Normalmente, esta seção revela em primeira mão informações sobre modelos inéditos, na maior parte ainda não lançados em lugar nenhum do mundo, mas que muito nos interessam – como os que serão produzidos no Brasil. Dessa vez, entretanto, vamos falar de um carro que não é segredo nenhum (foi mostrado oficialmente pela marca) e que pode até – e esse é o segredo – não chegar aqui. Trata-se do novo sedã médio da Fiat, ainda sem nome, chamado por enquanto de Projeto Ægea. Esse novo três volumes foi lançado no Salão de Istambul, Turquia, como substituto do Linea.


Tempra, Marea e Linea: o histórico negativo da Fiat no segmento de sedãs médios é um dos fatores que pesa contra o novo modelo ser fabricado aqui

Com 4,50 m de comprimento, 1,78 m de largura e 2,64 m de entre-eixos, ele é um pouco menor que Toyota Corolla e Honda Civic (mas, com plataforma alargada, corrigiu o problema da largura limitada do antecessor). Será oferecido na Europa com quatro motores: dois a diesel e dois a gasolina, com potências entre 96 e 121 cv. Por ser construído sobre a plataforma do Jeep Renegade, faria sentido produzi-lo na nova fábrica da FCA em Pernambuco. Finalmente a Fiat teria um desafiante à altura dos eternos líderes japoneses Honda Civic e Toyota Corolla (agora acompanhados do Nissan Sentra no terceiro lugar).

Mas, pasmem, isso pode não acontecer. Esse sedã tem grandes chances de ficar restrito Oriente Médio, Europa e África. E sabe por quê? A resposta para essa pergunta mistura o histórico de fracassos da Fiat no segmento com uma mudança nos interesses do consumidor. Se o Fiat Tempra (1991-1998) até emplacou bem na década de 1990, quando a concorrência era pouca e mal existiam SUVs no Brasil, atingindo 40.000 unidades/ano, o Marea (1998-2007) e o Linea (2007-hoje) chegaram em uma época diferente, com concorrência acirrada, e foram bastante frustrantes para a Fiat, sem nunca obter participação expressiva no mercado.


O design do Projeto Ægea é bem acertado e seu interior, mais espaçoso que o do Linea

Enquanto o Marea teve média de vendas pouco acima de 5.000 carros/ano, do Linea a marca emplaca menos de 1.000 unidades mensais. Com o domínio total das japonesas no segmento, ganhar espaço com um novo modelo é ainda mais desafiador (e desanimador). A esse passado de experiências traumáticas se junta a mudança drástica no gosto do consumidor: hoje mesmo quem vende bem sedãs, como a Honda, está priorizando a produção de crossovers (no caso, o novo HR-V). E esse é o ponto que torna ainda mais improvável a produção dessa novidade da Fiat por aqui.

Por que investir em um segmento tão difícil e com um histórico ruim para a marca, além de decadente na preferência do consumidor, e não em um crossover – que, vale frisar, a Fiat não tem, além do envelhecido e limitado por cotas Freemont mexicano? Que a fábrica da FCA em Pernambuco terá um quarto modelo ainda não revelado – além do Renegade, da picape compacta-média da Fiat e da nova geração do Jeep Compass, como já falamos aqui – é fato. Fontes da fábrica nos confirmaram isso. Enquanto o Compass será feito sobre a plataforma CUSW (Compact US Wide), os outros três modelos usarão a small wide (ou B-Evo): Renegade, picape e…?


Em vez de se arriscar com outro sedã, a Fiat pode acabar optando por esse crossover maior, atendendo a pedidos de sua enorme rede de concessionários

Até fim de 2017 ou 2018, a Fiat vai decidir qual será ele. Esse sedã do Projeto Ægea ainda não está totalmente descartado, é claro, mas ao que tudo indica a marca vai manter o Linea atual em produção em Betim (MG) por mais algum tempo e investir suas novas fichas no segmento de crossovers. Pode ser o simpático 500X? Pode, mas não deve, pois ele brigaria diretamente com o Renegade. Assim, o escolhido deve ser o modelo ilustrado abaixo, que começamos a desvendar ainda na edição de julho do ano passado: trata-se de um novíssimo crossover médio maior que o Jeep Renegade e menor que o Jeep Compass, com visual inspirado na tradicional “família 500” e o atrativo da marca “Adventure”, já consolidada e de grande sucesso no Brasil. A decisão final, acredite, só vai ser tomada na última hora. Depende de como andar o mercado.