Não sou afeita a aventuras off-road. Prefiro um asfalto lisinho. Talvez, por isso, não tenha gostado muito dessa versão do Duster. Como jipe, ele tem potencial e oferece mais que os concorrentes de mesmo preço. O problema é que não uso nada disso no dia a dia, assim como a maioria dos compradores de SUVs. A começar pela tração integral. A marca oferece uma transmissão moderna que possibilita ao torque concentrar-se apenas na rodas dianteiras, ou, segundo a demanda, ser distribuído eletronicamente entre os eixos. Nos casos mais críticos de aderência, o bloqueio garante a divisão de 50% de força de tração para cada eixo. E tudo funciona de forma eficiente. O problema é que essa parafernália rouba espaço do bagageiro e representa um peso extra. São quase 80 quilos a mais para o motor empurrar, mesmo com o botão seletor em 4×2. Isso significa pior desempenho e maior consumo.

Outra consequência da alma aventureira aparece na relação do câmbio. A primeira marcha foi tão encurtada que você precisa de um bom período de adaptação para não dar trancos nas saídas, não queimar embreagem e economizar combustível. Isso até você descobrir que o melhor mesmo é colocar o carro em movimento usando a segunda e esperá-lo embalar (sorte o motor ter bom torque), deixando a marcha de arranque apenas para subidas mais íngremes ou para rebocar um colega jipeiro. Ah! E tem mais: não há 4×4 com câmbio automático. Claro, tudo justificado pela e ciência no off-road.

Para quem quer um SUV com potencial para trilhas, mas que seja mais “civilizado” que um Jimny, por exemplo, esse Duster é uma ótima pedida. Para o meu uso, é desnecessário. Apesar de ainda não ter avaliado essa opção, para mim o Duster Dynamique 2.0 4×2 é melhor: fico com o bom motor, posso escolher entre um câmbio manual de seis marchas e um automático de quatro, tenho menos peso para movimentar, um escalonamento de marcha mais adequado e, de quebra, 75 litros a mais de porta-malas (roubados pelo diferencial no 4×4). E ainda mantenho a posição de dirigir elevada, os bons ângulos de entrada e saída e a distância do solo. Essas são coisas que, de fato, que motivam a compra de um SUV por quem roda prioritariamente na cidade.

Renault Duster 4×4

MOTOR quatro cilindros em linha, 2,0 litros, 16V TRANSMISSÃO manual, seis marchas, tração 4×2 ou 4×4, bloqueio do diferencial DIMENSÕES comp: 4,31 m – larg.: 1,82 m – alt.: 1,69 m ENTRE-EIXOS 2,673 m PORTA-MALAS 400 litros PNEUS 215/65 R16 PESO 1.353 kg ● GASOLINA POTÊNCIA 138 cv a 5.500 rpm TORQUE 19,7 kgfm a 3.750 rpm VELOCIDADE MÁXIMA 178 km/h 0 – 100 KM/H 11,1 segundos CONSUMO cidade: 10,2 km/l – estrada: 13,6 km/l CONSUMO REAL cidade: 7,8 km/l – estrada: 9,6 km/l ● ETANOL POTÊNCIA 142 cv a 5.500 rpm TORQUE 20,9 kgfm a 3.750 rpm VELOCIDADE MÁXIMA 181 km/h 0 – 100 KM/H 10,4 segundos CONSUMO cidade: 7,3 km/l – estrada: 9,8 km/l CONSUMO REAL cidade: 5,6 km/l – estrada: 6,9 km/l

Um adesivo identifica a versão 4×4. Atrás, conforto para três passageiros

 

O interior, o mesmo do Sandero, ganha alguns materiais mais nobres, mas ainda não é nada sofisticado. Ao lado, o volante com identificação da versão, os instrumentos, o botão seletor da tração, o CD player e o ar. Tudo vem de série

CONTRAPONTO

● Parece que Ana Flávia Furlan não gostou muito desta versão do Duster. Mas o que ela não mencionou em seu texto é que essa é a única opção do modelo com suspensão traseira multilink, que coopera muito para a estabilidade e o comportamento dinâmico do SUV. Mesmo em altas velocidades, ele contorna as curvas com eficiência. Também não encaro trilhas ou estradas de terra batida nem para chegar à casa de campo da família. Mas acho que só essa base melhorada já justificaria a compra do 4×4. Na verdade, há outras coisas que me incomodam mais do que o fato de ele arrastar uma tração integral, até porque seu motor 2.0 tem ótimo torque desde as baixas rotações. O visual não me agrada, os para-lamas abaulados exigem atenção para evitar batidas, os comandos dos retrovisores ficam embaixo do freio de mão e a cobertura do porta-malas não tem sistema de recolhimento. De positivo, destaco a boa posição de dirigir, o espaço para as pernas, a altura do solo e o amortecedor que segura o capô quando aberto.

RAFAEL POCI DÉA| REPÓRTER

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OS CONCORRENTES

Hyundai Tucson

“O design está desatualizado,

apesar de o preço ser atraente.

O câmbio de quatro marchas

atrapalha seu desempenho”

Bruna Marconi

Ford EcoSport

“A versão 4×4 tem preço baixo e um sistema de tração com bloqueio bastante capaz. Mas ele muda já no ano que vem”

Flavio R. Silveira

Suzuki Grand Vitara

“Mais moderno e bonito que os rivais, mas com um acabamento interno que também não é muito refinado e o preço é mais alto”

Douglas Mendonça