Em um dia normal de trabalho na redação o telefone toca muitas vezes. Os assuntos do outro lado da linha são bastante variados. Na maioria dos casos são leitores atrás de respostas para algumas dúvidas. Mas em agosto de 2007, a ligação que atendi era de uma pessoa procurando uma foto do Opala 26, campeão brasileiro de 1978, na categoria divisão um, que um ano depois virou a Stock Car.

A curiosidade de jornalista não me deixou desligar o telefone sem antes perguntar por que ele precisava tanto da foto. A resposta rendeu a matéria que você lê agora. Os filhos do ex-piloto Affonso Giaffone, Franco, André, Affonso e Sandro, estavam atrás de fotos do carro para fazer uma surpresa para o pai. O plano era presenteá-lo com uma réplica do modelo com o qual ele venceu o campeonato de 1978. Não pensei duas vezes: pedi para acompanhar o projeto e, é claro, me prontifiquei a procurar a tal foto.

Affonso GIAFFONE

Liguei para o fotógrafo Cláudio Laranjeira, um dos mais experientes na área e dono de um grande acervo de imagens de competição. Dito e feito. A foto usada como referência foi mesmo feita por Larangeira e publicada há anos, em uma revista especializada. A ideia surgiu depois que Franco Giaffone viu um Fiat 147 de corrida que um amigo havia ganho de seu filho. “Na hora pensei em fazer o mesmo com meu pai. Sugeri isso aos meus irmãos e eles também toparam”, conta.

O nome Jayme pintado no capô foi reproduzido como o da época. Trata-se de Jayme Silva, preparador de motores e que também participou da restauração

Depois de tudo combinado, a primeira missão foi comprar o carro. A família fazia questão que fosse do mesmo ano e que estivesse em ótimo estado. Em julho de 2007, compraram um Opala em Mato Grosso do Sul, por R$ 7.500. O veículo chegou a São Paulo e, em pouco tempo, começou a ser desmontado para passar por uma reforma em sua funilaria.

Com exceção do monobloco e do capô, quase tudo foi substituído por componentes originais. Após uma temporada na funilaria, o Opala seguiu para a fábrica JL, onde foram instalados os santantônios. Já com a estrutura restaurada, era hora da pintura.Ninguém melhor para o trabalho do que Sid Mosca, que dava cor ao carro na época. Antes dos retoques finais, a instalação da parte mecânica foi feita na oficina R2, onde o carro recebeu motor e câmbio preparados

“Nossa maior dificuldade foi nos basear apenas em algumas fotos”, diz Alan Mosca, filho de Sid Mosca, que fez a pintura do carro na época e a repetiu nos mínimos detalhes

No caso do propulsor, foi comprado um seis cilindros com numeração igual a de 1978. Já o acerto final, com as medidas de alinhamento, foi passado para o lendário preparador Jaime Silva, que teve seu nome estampado no capô do modelo, exatamente como no carro de 1978. De acordo com Franco Giaffone, a construção da réplica durou cerca de 14 meses e custou em torno de R$ 50 mil. “Fomos muito detalhistas. Nosso objetivo era fazer um carro idêntico ao que meu pai foi campeão”, diz. Algumas peças foram até restauradas, como os vidros, que são do mesmo ano. Os pneus Pirelli CN 36 usados na época também deram trabalho à família. “Quase compramos na Tchecoslováquia, mas, no fim, encontramos uma pessoa que tinha os pneus aqui em São Paulo”, conta Franco.

Acima, as imagens externas e internas do Opala 1978 comprado no Mato Grosso do Sul por R$ 7.500. Na sequência, três imagens do carro totalmente desmontado para o trabalho de funilaria. Apenas o monobloco e o capô foram mantidos. À esquerda, a carroceria já totalmente restaurada foi levada para a JL (a mesma oficina que hoje faz os chassis e a preparação dos motores da Stock). Abaixo, a instalação dos santantônios de competição

A festa de entrega foi em dezembro, no bar Nossa Senhora, na zona sul de São Paulo. Apenas ao chegar no local, Affonso descobriu que era uma comemoração de 30 anos pela conquista do campeonato À partir da esq., em sentido horário: Affonso Giaffone, seus filhos e netos; a surpresa dos convidados ao ouvir o ronco do motor; Giaffone com o preparador Jaime Silva (mais à esq.), o chefe de equipe da Stock Washington Bezerra (com o copo) e o jornalista Reginaldo Leme; com Ingo Hoffman e brincando com as netas

A ENTREGA DO PRESENTE

No mês de dezembro, a família organizou uma festa e chamou diversos amigos de Affonso, a maioria colegas de pista. Affonso não sabia de nada. Nem do carro, nem da comemoração. “Quatro horas antes da festa, o Franco me ligou dizendo que precisava fazer uma reunião comigo no bar. Quando cheguei foi uma surpresa muito agradável”, conta Affonso. “Reencontrei pessoas que não via há muitos anos”, completa. Entre os convidados estavam muitas figuras lendários do automobilismo como os pilotos Ingo Hoffman, Chico Serra, Pedro Vitor Delamare, entre outros.

Depois de muita conversa relembrando o passado, os amigos tiveram a missão de arrastar Affonso para a calçada do bar, onde minutos depois Franco, abusando do ruído do motor, estacionou o Opala numero 26. “Foi fantástico. Nunca poderia imaginar”, comenta Affonso. Não demorou muito para ele querer voltar no tempo e acelerar a réplica do Opala que lhe rendeu o título de 1978 e a primeira corrida da Stock em 1979. Esse fato será lembrado na primeira etapa da categoria deste ano. Affonso dará uma volta, no autódromo de Interlagos, a bordo do Opala 26, e depois pilotará o novo carro da Stock Car.