Depois de me apaixonar pelo Honda Civic Si (leia aqui), pelo Range Rover Vogue (leia aqui) e pelo Mercedes-Benz C 300 Cabriolet (leia aqui), pelo Mercedes-AMG C 63 S Coupé (leia aqui)e pelo Mini Cooper Cabrio JCW (aqui), vou falar de outro carro que teria garagem se o dinheiro não fosse uma limitação: o Jeep Wrangler Rubicon (que já avaliamos antes aqui). É um dos meus “carro pra casar”!

(Carros pra casar? Costuma-se falar daqueles que sofrem grande desvalorização e ficam com um valor de revenda tão baixo que você se recusa a vender. Ou daquela versão manual de um sedã médio pelo qual ninguém mais tem interesse. Enfim, daqueles carros dos quais você quer se livrar e não consegue. Mas essa não é a minha visão de um casamento; não o vejo como algo do qual as pessoas querem se livrar. Para mim, casar é uma forma de ficar pra sempre com alguém (ou algo, no caso aqui) que se ama. Nessa seção do Blog Sobre Rodas, portanto, falo de carros que conquistaram meu coração. Daqueles pra colecionar, casar, pra ter para sempre como companhia).

O CARRO

Após um período fora do mercado brasileiro, o Jeep Wrangler está de volta na versão quatro portas Unlimited Rubicon. Vendido por cerca de R$ 450 mil, ele é  uma opção única no mercado, se considerarmos o pacote como um todo.

Seus concorrentes mais diretos seriam jipes como Troller T4, mas este não têm versões com quatro lugares e um porta-malas decente. O Land Rover Defender (leia mais sobre ele aqui) é o rival mais próximo e direto, considerando-se preço e proposta – apesar de ter se rendido ao monobloco e não ser tão versátil.

Rodamos mais de 400 quilômetros, cruzamos de São Paulo para Minas Gerais pela Serra da Mantiqueira, chegamos a altitudes de quase 2.000 metros. Adianto aqui a minha  conclusão: é o único carro que você vai querer depois de dirigi-lo — esquecendo qualquer racionalidade na decisão, obviamente.

Wrangler
Jeep Wrangler Rubicon em São Francisco Xavier, SP

O QUE DESPERTA A PAIXÃO

Personalidade única

Herdeiro direto do clássico Jeep Willys de guerra, ele se mantém fiel a algumas de suas características clássicas – e também ao design. Ainda há por aí SUVs “raiz” como Chevrolet Trailblazer, Pajero Sport e alguns outros… mas eles não chegam nem perto de ter o charme desse clássico Jeep.

Wrangler

Nem mesmo o Land Rover Defender, com sua história e toques retrô, embora belo, é tão estiloso quanto este Wrangler. Pode até ser melhor em diversos pontos, como o conforto no uso on-road, mas, quando se fala em estilo, não tem comparação.

Capacidade off-road ímpar

Saindo de São Paulo, seguimos para São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos em meio à Serra da Mantiqueira. De lá, cruzamos para o Sul de Minas Gerais por estradas de terra quase abandonadas e levamos o Wrangler para subir a Pedra do Jair – nada a ver com o presidente – uma trilha indicada no aplicativo Jeep Trilhas (que é muito interessante para quem busca passeios off-road).

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Até o Restaurante no bairro do Juncal, na cidade de Gonçalves (MG), qualquer 4×2 chega com facilidade. Já a subida para o topo da pedra é um pouco mais radical – ou ao menos é o que dizem, porque, para o Wrangler, foi moleza.

Apesar de o câmbio ser automático de oito marchas, os controles do sistema de tração são por alavanca, “old school”, e há recursos de sobra para o off-road. O Wrangler não tem seletor de terreno, como alguns SUVs modernos, mas sua barra estabilizadora dianteira pode ser desconectada ao toque de um botão – o que aumenta a capacidade de articulação das rodas 17 com ignorantes pneus 255/75 todo terreno – e há bloqueios dos diferenciais central (4×4 lock), traseiro ou traseiro e dianteiro ), esses também acionados por botões no painel. Veja os controles abaixo:

Bem, não precisei usar nada disso nesse “desafio”. No “4×4 auto”, o Wrangler subiu sem titubear, sem reclamar de nada, e com conforto surpreendente (principalmente depois de desacoplar a barra estabilizadora). Com construção com longarina sobre chassi, distância mínima do solo de 27,4 cm e suspensões com eixo rígido que garantem robustez absurda, ele ainda conta com mais de 40 kgfm no motor 2.0 (que substituiu muito bem o antigo V6). 

Lá em cima da pedra, nos esperava um Wrangler Sport mais antigo, duas portas. O dono, Rafael, leitor da MOTOR SHOW desde o primeiro número, quis espiar. Perguntou do motor turbo, e de seu consumo. Reclamei dos 8 km/l na estrada, andando a 120 km/h, e ele disse que o dele faz isso a 80 km/h – a 120 km/h, faz só 5. Lá em cima, um par de jipinhos Javali também curtia a paisagem.

Na descida, cruzamos com um Troller T4, que subiu sem hesitar, mas “gritando”, escorregando, onde nosso Wrangler há pouco havia passado como se fosse uma rampa de shopping asfaltada. Senti falta de um desafio maior – não encontrei trilha que fosse desafio real para o Rubicon na região.

Muita versatilidade

O Jeep Wrangler parece um brinquedinho. Ou melhor, um brinquedão, já que tem mais quase 5 metros de comprimento e mais de 3 metros de entre-eixos. Na verdade, ele lembra um lego, pois pode ser desmontado e remontado facilmente.

