30/04/2014 - 20:07
A era dos pilotos cerebrais parece ter chegado ao fim – e não é de hoje. Com o novo regulamento da Fórmula 1, parece cada dia mais distante a chance de um piloto “velho” e experiente voltar a se consagrar na categoria. Já faz tempo que as equipes vêm dando preferência a pilotos muito jovens, que costumam ter o porte físico ideal para “vestir” os carros cada vez mais apertados. Peso é tudo.
Velocidade também. Tática? Nem tanto. O GP da Austrália foi um bom exemplo dessa tendência. Nem tanto pelo vencedor, o alemão Nico Erik Rosberg, que já tem 28 anos. Pilotos dessa idade sempre frequentam o lugar mais alto do pódio. Mas a verdade é que veteranos como Jenson Button, 34 anos, e Fernando Alonso, 32, foram meros coadjuvantes. O dinamarquês Kevin Magnussen, de apenas 21 anos, levou seu McLaren Mercedes ao pódio e mostrou que não será apenas o número 2 de Button. Quando o inglês estreou na Fórmula 1, em 2000, Magnussen (seu colega atual) tinha apenas oito anos.
Por seu lado, Daniil Kvyat, 19 anos, tornouse o piloto mais jovem da história a pontuar num GP ao levar seu Toro Rosso ao nono lugar. Kvyat nasceu em Oufa, na Rússia, cinco dias antes da morte de Ayrton Senna no GP de San Marino de 1994. O piloto brasileiro morreu aos 34 anos e foi um dos últimos a brilhar com idade razoavelmente avançada. Ayrton conseguiu seu primeiro título na F1, em 1988, aos 28 anos. Outro brasileiro tricampeão, Nelson Piquet, foi campeão pela primeira vez, em 1981, aos 29 anos. Senna e Piquet ainda eram do tempo em que pilotos de idade avançada venciam campeonatos.
Pelo menos até a primeira metade dos anos 1990, o condicionamento físico e o peso não eram tão importantes como atualmente. Mais do que isso: a exigência sobre os pilotos era diferente do que é hoje. Eles de fato comandavam sua própria corrida dentro dos carros. Eram mais exigidos na condução, na troca de marchas, no controle de combustível e, principalmente, na poupança do motor. Piquet, Alain Prost, Emerson Fittipaldi e Niki Lauda eram pilotos cerebrais – conseguiam estabelecer uma tática de corrida e muitas vezes surpreendiam os adversários, sem necessariamente serem os mais rápidos na pista. Com as novas regras, vários fatores imponderáveis entraram em cena, como a economia de combustível e a maior possibilidade de quebra dos motores. Isso poderia trazer de volta os pilotos cerebrais. Mas não trará. Hoje a exigência cognitiva dos pilotos é diferente. Eles devem se preocupar apenas em lidar habilmente com inúmeros comandos ao volante, ser o mais rápido possível (o que significa até ter mais coragem para enfrentar qualquer curva) e, principalmente, obedecer às ordens dos boxes. “Save the engine” (poupe o motor) foi a frase mais ouvida no rádio na abertura da temporada. Eram os engenheiros dando as ordens dos boxes para os pilotos.
Mesmo o ritmo de cada um agora é determinado pelos boxes. “Você economizou combustível, pode acelerar tudo” também é uma frase comum. Com isso, o papel dos pilotos fica cada vez mais reduzido. O recente fiasco de Michael Schumacher na F1 mostrou que os “velhinhos” não têm mais vez. Juan Manuel Fangio ganhou o primeiro
de seus cinco títulos, em 1951, aos 40 anos! Mesma idade de Jack Brabham ao se sagrar três vezes campeão, em 1966. Fangio detém o recorde de piloto mais velho a ser campeão: 46 anos. Nigel Mansell
já tinha 39 anos quando foi campeão, em 1992. Prost tinha 38 no ano seguinte, ao levantar seu quarto título. Schumacher foi o último piloto “velho” (35 anos) a subir ao trono da Fórmula 1, em 2004. Nas
últimas nove temporadas, sete delas consagraram pilotos com no máximo 26 anos: Fernando Alonso (24 anos em 2005 e 25 em 2006), Lewis Hamilton (23 em 2008), Sebastian Vettel (23 a 26 anos de 2010 a 2013). Kimi Räikkönen (28 anos) e Button (29 anos) já eram considerados veteranos quando foram campeões. A hora parece ser dos meninos. Veteranos como Felipe Massa e Alonso, de 32 anos, Räikkönen e Button, 34, correm contra um tabu de dez anos.