17/06/2013 - 14:31
Sempre lembro com nostalgia da beleza dos modelos clássicos da Jaguar, principalmente do XK120 e do E-Type. Por isso, foi difícil controlar minha ansiedade enquanto viajava para Navarra, no norte da Espanha, para meu primeiro contato com o novíssimo conversível de dois lugares da marca, o F-Type. O fundador da marca de luxo inglesa, sir William Lyons, dizia que “um automóvel é o mais próximo possível que se pode criar de algo que tem vida”. E o F-Type não traiu suas palavras: mesmo parado, o modelo esbanja vitalidade.
Inspirado pelo carro-conceito C-X16, o roadster é extremamente sedutor, com detalhes de design surpreendentes fora e dentro da cabine como as maçanetas externas embutidas e as saídas de ar centrais da cabine, que sobem automaticamente. A linha nasce com três versões, todas equipadas com motores sobrealimentados por compressor. Duas delas são movidas pela unidade 3.0 V6, que pode ter 340 cv ou 380 cv (na versão S), enquanto a configuração topo de linha tem um instigante 5.0 V8 com nada menos que 495 cv de potência.
Ao entrar na cabine, além do acabamento esmerado, logo chama a atenção o fato de o motorista e o passageiro ficarem sentados bem próximos do eixo traseiro, com o longo capô à sua frente. Encontrar uma posição de dirigir confortável é bastante fácil, graças aos amplos ajustes elétricos tanto do banco quanto da coluna de direção. Como costuma ocorrer em modelos conversíveis, com a capota fechada a visibilidade traseira não é das melhores – mas o F-Type nasceu mesmo é para andar com o teto aberto. O sistema elétrico leva 12 segundos para recolher a cobertura de lona e acomodá-la na carroceria de forma a não roubar espaço do porta-malas.
Dou a partida no V6 de 340 cv e um rugido sai da dupla saída de escapamento. A sinfonia fica mais audível ao pressionar a tecla que libera uma válvula no sistema de exaustão, deixando o ronco ainda mais encorpado. Inicialmente o F-Type parece um carro dócil, mas basta provocá-lo um pouquinho para sentir seu poder. Para deixar as coisas mais apimentadas, há também um botão que permite mudar parâmetros de condução, deixando as suspensões mais firmes e o volante mais sensível.
Todas as versões usam a transmissão automática de oito marchas da alemã ZF. As mudanças são feitas rapidamente, de forma quase imperceptível, e há a opção de trocas sequenciais por borboletas junto ao volante (ou na alavanca). No modo mais esportivo, as suspensões copiam bem o piso e cooperam na estabilidade e no equilíbrio – ajudados pela distribuição de peso exemplar, com 50% em cada eixo. O aerofólio levanta automaticamente a 100 km/h e produz uma carga aerodinâmica de 120 quilos, para deixar o F-Type ainda mais grudado ao chão.
Já a versão V6 S, cuja potência sobe para 380 cv, tive o prazer de acelerar no circuito de Navarra. Ela ganha recursos não encontrados no modelo “de entrada”, como o sistema que mostra na tela multimídia a força G (acelerações laterais e longitudinais), a posição dos pedais de acelerador e de freio e até um cronógrafo. A sensação, de certa forma, é a de se estar não em um carro, mas em um simulador. E se as suspensões já haviam provado sua eficiência nas estradas até Pamplona, na pista se mostraram ainda mais precisas, deixando a carroceria rolar minimamente mesmo nas curvas mais fechadas.
No dia seguinte, foi a vez de testar a configuração V8 S, com intimidadores 495 cv. O ronco já empolgante do motor V6 é elevado a “assustador” nesse oito cilindros, e as quatro saídas de escape emitem um forte estouro a cada redução de marcha. O torque abundante – mais de 63 kgfm disponíveis na sua totalidade das 2.500 às 5.500 rpm – faz o corpo ser pressionado contra o encosto do banco com força, e basta afundar um pouco mais o pé no acelerador nas saídas de curva para dar umas escapadas de traseira, mesmo com o controle de estabilidade ligado. Em curtos espaços, o modelo atinge velocidades que extrapolam o limite do bom senso, e a máxima é limitada eletronicamente a 300 km/h.
O F-Type começa a ser vendido no Brasil no início do segundo semestre deste ano, e estimamos que o preço inicial parta dos R$ 420 mil, chegando a pouco mais de R$ 500 mil na versão V8. A estratégia é posicioná-lo entre os Porsche Cayman e 911. E olha que o F-Type tem cacife para isso. Sir William Lyons certamente ficaria orgulhoso dessa mais nova criação da marca.