A parte mais simples é retirar o teto da parte dianteira: basta soltar 4 travas de cada lado e retirar as duas peças da cobertura – que são acomodadas em uma bolsa especial, que pode ser fixada no porta-malas junto aos bancos traseiros. Com um pouco mais de tempo, soltando oito parafusos – sempre com o uso de um kit de ferramentas que vem no porta-luvas – você consegue retirar toda o resto do teto e a tampa traseira. O único problema é que ela é bastante pesada, então eu e minha esposa não conseguimos retirá-la sem ajuda.

As quatro portas também podem ser tiradas facilmente: são três parafusos em cada uma, além de ser necessário soltar o conector elétrico das travas e vidros. Essa tarefa eu e meus filhos Matias, 9, cumprimos em pouco mais de 10 minutos. O legal é que, como os alto-falantes ficam em cima do painel e na barra localizada entre os bancos dianteiros e traseiros (que não sai junto com o teto), o sistema de som funciona normalmente mesmo ao se retirar as portas. Veja abaixo todas as possibilidades do Wangler:

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Andar no Wrangler sem as portas garante uma experiência única de integração com a natureza – incluindo aí poeira e pedriscos entrando na cabine loucamente. É muito legal quando se anda a até 20 ou 30 km/h por distâncias curtas, mas acima disso, ou em viagens mais longas, se torna um pouco cansativo.

Tamanho generoso

Além de divertido, o Wrangler Unlimited tem espaço de sobra para a família. Algo raro em jipes raiz como Troller T4 e Suzuki Jimny. O porta-malas é enorme: a capacidade oficial até a os vidros é de 565 litros, mas, como não há cobertura e os bancos altos ajudam a segurar a bagagem, dá para usar o espaço até o teto.

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No banco traseiro, viajam até três  pessoas, mas, apesar dos mais de três metros de entre-eixos, o espaço para as pernas não impressiona (afinal, boa parte das medidas está no enorme capô dianteiro e no porta-malas).

Tecnologia embarcada

Mesmo sendo um carro extremamente robusto e fiel às suas origens, o Wrangler tem bastante tecnologia embarcada. Além do sistema de tração e da barra estabilizadora com desacoplamento eletrônico, tem uma central multimídia moderna e completa, que ainda traz uma série de informações para o uso off-road.

Tanto na tela central quanto no quadro de instrumentos, é possível acompanhar em tempo real ângulo de esterço das rodas, o inclinamento da carroceria (lateral e de rampa), o estado dos diferenciais e muito mais. Há, também, uma câmera na dianteira que ajuda a desviar dos obstáculos nas trilhas.

O QUE PODE LEVAR AO DIVÓRCIO:

Conforto (ou melhor, a falta dele)

Do lado negativo, não há como esperar muito conforto de um carro construído sobre chassi com suspensão com eixos rígidos. Na verdade, até mesmo entrar no Wrangler é um pouco complicado, pois a carroceria fica altíssima, então é preciso usar as alças para ajudar a subir nele.

Na estrada, o ruído dos pneus lameiros se faz presente na cabine, assim como um barulho de vento constante que vem das portas, como se estivessem mal fechadas. No uso cotidiano na cidade e na estrada, a grande “folga” do sistema de direção incomoda, exigindo constantes correções, assim como a visibilidade ruim e o tamanho exagerado.

Consumo altíssimo

Depois de rodar mais de 400 quilômetros com o Wagner, preciso dizer que não gastei pouco dinheiro com gasolina. As melhores médias, tanto na estrada quanto na cidade em grandes avenidas sem trânsito, foram de 8 km/l – o que não é tão ruim comparado aos modelos mais antigos deste jipão. Nas estradas de terra, porém, as médias caíram para 6 km/l – e, nas trilhas, para cerca de 4 km/l.

Média total de consumo durante minha viagem: exatos 6,5 quilômetros com cada litro de gasolina. Um gasto alto, e que não melhora mesmo quando se tenta dirigir de modo mais econômico. Mas isso não chega a ser um problema para quem pode pagar R$ 450 mil em um “brinquedão”… o que nos leva a outro “defeito”, o único que me afasta de colocar um na garagem hoje mesmo: o preço.

FILHOS?

Neste casamento, os filhos são muito bem-vindos, como comprovei: eles cabem muito bem no Wrangler, assim como todas as tralhas que costumam acompanhá-los. E, na verdade, não dava para saber quem ficou mais triste quando devolvemos o Wrangler na concessionária Jeep. As crianças queriam passear mais, e eu também confesso que fiquei extremamente decepcionado de voltar a um carro normal depois desta pequena aventura.

FICHA TÉCNICA

Jeep Wrangler Rubicon 

Motor: quatro cilindros em linha 2.0, 16V, injeção direta, turbo
Cilindrada: 1995 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 272 cv a 5.250 rpm
Torque: 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: eletro-hidráulica
Suspensões: eixos rígidos (d/t)
Freios: disco ventilado (d) e disco sólido (t)
Tração: 4×2, 4×4 sob demanda, 4×4 part-time e 4×4 com reduzida, bloqueio dos diferenciais traseiro e dianteiro
Dimensões: 4,785 m (c), 1,877 m (l), 1,868 m (a)
Entre-eixos: 3,008 m
Pneus: 255/75 R17
Porta-malas: 548 litros
Tanque: 81 litros
Peso: 2.034 kg
0-100 km/h: 8s1
Velocidade máxima: 180 km/h
Consumo cidade: 7,3 km/l (PBEV) e 6 km/l (teste MS)
Consumo estrada: 7,8 km/l (PBEV) e 8 km/l (teste MS)
Emissão de CO2:  245 g/km*
Nota do Inmetro: E*
Classificação na categoria: E (Fora de Estrada Compacto)*
*estimado 

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