01/07/2012 - 0:00
Quem viaja atrás tem amplo espaço e cortinas de privacidade nos vidros traseiros; o som é de alta qualidade e as rodas aro 18 impressionam; há partida sem chave e um sistema que indica se o carro cabe nas vagas para ajudar na baliza; os faróis de xenônio acompanham as curvas e, no modo de luz alta, “enxergam” carros no sentido contrário e abaixam automaticamente; há luzes diurnas de LED, head-up display, ar-condicionado com quatro zonas independentes de temperatura, bancos elétricos e, ainda, seis airbags e controle de estabilidade. Sim, trata-se de um carro de luxo, um legítimo sedã executivo. É o novo Peugeot 508.
O preço de R$ 119.990, considerando o bom pacote, a princípio não é alto. Está bem próximo do que é cobrado pelos seus maiores rivais – e alvos – Hyundai Azera, Kia Cadenza, VW Passat, Volvo S60, Mercedes C180, BMW 320 e companhia. Nenhum deles tem ar com quatro zonas ou faróis altos automáticos, e na maior parte dos casos alguns desses itens acima não existem ou são opcionais, tornando-os um pouco mais caros. Até aí, o Peugeot leva vantagem. Mas, em uma comparação mais atenta, o Peugeot encontra um território difícil de conquistar.
Em porte, por exemplo, o 508 é um tanto maior que os alemães e o sueco (Volvo), mas ainda um pouquinho menor que os coreanos. Não dá para reclamar de falta de espaço, claro, e o porta-malas está bem dentro da média. O interior tem acabamento bastante caprichado, com detalhes até superiores aos dos principais oponentes, mas o design não é ousado como o dos coreanos, por exemplo. É ao volante, porém, que as desvantagens do Peugeot em relação aos concorrentes saltam aos olhos.
Com o preço dos rivais, mas desempenho inferior, o 508 vai ser um carro de imagem. O desafio é transformar isso em vendas
Peugeot 508 THP
MOTOR quatro cilindros em linha, 1,6 litro, 16V, injeção direta, turbo TRANSMISSÃO automática sequencial, seis marchas, borboletas no volante, tração dianteira, modos neve e esportivo DIMENSÕES comp.: 4,79 m – larg.: 1,85 m – alt.: 1,46 m ENTRE-EIXOS 2,817 m PORTA-MALAS 473 litros PNEUS 235/45 R18 PESO 1.410 kg GASOLINA POTÊNCIA 165 cv a 6.000 rpm TORQUE 24,5 kgfm a 1.400 rpm VELOCIDADE MÁXIMA 220 km/h 0 – 100 KM/H 9,2 segundos CONSUMO cidade: 9,6 km/l – estrada: 18,2 km/l (Europa) CONSUMO REAL não disponível
Bancos de couro, regulagens elétricas, seis airbags, tela de privacidade… tudo como cabe a um sedã grande executivo
Há poucos porta-objetos. Na frente, você dispõe basicamente deste espaço no console central e das laterias de portas. O ar é de quatro zonas e a roda de 18″
No desempenho, o 508 fica para trás de todos eles, até mesmo do Mercedes e do BMW, que têm motores de capacidade cúbica inferior – mas esses, apesar de menores, têm a vantagem inegável da marca e, principalmente, da tração traseira (no Mercedes há ainda amortecedores adaptativos, que tornam a dirigibilidade impecável).
O motor 1.6 turbo de 165 cv do 508, desenvolvido junto com a BMW, é uma unidade excelente no Citroën DS3, no Mini Cooper S, no 3008 e no RCZ. Nesse sedã, no entanto, ficou “pequena”. Embora um pouquinho mais potente que a do C 180, tem menor tamanho e menor torque. Ante os V6 do Hyundai e do Kia e o 2.0 turbo do Passat, então, não tem chance. Para acelerar de zero a 100 km/h, ele leva longos 9,2 segundos. E, se esportividade pode não ser a maior prioridade nesse segmento, pode, sim, ser um importante critério de desempate.
O câmbio, embora bom, não melhora a situação do 508. Os concorrentes têm automáticos de seis marchas – alguns até de sete – e o Passat, o ótimo sistema automatizado DSG de dupla embreagem. Aqui, um detalhe me incomodou: as borboletas para trocas sequenciais no volante são fixas, como nos Mitsubishi. Para mudanças em curvas, é preciso “caçá-las”, tateando com os dedos, o que não é nada conveniente.
Quanto ao volante com assistência elétricohidráulica, não há do que reclamar. Ele não anestesia demais o carro – ainda há boa comunicação com a pista – e tem um bom peso. As suspensões, no entanto, são boas em curvas, mas, mais macias que a média da marca, tiraram o toque de esportividade tradicional dos Peugeot. E ainda sofrem um pouco nas ruas mais esburacadas.
Conclusão: o 508 é um excelente sedã executivo, mas terá problemas para brigar em nosso mercado. Pelo valor que chega às concessionárias e com um conjunto mecânico que, nele, ficou muito acanhado, pode fazer sucesso somente entre os fãs incondicionais da marca. Se considerarmos, ainda, a falta de tradição da Peugeot nesse segmento, o 508 precisaria custar menos para conseguir roubar clientes dos já estabelecidos e tradicionais coreanos e alemães.
Acima, o painel mais bem-acabado que o de alguns concorrentes. Abaixo, o botão de partida, que ca à esquerda do volante, e os comandos (mal posicionados) do head-up display. A central multimídia é comandada pelo botão giratório no console central
Espaçoso e elegante, o sedã é grande e pesado demais para o motor 1.6 turbo