Passei uma semana no futuro e voltei para contar. Mas vou falar só de um carro. A BMW lançou o i3, e praticamente reinventou a roda. Bem, na verdade rodas e pneus são apenas mais finos que o normal – mas, em todo o resto, ele representa uma revolução automotiva. É diferente de ver, usar e guiar. A aurora de uma nova era, a era da eletromobilidade, morou?

Mesmo no futuro, o design diferente atraía curiosos, fotografando com smartphones. O frenesi era maior quando abria as portas traseiras “suicidas”, exibindo a ausência da coluna central e facilitando o acesso (tornando muito fácil colocar meu filho Mathias em sua cadeirinha).


O painel, clean, é diferente de tudo. Acima ao lado, a tela dianteira, abaixo os comandos do câmbio e de partida reunidos em um módulo junto ao volante, os controles multimídia e a tela central – que mostra, entre outras coisas, o fluxo de energia e o estado dos motores e das baterias

Lá dentro, fibras ecológicas, nada de bancos de couro (não matamos mais animais para isso), painel clean, assoalho plano, teto solar duplo e linha de cintura baixa – tornando a cabine integrada às cidades, mais limpas graças a carros de emissão zero como esse i3. O mais diferente, porém, é a experiência ao volante. Comando do câmbio e botão de partida ficam em um módulo junto ao volante. Dada a partida, não há ruído. Ao tocar o acelerador, o i3 arranca com vigor e emite um discreto zunido.

Com 0-100 km/h em 7,2 segundos, bate muitos esportivos. Há apenas uma marcha à frente, e a aceleração é muito linear. E o mais surpreendente é o que ocorre quando se alivia o pé direito: para recuperar energia cinética, que se transforma em eletricidade e volta às baterias, ele perde velocidade rápido, “freando” sozinho. Depois de um tempo, me peguei calculando o espaço até o farol e aliviando o pé na hora certa, parei de usar o pedal do freio. É o chamado one pedal feeling.


Com as portas traseiras suicidas abertas e sem coluna B, o acesso ao interior é facílimo. As belas rodas vêm com pneus finos para redução do gasto energético

A autonomia de 170/190 quilômetros entre recargas (30 minutos nas estações rápidas, como a que você pode ter em casa) é mais que suficiente, mas um motor de moto permite rodar 120 quilômetros adicionais. Na estrada, mal se percebe quando é ligado, mas o carro fica fraco se as baterias se esgotam. De qualquer modo, é um belo quebra-galho para não te deixar na mão (onde não encontrar recarga rápida ou tomada comum aterrada). O melhor é que para fazer essa viagem ao futuro não é preciso máquina do tempo. O i3 já está à venda por R$ 225.950. Caro, por não ter incentivo do governo. Se tivesse a grana, porém, compraria um agora mesmo.

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Ficha técnica:

BMW i3 Rex

Motor principal: elétrico síncrono
Extensor de autonomia: gasolina/660 cm3/34 cv a 5.000 rpm
Potência: 170 cv a 4.800 rpm
Torque: 25,5 kgfm de 1 a 4.800 rpm
Câmbio: uma marcha à frente e uma à ré
Tração: traseira
Direção: elétrica
Dimensões: 3,999 m (c), 1,775 m (l), 1,578 m (a)
Entre-eixos: 2,570 m
Pneus: 155/70 R19
Porta malas: 260 a 1.100 litros
Tanque: 9 litros (extensor de autonomia)
Peso: 1.315 kg 0-100 km/h: 7s2
Velocidade máxima: 150 km/h
Consumo: 12,9 kWh/100 km (média, na Europa)
Autonomia: 190 km/carga ou 310 km (com o extensor de autonomia)
Tempo de recarga: 30 min (rápida), 16 horas (110V) ou 8 horas (220V)
Nota do Inmetro: não participa por ser elétrico

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Contraponto

Por Rafael Poci Déa

Sempre fiquei maravilhado com a tecnologia dos carros “verdes”. Já dirigi alguns modelos, mas esse BMW i3 é digno de aplausos e elogios. Está certo que o Brasil ainda não está preparado para esses carros e, encontrei um único ponto de recarga em São Paulo. Meu problema foi o tempo gasto para recarregar a bateria – bem superior a 30 minutos. Eu até poderia abastecer o pequeno motor a combustão, mas queria conhecer o i3 puramente elétrico. E que carro formidável! Dificilmente alguém te alcança nas saídas de semáforo. Ela arranca como um foguete.

Concordo com o meu colega Flavio que é divertido guiar sem utilizar o pedal do freio. Contudo, apesar das suas muitas qualidades, eu não gastaria o meu dinheiro com o i3. Por quê? Primeiro, como moro em prédio, haja paciência para ir recarregá-lo quando necessário. Segundo, acredito que os veículos a combustão interna dificilmente irão desaparecer. Por isso, ainda continuo preferindo o som dos velhos motores – e, principalmente, a “música” dos propulsores V8.