29/10/2012 - 10:55
Em 1972, quando nascia a editora Três, que publica a revista MOTOR SHOW, o Brasil era um país diferente. A população era de cerca de 90 milhões; hoje, somos quase 200 milhões. A indústria automobilística nacional era uma pré-adolescente, não uma cinquentona como agora. O que mudou na indústria de lá para cá? Como traduzir, de maneira concreta, todo esse desenvolvimento testemunhado e noticiado pelas publicações da editora? Comparando tecnologia. Naquela época, o caminhão que ganhava as estradas era o Mercedes-Benz 1111, fabricado entre 1964 e 1970 em São Bernardo do Campo (SP). Aqui, um exemplar 1968, aparece ao lado do recém-lançado Actros.
No produto final, há muito pouco em comum entre os dois além da estrela de três pontas na dianteira. Na filosofia, no entanto, não faltam detalhes convergentes.“Cada um a seu tempo revolucionou com tecnologias inovadoras”, conta Claudio Gasparetti, gerente de marketing de produto caminhões da Mercedes-Benz do Brasil. Com cabine semiavançada com suspensão e aquecimento e freios a ar sobre o mecanismo hidráulico, o 1111 era um exemplo de robustez e durabilidade. “Uma das maiores inovações era o motor a diesel com injeção indireta; a concorrência na época tinha motores a gasolina. O motor a diesel já durava muito mais”, afirma Gasparetti. Seu motor era um OM 321 com seis cilindros em linha capaz de desenvolver 110 cv de potência e 31 kgfm de torque a 1.600 rpm. Depois dele, todo caminhão teve de virar diesel.
Na cabine do 1111, como os tempos eram outros, não se cogitavam itens de conforto. A meta era reduzir custos – e ainda é, mas hoje se pensa mais no caminhoneiro como um profissional que precisa de condições de trabalho adequadas para produzir mais. Quem tem por volta de 40 anos raramente ouviu falar, na infância, de preocupações ambientais. “Isso já era uma máxima na Mercedes”, diz o gerente. Assim, um caminhão como o Actros era inimaginável para a época. Hoje, a eletrônica atua em todos os níveis, a começar pelo motor OM 501 LA V6 (seis cilindros em “V”) que desenvolve uma potência quatro vezes maior – são 456 cv, com 224 kgfm a 1.080 rpm, projetado para combinar desempenho com baixo consumo de combustível e emissão de poluentes. No 1111, vê-se uma robusta alavanca de câmbio. No Actros, a transmissão é automatizada PowerShift, com 12 marchas à frente e quatro à ré.
E quem poderia imaginar, há 44 anos, que os caminhões do século 21 seriam dotados de um radar no para-choque capaz de monitorar o tráfego à frente e, com base na velocidade dos demais veículos e na distância preestabelecida em relação ao veículo da frente, a unidade de controle poderia adequar a velocidade às variações do tráfego, mantendo uma distância segura?
Pois o Actros tem. No caso de uma situação extrema, a eletrônica embarcada lança mão de todos os sistemas de freio disponíveis, realizando, no limite, uma frenagem de emergência. Além disso, em subidas o caminhão tem um bloqueio de deslocamento, que dá ao motorista preciosos segundos sem precisar acionar o freio de estacionamento antes de arrancar – sistema disponível em alguns carros de passeio. O que não dizer da sopa de letrinhas que todos já dominam, caso do sistema antitravamento ABS e do controle de tração ASR – que contribuem não só para a segurança como para auxiliar a durabilidade do conjunto? Para terminar, há uma câmera especialmente montada no para-brisa que detecta a posição do caminhão em relação às faixas de estrada. No caso de distração, um alerta sonoro avisa o motorista se o veículo se move para fora dessa via. E, para maior conforto, o Actros vem com ar-condicionado noturno, capaz de funcionar por até oito horas com o motor do caminhão desligado, sem gastar uma gota de combustível sequer. E o 1111 também inovou no visual, sendo vendido em uma gama interessante de cores vivas. “Foi outra tendência que a Mercedes adotou”, conta o técnico da marca. Falando nisso, o design imponente é outra marca que perdura.
Embora os fundamentos que envolvem o homem e a máquina já estivessem lá, as mudanças mais profundas nessas quatro décadas devem muito à eletrônica, que veio revolucionar completamente esse vínculo. “E o importante é que nós acompanhamos essa evolução”, completa Gasparetti.