Se fôssemos esperar o Honda HR-V viajar de caminhão-cegonha de Brasília, onde foi realizado seu lançamento, até São Paulo, não teríamos tempo hábil para fazer o comparativo da capa da MOTOR SHOW que está agora nas bancas. Para reuni-lo com seus rivais e tornar possível a reportagem, a solução foi sair dirigir o modelo japonês de lá para cá. Sozinho no carro, não tinha muito tempo para percorrer os exatos 1.027 quilômetros: precisava chegar em São Paulo às 8 da noite e o carro foi liberado em Brasília só as 10:30 da manhã.

Pensei que a solução seria fazer uma viagem com paradas rápidas, só para abastecer, mas, mesmo assim, tinha medo de não conseguir, pois minhas lembranças das estradas fora de São Paulo – principalmente a BR-050, em Minas Gerais – não eram nada boas. De minha infância e adolescência, lembro que o trecho entre Uberlândia, triângulo mineiro, e a fronteira de São Paulo era um inferno, com pista simples, longas subidas, e um monte de caminhões para ultrapassar – e sempre obstruído por um acidente. As estradas de Goiás, então, nem conhecia. Tinha que fazer uma média de mais de 100 km/h para chegar a tempo, e achei que ia atrasar.

Sai de Brasília debaixo de uma chuva intermitente, para piorar – e fiquei decepcionado pelo Honda não ter um sensor de chuva, item muito necessário numa situação dessas. O primeiro trecho da estrada estava lotado de lombadas, que me fizeram perder tempo. Depois de pouco mais de 100 quilômetros, eu já estava atrasado, mas a estrada esvaziou e aproveitei para dar uma boa acelerada. Nesse trecho, andando acima dos limites legais, as poucas curvas foram contornadas pelo HR-V com um comportamento digno de Civic. O crossover, apesar de mais alto e sem suspensões independentes na traseira, vinha sempre bem assentado no chão e mantendo a trajetória com maestria. Distraído com a pista e a chuva e curtindo a dinâmica do carro, descuidei no consumo. Quando vi, a luz da reserva acendeu e – falha do Honda – eu só rodaria mais 19 km segundo o computador de bordo. No meio do nada. E sem um posto sequer por perto. Só havia árvores, asfalto e mais nada.

Desliguei imediatamente o ar-condicionado, mantive as janelas fechadas, reduzi a velocidade para 80 km/h e lamentei minha extrema burrice. Nas longas subidas, a autonomia ia diminuindo, mas aí vinha uma descida equivalente e eu aproveitava para botar a banguela. Tenso. Enquanto os quilômetros sumiam no computador de bordo, eu pensava que teria que ficar parado ali, na chuva, até algum dos poucos veículos que circulavam por ali resolvesse parara para me ajudar. No exato momento em que a autonomia caiu para 5 km, porém, um posto apareceu. Ufa.

Nessa bobeada, quilômetros e quilômetros andando a 70/80 km/h, perdi minutos preciosos. No posto, enchi o tanque com gasolina, para diminuir as paradas, peguei um saco de salgadinho e segui dirigindo. A chuva deu uma aliviada e pelas boas e vazias estradas de Goiás cheguei a Minas Gerais, esperando pelo pior. Tinha percorrido pouco mais de 350 km, ainda faltava muito para meu destino final e, supostamente, era ali que começaria o pior trecho. Foi então que veio uma surpresa até maior que o ótimo comportamento do crossover: uma estrada toda de pista dupla, com asfalto perfeito, novinho e – melhor – cujas praças de pedágio ainda estavam em fase final de construção, desativadas.

Minas Gerais passou como um borrão pelas janelas. Em algum ponto perto de Uberaba parei para abastecer de novo e, quando vi, estava chegando a São Paulo – onde a Anhanguera me levaria da fronteira até a Bandeirantes, onde percorreria os últimos 100 km até a Capital. Uma tempestade me fez perder algum tempo – mas nem foi preciso reduzir tanto com medo de aquaplanagem, pois ao primeiro sinal de perda de aderência com a pista o sistema de controle de estabilidade discretamente se encarregava de manter o HR-V sob controle. A noite caiu e a estrada ficou ainda melhor, mas os intermináveis pedágios (que me pareceram ser uns 525) faziam ter que parar toda hora, reduzindo bastante minha média de velocidade.

Perto da saída para Piracicaba, mais uma parada rápida, só para abastecer. Meu estômago não aguentava mais só salgadinhos e Coca-Cola, mas exatas nove horas e meia depois de sair da capital, estava na Marginal Tietê. Missão cumprida. Não sei se fiquei mais surpreso com o conforto do carro, por não me sentir tão cansado após mais de mil quilômetros ao volante dele praticamente sem paradas, ou por perceber que aquelas estradas assustadoras fazem parte do passado – e hoje é possível viajar pelo país com conforto e segurança. Esqueça o avião: da próxima vez que tiver que ir a Brasília, que tal curtir boas estradas e lindas paisagens?

PS: Antes disso, passe em um banca e compre uma MOTOR SHOW para ver como o Hionda se saiu diante de Jeep renegade, Peugeot 2008 THP, Ford EcoSport, JAC T6 e Renault Duster