Apesar de o Fiat Punto ter apenas quatro metros de comprimento, a marca insiste em classificar seu hatch compacto como um carro médio – posto que, por merecimento, seria só do Bravo. Por conta disso, o Hyundai i30 não é oficialmente o líder de mercado no ranking da Fenabrave, mas, a rigor, em 2011 ele foi, sim, o hatch médio mais vendido do País, com 35.717 unidades comercializadas. O Ford Focus, segundo colocado, fechou o ano bem atrás do modelo coreano, com “apenas” 27.611 emplacamentos.Atrás deles, veio o extinto Chevrolet Astra, com 21.554 unidades vendidas. A partir daí, estão modelos que não chegaram a emplacar 20 mil exemplares em 2011: VW Golf, Fiat Bravo, Citroën C4 e Nissan Tiida. Na nona posição, aparece o combalido Peugeot 307, com 6.645 carros vendidos e 3,44% de participação no segmento. O 308, seu sucessor, chega para reverter essa situação. Com novo visual e melhorias mecânicas, o francês desafia os líderes de mercado para tentar galgar posições nessa classificação e, pelo menos, voltar aos tempos em que, depois dos representantes das quatro grandes marcas, ele era o hatch médio preferido dos consumidores brasileiros.

A Peugeot está se valendo não só da qualidade do produto em si, mas também de sua fama de bom-moço. O 307 sempre foi o mais admirado da marca no Brasil, com ótima avaliação por parte de seus proprietários e alto índice de recompra. Agora, nessa nova geração, a aposta da marca para conquistar novos clientes está, principlamente, no pós-venda. O modelo oferece os mesmos três anos de garantia do Focus – dois a menos que o Hyundai i30 – e um pacote de manutenção com preço fixo até os 30 mil quilômetros mais barato que o do hatch da Ford, porém mais caro que o da coreana.

Vendida por R$ 59.990, sua versão Allure 2.0 manual é mais barata que o Focus correspondente, GLX 2.0 também manual, que tem preço sugerido de R$ 60.940. Mas, com esse valor, você pode levar para casa um i30 automático (como o das fotos, que tem preço sugerido de R$ 59.250) ou economizar um bom tanto e ficar com a versão manual, que sai por R$ 55.250. Os três modelos têm nível de equipamentos semelhante (confira tabela comparativa). Abrem mão de luxos como teto-solar, GPS e couro nos bancos, mas oferecem os principais itens exigidos pelos consumidores dessa categoria: airbag duplo, ABS, ar-condicionado, piloto automático, volante com ajuste de altura e profundidade e rodas de liga leve.

Apesar de ter as medidas externas menores, o Hyundai oferece praticamente o mesmo espaço para as pernas que o Focus. E ambos são melhores que o Peugeot nesse quesito. O francês, por outro lado, embora tenha a menor distância entre os eixos, tem o maior porta-malas. Seu bagageiro acomoda excelentes 430 litros, contra 328 litros do Focus e 310 litros do i30. Quando se leva três pessoas atrás, no entanto, o coreano é o mais apertado por conta de sua largura limitada. Já quem vai acomodado nos bancos dianteiros tem vantagem no Hyundai e no Peugeot. Com abas laterais mais largas e esportivas, suas poltronas acomodam e seguram melhor o corpo nas curvas.

 

O 308 mantém a característica de minivan da geração anterior, com posição de dirigir mais elevada. Ele oferece uma lista de equipamentos mais recheada que as dos rivais

Mesmo as fichas técnicas revelando que, com gasolina, os três modelos têm praticamente a mesma potência e torque, o 308 leva vantagem, principalmente na aceleração e nas retomadas de velocidade. Além de maior, o torque aparece em uma rotação mais baixa e, aliado ao câmbio curto, garante um comportamento bem esperto ao Peugeot. Na estrada, essa opção de escalonamento faz o motorista sentir falta de uma sexta marcha, que diminuiria tanto o ruído quanto o consumo; mas, na cidade, a receita é bastante agradável. O i30 chega perto da agilidade do francês, mas o Ford fica devendo. Quando deslancha, o Focus vai bem, mas demora mais para embalar. O i30 aqui se dá mal por não ser flex.

