Luiz Pereira Bueno, ou Luizinho – como era chamado pelos amigos -, foi um supercampeão. Um dos primeiros pilotos profissionais do automobilismo brasileiro, teve contato muito cedo com carros de corrida. Com apenas 13 anos de idade, era ele quem amaciava os motores preparados na oficina de Claudio Daniel Rodrigues, seu cunhado, que preparava os pequenos esportivos MG, vindos da Inglaterra. “Eu chegava a dirigir um dia inteiro e rodar cerca de 400 quilômetros, sem reclamar”, contou o veterano, com exclusividade à MOTOR SHOW, em janeiro, durante sua última entrevista. O piloto recebeu nossa equipe em sua casa em um tranquilo condomínio, na cidade de Atibaia (SP). Menos de um mês depois, em oito de fevereiro, Luiz Pereira Bueno faleceu, aos 74 anos, vítima de um câncer no pulmão, contra o qual já vinha lutando há alguns anos.

Luiz Pereira Bueno

“Aos 13 anos, eu chegava a dirigir um dia inteiro e rodar 400 quilômetros sem reclamar”

Ainda na década de 50, Luizinho conseguiu sair dos bastidores e participou de provas com um Fiat Stanguelini, comprado por seu irmão, Vasco. Tentando adquirir mais conhecimentos mecânicos, foi trabalhar na Willys, onde ajudou no desenvolvimento do Renault Alpine A-108 que, no Brasil, ficou famoso como Willys Interlagos. Passou dois meses estagiando na França e na volta ao Brasil integrou o departamento de competições da marca.

Na lendária escuderia, guiou (juntamente com pilotos como José Carlos Pace, Chico Lameirão, Bird Clemente e Wilson Fittipaldi, entre outros) desde o sedã Gordini 850 cm3 até os Alpines A-110. Participou de provas no Uruguai e, no Brasil, venceu, por duas vezes, os 500 km de Interlagos, em 1966 e 1970. Em 1969, foi se arriscar na Fórmula Ford inglesa e, mesmo sem fazer todas as provas do campeonato, foi vice-campeão com seis vitórias e 11 poles.

Sem dinheiro, voltou ao Brasil. Entre 1971 e 1976 correu com o carro que até hoje é um dos maiores símbolos de sua carreira, o Porsche 908/2 da equipe Hollywood. O sucesso com o bólido foi tão grande que das 17 provas disputadas venceu dez. Em 1972 chegou a participar dos “1.000 km da Áustria”, prova do Campeonato Mundial de Marcas, mas teve de abandonar por ter se envolvido em um acidente com a Ferrari guiada por José Carlos Pace.

No alto, a bordo de um F-Ford em 1970. abaixo, luizinho (com capacete na mão) é carregado por seu chefe de equipe Brizzi junto com José Carlos pace

O recém-lançado livro sobre a carreira do piloto custa R$ 100

O auge de sua carreira foi em 1972, quando finalmente chegou à categoria máxima do automobilismo. Correu a prova extra-campeonato de F-1, em Interlagos, guiando um March 711, alugado pela equipe Hollywood. “Eu pedia para ajustar a asa e eles não ajustavam, pedia para colocar mais pressão nos pneus e eles não colocavam. Além disso, nosso motor estava limitado com 1.000 rpm a menos, como margem de segurança para eles não terem prejuízos”, contou Luizinho. Mesmo assim – e sem nenhuma experiência na categoria -, terminou em sexto e ainda bateu o recorde do anel externo de Interlagos, que já era seu. No ano seguinte, resolveu repetir a dose, mas desta vez com um Surtees TS9B, de 1972. Estava entre os seis primeiros, mas parou por causa de uma pane elétrica.

No final de 1976, com o encerramento do patrocínio na Hollywood, a crise do petróleo e a proibição das corridas, as coisas ficaram mais difíceis. Luizinho teve que passar todo o ano de 1977 sem competir. Em 1984, depois de ter participado de diversos campeonatos nacionais, em 1984, fez sua despedida nos “1.000 km de Brasília”. Para quem quiser saber mais sobre o piloto uma dica é o livro Paixão e técnica ao volante, escrito pelo jornalista Marco Polo Henriques e que acaba de ser lançado pela editora Tempo & Memória. O livro pode ser adquirido no site: www.luizpereirabueno.com.br/loja

1. Porsche 908 nos 500 km de Interlagos em 1972.

2. Opala da equipe Hollywood.

3. Em 1970, a bordo do Bino Mark I.

4. GP de F-1 de 1973 com um Surtees.

5. Torneiro Internacional de F-2 de 1972