01/08/2012 - 0:00
Existem pelo menos duas maneiras de entender corridas de automóveis. Uma é aquela mais refinada, hipertecnológica e extrema dos monopostos – caso da Fórmula 1 e seus primos menores da GP2, GP3 e F-3 – com rodas descobertas e muito apurados do ponto de vista aerodinâmico. A outra é a dos protótipos e turismos – esses últimos versões mais elaboradas de carros de rua. Como esquecer os campeões europeus dos anos 60 e 70? As batalhas naquela época eram entre Alfa Romeo GTA, BMW 2002 e 3.0 CSI, Ford Escort e Capri – corridas nas quais não era incomum despontarem campeões como Jim Clark, Graham Hill, Jackie Stewart, Niki Lauda e Jody Scheckter, deuses da F-1. Hoje, como o Campeonato Mundial de Turismo (WTCC) tem menos brilho – até por conta do atual domínio do Chevrolet Cruze – duas outras categorias dividem as atenções dos apaixonados: a já consagrada DTM e a mais recente e promissora Superstars Series. De origem alemã e italiana, respectivamente, são duas disputas bem combativas, divertidas e cada vez com mais seguidores, entre pilotos e espectadores.
DTM: UMA LONGA HISTÓRIA
Considerada uma das mais importantes categorias do automobilismo mundial, a DTM é disputada desde 1984. Apesar de ser território dos alemães, tem em seu rol de honra a presença da italiana Alfa Romeo, que ganhou o título em 1993, com Nicola Larini. Este ano, o regulamento tem colocado ênfase na segurança, com a instalação de estruturas de proteção suplementares para o piloto. Uma delas é o assento, agora fixado à carroceria em fibra de carbono, como nos monopostos.
BRASILEIRO
Desde o início do ano, o piloto curitibano Augusto Farfus, 28 anos, é o primeiro brasileiro a competir na DTM. Ele é parte da BMW Team e corre com um M3
Para conter os custos, cerca de 50 componentes são idênticos para todos os concorrentes, deixando espaço para o desenvolvimento em áreas como aerodinâmica, suspensão e motores. Estes podem ser somente V8 com ângulo de 90 graus, cilindrada máxima de quatro litros e não mais de quatro válvulas por cilindro. São previstas ainda duas flanges restritivas na aspiração, cada uma com 28 mm de diamêtro, para limitar a potência a cerca de 500 cv. Um único conjunto câmbio-diferencial é fornecido a todos os concorrentes pela Hewland, assim como os pneus (Hankook), os sistemas de freio (SP), a gasolina (Aral) e a central eletrônica dos motores (Bosch).
Para a carroceria, este ano, no lugar dos habituais sedãs o foco está voltado é para os cupês. Assim, vemos nas pistas Audi A5, BMW M3 e Mercedes C Coupé dotados de vistosas asas. O mix de pilotos compreende especialistas, uma velha guarda gloriosa (com Ralf Schumacher e David Coulthard) e jovens esperanças, entre as quais um brasileiro – o piloto curitibano de 28 anos Augusto Farfus, corre pela equipe oficial BMW.
1 – De fibra de carbono com célula interna de sobrevivência e segurança idêntica para todos os carros, e submetida a rigorosos crash tests
2 – Oito cilindros em V, com cilindrada máxima de quatro litros, restrição na alimentação e potência máxima permitida de 500 cv
3 – Iguais para todos os pneus são da marca Hankook e o câmbio de seis marchas é Hewland. Já os freios são da marca AP com disco de carbono
SUPERSTARS: ESTILO ITALIANO
Nascido em 2004 pela iniciativa do ex-piloto italiano Maurizio Flammini – criador do campeonato Superbike – o Superstars também tem seu representante brasileiro. Christian Fittipaldi está disputando algumas provas da categoria este ano a convite da equipe Swiss Team, pilotando um Maserati Quattroporte. Na pista, carros de rua preparados para a corrida mas com restrições para limitar o orçamento das equipes. Com base no regulamento, os motores são V8, como da DTM, mas com cilindrada mínima de 3,8 litros. São previstos gargalos na alimentação e pesos que variam a cada disputa, com base no princípio do “balanço de performance” para garantir competitividade aos carros.
São tantos modelos e de tantas marcas distintas (BMW, Jaguar, Audi, Chrysler, Lexus, Maserati e Mercedes) que isso acabou se tornando um ponto de força extra da categoria, atraindo o público e a presença de pilotos de F-1 como Mika Salo, Johnny Herbert, Vitantonio Liuzzi e o próprio Christian. Diferentemente do que ocorre na DTM, que prevê uma corrida por etapa (com pit stop), na Superstars cada prova é composta por duas disputas, com o grid de largada da segunda organizado conforme a classificação na primeira (para os primeiros oito carros).
SHOW GARANTIDO
Tanto no paddock lotado da Supestars quanto nos boxes da DTM (à esquerda), o fascínio das corridas de Turismo é sempre o mesmo, sem a frieza dos Fórmula
Apesar das diferenças existentes entre as duas competições, DTM e Superstars guardam também semelhanças substanciais entre si, principalmente nos carros “musculosos” e no contato “corpo a corpo” entre os pilotos durante as corridas, o que acaba gerando espetáculos sem igual para os espectadores. Um nível de combatividade raro de se ver, que parece estar completamente afastada do mundo sofisticado dos monopostos.
1 – É praticamente a original do carro, mas com reforços estruturais em pontos críticos como capô, teto e portas
2 – Derivado da unidade de rua, os V8 têm restrição na aspiração de ar. A cilindrada não tem limite e a potência ca entre 440 e 550 cv
3 – Tração traserira ou integral, câmbio de seis marchas sequencial, kit de freios e pneus Hankook, iguais para todos, controle de tração e ABS