25/02/2013 - 14:55
Mudou a maré: depois de anos de crescimento do segmento de sedãs médios e de uma completa estagnação na oferta de hatches do mesmo porte, uma revolução começa a se desenhar. Não apenas a necessidade de renovação – mas também as mudanças de tributação e o novo regime automotivo – está obrigando as marcas a reverem seus planos e pensarem mais no Brasil. Pelas regras do Inovar-Auto, fabricantes locais têm direito a uma cota de importação de 4,8 mil carros por mês. Para muitos, como a Fiat, isso pode ter acarretado limitações; mas para outros, como a Renault, é uma nova oportunidade de negócios. Importar com impostos menores pode ser bem atraente para uma marca que tem gama limitada e fixada em produtos de baixo custo. Além disso, as mudanças no acordo bilateral entre o Brasil e o México também causaram alterações de planos. O Golf VII, que seria produzido por lá, deve começar a sair das linhas de São José dos Pinhais (PR) ao lado do Audi A3, e a Nissan decidiu que o substituto do Tiida deverá ser produzido no País.
O certo é que nos próximos dois anos uma avalanche de lançamentos inundará o segmento de hatches médios, e quem puder esperar por eles fará melhor negócio a partir dos próximos meses, quando começam a chegar os novos i30, Focus, Tiida e Golf. Além desses, em breve chegam Renault Mégane, Fiat Viaggio Hatch (o novo Bravo) e Kia Cerato Hatch. Um degrau acima teremos ainda novos representantes alemães (Audi A3 e Classe A) e japoneses (Mazda3 – leia mais na seção Segredos). Issso só para citar algumas das novidades.
A nova geração do Fiat Bravo poderá ser uma variante dois volumes do Fiat Viaggio, o novo sedã que compartilha a plataforma com o Dodge Dart e foi avaliado por MOTOR SHOW na China (edição 357). A Fiat nega a informação, mas várias fontes já dão como certo que o três volumes será produzido na fábrica que a marca está montando na cidade pernambucana de Goiana. Com relação ao sedã, que mede 4,68 m, o dois volumes perde cerca de 20 centímetros no comprimento, mas mantém o entre-eixos em ótimos 2,70 m. Ou seja, mesmo sem o porta-malas destacado, a marca conseguirá desenvolver um carro com excelente espaço interno e habitabilidade. Segundo Jack Cheng, o gerente-geral da joint venture chinesa Fiat-GAC, o modelo começará a ser produzido em 2014 na China.
Inicialmente, a ideia era produzir o carro também na Europa, segundo os padrões de qualidade e segurança do Velho Continente, mas essa possibilidade está sendo reavaliada. Aqui, o carro dividiria a plataforma com a versão sedã e, possivelmente, com o Jeep Cherokee que será feito sobre esta mesma base – e representaria a entrada definitiva da marca no segmento de SUVs nacionais (leia mais na seção Segredos). Ainda é cedo para falar em motorização, mas o carro pode utilizar o mesmo conjunto mecânico do Bravo atual, com propulsor 1.8 16V E-Torq de 132 cv e câmbio de cinco marchas. A suspensão é simples, com MacPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, e, assim como no sedã, deverá garantir comportamento seguro, com pouco balanço lateral. Fabricado aqui, o modelo deverá manter os preços na mesma faixa do Bravo – de R$ 50 mil a R$ 70 mil. O nível de equipamentos deverá ser um diferencial do modelo para enfrentar a concorrência – que, quando suas vendas se iniciarem, já estará muito mais acirrada do que atualmente.
Se a Fiat é enfática ao negar a vinda do hatch do Viaggio, porque isso complicaria ainda mais a vida do Bravo atual, outras marca não têm muito a perder e já começam a falar abertamente de seus planos para o futuro. É o caso da Renault, cujo diretor de marketing, Frédéric Posez, não esconde que estuda a possibilidade de importar o médio Mégane da França.
A decisão não poderia vir em melhor hora. Atualmente, a francesa praticamente não tem produtos importados no Brasil, e um carro moderno como o Mégane poderia fazer muito bem à imagem da marca, que hoje sobrevive (e muito bem) por aqui apenas com os produtos de plataforma proveniente da romena Dacia (Logan, Sandero e Duster). “Estamos buscando aumentar nossa participação de mercado e talvez não seja ideal investir em um produto de imagem que não possa ter algum volume de vendas”, afirmou Posez à MOTOR SHOW quando questionado sobre a possibilidade de importação do novo Clio. “Mas há produtos mais interessantes para isso, como, por exemplo, o Mégane”, completou. A versão que será trazida ao País ainda não foi definida, mas, como o carro custará mais caro que os concorrentes nacionais, é provável que a Renault opte pela versão topo de linha. O Mégane GT tem o mesmo motor 2.0 turbo de 180 cv e 30,6 kgfm de torque usado aqui no Fluence esportivo, acoplado ao câmbio manual de seis marchas. Com esse conjunto, o hatch poderia ser comercializado na faixa dos R$ 70 mil como uma alternativa às versões mais caras de Bravo e Golf.
A estratégia é bem diferente da adotada por sua associada japonesa, a Nissan. A marca está fazendo uma espécie de downgrade em sua linha, substituindo o Tiida pelo novo hatch Versa Note, apresentado no Salão de Detroit (a cobertura completa do evento pode ser conferida nesta edição). Inicialmente, o novo modelo será produzido no México, para atender não só à demanda local, mas também à norteamericana e à brasileira, já em meados deste ano. Mas, como divide a plataforma V com March e Versa, em um segundo momento sua produção será transferida para a nova fábrica da marca em construção em Resende (RJ). “Isso pode acontecer ainda em 2014; tudo depende da demanda que tivermos por March e Versa”, afirmou com exclusividade à MOTOR SHOW Andy Palmer, vice-presidente da Nissan.
Construtivamente mais simples, o Note é equivalente ao Tiida em dimensões, mas não em refinamento. Seu interior é espaçoso, mas o acabamento fica um degrau abaixo dos carros mais modernos do segmento. Equipado com motor 1.6 e uma boa lista de itens de conforto e segurança, terá como concorrente direto o Honda Fit e deverá partir de R$ 48 mil. A julgar pelas filas que se formaram, no lançamento de March e Versa, o carrinho será sucesso no Brasil.
A Peugeot também terá que usar de muita cautela com o novo 308 – que deveria se chamar 309, mas manterá o nome atual. É que o modelo demorou tanto para chegar ao Brasil e aposentar o 307 que, agora, terá que ficar entre nós por mais algum tempo antes de ser substituído pela nova geração que aparece nessas imagens. O carro deverá ser apresentado ao mundo ainda este ano, possivelmente no Salão de Frankfurt, no mês de setembro. Mas, por aqui, só deve dar as caras no fim de 2014, já como modelo 2015. Ou é isso ou a marca francesa deixará novamente sua linha muito defasada no Brasil – o que não é uma boa estratégia em tempos de competição acirrada e crise europeia.