos depois que eu parei. A mídia brasileira e argentina sempre tentaram incentivar problemas entre nós – eu era um orgulhoso brasileiro e Carlos um patriótico argentino. Mas a verdade era que a gente se gostava e também se admirava muito. Durante o final de semana do GP de Mônaco, eu e minha esposa costumávamos ficar em sua casa, perto de Cap Ferrat, na França, muito próximo de Mônaco. E durante o Grande Prêmio do Brasil, Reutemann e sua mulher ficavam em minha casa, em São Paulo.

Eu admirava sua elegância – ele era um verdadeiro artista em um carro de Fórmula1 – e naquela época Carlos era muito difícil de ser superado na pista. Depois que ele parou de competir, nunca olhou para trás. Ao contrário, abraçou a política e se tornou senador na Argentina, pela Província de Santa Fé, cargo que ocupa até hoje, com 74 anos. Algum tempo atrás, surgiu um rumor de que ele iria se candidatar a presidente da Argentina, mas Reutemann acabou não concorrendo. E ele tem sido excelente na política, em minha opinião.

Quando a gente se encontra hoje em dia, nos abraçamos, mas até falamos pouco. Carlos sempre foi um homem de poucas palavras e, além disso, nos conhecemos tão bem que até percebemos o que o outro está sentindo sem ter de falar. Mas isso só acontece quando você compete duramente com alguém rápido e confiável durante muitos anos. Reutemann terminou uma única vez em segundo lugar no campeonato mundial (1981) e três vezes em terceiro (1975, 1978 e 1980). Assim como o lendário inglês Stirling Moss, em minha opinião Carlos é o maior piloto de Fórmula 1 que nunca se tornou campeão mundial.

Quando comecei nas corridas, ainda adolescente, no Brasil, meus melhores amigos eram Wilson Fittipaldi (claro, é meu irmão), José Carlos Pace e Luiz Pereira Bueno. Wilson era rápido e eu sempre o observava com muita atenção, inclusive porque ele é meu irmão mais velho. Minha primeira tarefa em competições era preparar os karts do Wilson e do Pace, já que eu era muito novo para correr. Wilson participou de 35 GPs de F1 – pela Brabham e pela nossa equipe Copersucar-Fittipaldi – mas infelizmente ele nunca teve a oportunidade de pilotar um carro vencedor na Fórmula 1. Eu realmente lamento que Wilson nunca tenha tido essa chance.