Independentemente da questão financeira (hoje praticamente não vale a pena abastecer o carro com etanol em nenhuma parte do País), o motor bicombustível é uma tecnologia que falta ao coreano e que, além da possibilidade de opção na hora do abastecimento, dá o direito ao consumidor, se assim desejar, a escolha de beneficiar o meio ambiente usando o combustível renovável, derivado da cana-de-açúcar.

 

O Focus tem a posição de dirigir mais esportiva e botão de partida sem chave. Sua nova geração deve chegar ao Brasil apenas em 2013

O PEUGEOT, MESMO CINCO ANOS ATRASADO EM RELAÇÃO AO MERCADO EUROPEU, AINDA CONSEGUE SER O MAIS ATUAL DOS TRÊS MODELOS APRESENTADOS NESTA DISPUTA

Pelo preço dos rivais, você pode comprar o i30 das fotos, com câmbio automático e mais completo. Mas ele será o primeiro a mudar 

 

Se o Focus não é campeão de agilidade, certamente é o modelo que oferece o melhor comportamento dinâmico e também o melhor equilíbrio entre o conforto e a estabilidade. Faz curvas como poucos, e sua direção, bem direta, faz o motorista se sentir em contato direto com o solo, mas sem pancadas secas. Muito agradável.

O i30 também é eficiente, mas, nas curvas em altas velocidades, seu limite chega antes que o do rival. Além disso, transmite mais as irregularidades do terreno por onde trafega. O 308, único dos modelos com eixo de torção na traseira (Focus e i30 têm rodas independentes), continua mantendo a característica de hatch equilibrado do 307 (ainda mais agora, com o teto rebaixado), mas está mais confortável que o antecessor.

 

 

No mais, o que se pode dizer é que atualidade não é predicado de nenhum dos três modelos deste comparativo. Tanto o Focus quanto o i30 que você vê nestas fotos já estão uma geração atrasados em relação ao restante do mundo, e serão substituídos em breve. A Hyundai, inclusive, está apenas desovando seu estoque de carros fabricados em 2011.

O próximo lote que chega da Coreia, já com ano e modelo 2012, terá o novo visual apresentado no Salão de Frankfurt (Alemanha) no ano passado – o que, em parte, justifica seu preço mais em conta diante dos rivais. O novo Focus, por sua vez, deve chegar apenas em 2013. Somente o 308, por enquanto, ainda está alinhado com o carro europeu. O problema é que, no Velho Continente, ele já é vendido há cinco anos. Ou seja, está próximo de ser substituído pelo 309.

 

De qualquer forma, nesse momento, por incrível que possa parecer, o carro que demorou meia década para aportar em terras brasileiras é mais atual que os líderes de mercado da Hyundai e da Ford e é o que deve permanecer mais tempo sem alterações por aqui. Entre esses três, vale o ditado: em terra de cego, quem tem um olho é rei. Apesar de a briga ser bem equilibrada se considerarmos apenas os produtos que são, com o Peugeot 308 a chance de perder dinheiro, a curto prazo, é menor. Em um segmento com opções já pouco atraentes, o francês se beneficia pela falta absoluta de novidades da categoria.

Pelo menos é o início da renovação de um segmento que, há tempos, não vê grandes novidades. Essa disputa deve ganhar mais emoção até o fim deste ano, quando devem entrar em cena as novas gerações de i30, além do inédito Cruze hatch. Por um novo Golf, certamente, ainda teremos que esperar um pouco mais.

OS CUSTOS DAS REVISÕES SÃO EQUIVALENTES, MAS O HYUNDAI LEVA VANTAGEM POR EXIGI-LAS APENAS DE ACORDO COM A QUILOMETRAGEM, ENQUANTO A PEUGEOT OBRIGA VISITAS ANUAIS ÀS CONCESSIONÁRIAS E A FORD, A CADA SEIS MESES

O 308 é o mais largo, mas falta espaço para os joelhos

O Focus GLX é o único dos três com bancos de couro opcionais

Menor por fora, o i30 tem interior que equivale ao do Focus