17/09/2021 - 8:16
Desde seu lançamento, o Renault Captur sofria com a falta de uma mecânica mais, digamos, respeitável. Seu motor 2.0 era potente, mas, ligado a uma transmissão de apenas quatro marchas, não entregava tanto desempenho e ainda gastava demais. Foi aposentado. Já a versão 1.6 tinha um bom câmbio CVT, mas faltava potência e o consumo, ainda assim, era apenas razoável. Agora, o SUV ganhou uma ótima mecânica 1.3 turbo e atualizações na cabine e plataforma (leia aqui a avaliação). Será o suficiente para virar o jogo? Para responder a esta pergunta, nada melhor do que um desafio: enfrentar a melhor opção do momento na categoria de SUVs compactos, nossa Compra do Ano 2021: o Chevrolet Tracker (leia mais aqui).
As versões das fotos são as mais caras dos SUVs. Olhando as gamas completas, o Tracker tem opções 1.0 turbo e parte de bem menos – R$ 99.750 com o câmbio manual e R$ 109.290 com o automático. Já o Captur é sempre automático e parte de R$ 124.490, valor próximo dos R$ 127.390 do Tracker Premier, o 1.0 topo de linha. Já com o motor 1.2, a mesma versão do Chevrolet vai a R$ 136.490, mais do que custa o Captur Intense, de R$ 129.490, e quase o mesmo valor da versão Iconic avaliada, de R$ 138.490 (sem pintura em dois tons, que o leva a R$ 141.690). Confira aqui todas as versões e equipamentos do novo Renault Captur 2022.
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Na tabela de equipamentos abaixo, com o Chevrolet Tracker 1.2 e as versões mais completas do Renault Captur, vantagem do primeiro, que tem itens não encontrados nem no Renault Captur Iconic – como airbags laterais, frenagem automática, teto panorâmico, carregador de celular sem fio, estacionamento semiautônomo e retrovisor eletrocrômico. Por outro lado, o Captur mais caro se destaca pelas exclusivas câmeras 360º, pelo som Bose e pelos retrovisores rebatíveis eletricamente. Mas ambos chegam no limite superior do segmento de compactos, se aproximando das versões mais básicas, porém já bem equipadas, de SUVs maiores como Toyota Corolla Cross (leia avaliação) e Jeep Compass (clique aqui para a avaliação da versão de entrada) – ambos já na faixa de R$ 145/150 mil.
Tamanho é documento?
O mesmo “limite” entre compactos e médios aparece no porte. Em relação aos modelos que acabo de citar, o Renault Captur tem quase o mesmo tamanho. No comprimento, é só 2,5 cm menor do que o Jeep Compass e nem 10 cm menor que o Toyota Corolla Cross – e ainda ganha de ambos na distância entre-eixos e tem um porta-malas similar. Mas, para começar, o Jeep tem uma cabine muito mais sofisticada, e até mesmo o Corolla Cross, apesar dos defeitos, neste ponto supera os dois compactos daqui.
Além disso, as medidas externas, por si só, nem sempre dizem tudo sobre o espaço interno de um carro. Aqui, a vantagem no porte não se reflete tanto na cabine. Migrando com família e malas do Captur para o Tracker, a sensação geral foi de mais espaço no último. Stella, 4 anos, usa uma cadeirinha volumosa e parou de reclamar do pé raspando no banco da mãe – que, sentada na frente, também achou o Chevrolet mais espaçoso.
A sensação de maior amplitude interna é reforçada pelo amplo teto panorâmico do Tracker, que “amplia” a cabine, mas é inegável que os 10 cm extras no comprimento e no entre-eixos não trazem a vantagem que se imaginaria ao Captur. A verdadeira vantagem do Renault aparece no porta-malas: a diferença não chega a 50 litros na capacidade total, é verdade mas, dos 393 litros do Tracker, 36 estão “escondidos” sob o assoalho e servem só para objetos pequenos. Ou seja, nem sempre você vai conseguir aproveitar tudo, principalmente ao transportar objetos maiores, como bicicletas.
Já no acabamento, vantagem do Renault Captur. Ele tem mais superfícies macias e black piano, enquanto o Chevrolet Tracker usa plásticos que imitam fibra de carbono e agradam aos olhos, mas não ao toque.
Por outro lado, este tem melhor ergonomia, com comandos mais intuitivos, como o ar-condicionado que pode ser controlado tanto por botões tradicionais quanto pela central multimídia – que ainda tem tela melhor localizada e práticos atalhos para mudança de faixa logo abaixo dela, além de wi-fi e Android Auto sem fio. Só perde para o Captur em qualidade sonora, no caso da versão com o som Bose.
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Chevrolet Tracker vs. Renault Captur: pequenos e surpreendentes
Os motores seguem o downsizing. O Tracker já chegou a esta geração com o 1.2 turbo, enquanto a grande novidade do Captur é justamente o 1.3 turbinado que estreou agora. A unidade foi desenvolvida junto com a Mercedes-Benz e manteve a injeção direta de combustível – que o Tracker não tem. Mas difere da usada nos Classe A e B e no GLA por não ter desativação de cilindros, que ajuda a poupar combustível (sistema cortado para redução de custos). Por outro lado, é flex e mais potente que o motor usado pela marca alemã.
Os dados técnicos mostram ampla vantagem para o Captur: 170 cv e 27,5 kgfm com etanol, contra 133 cv e 21,4 kgfm no rival. Mas o Renault é quase 100 quilos mais pesado e usa transmissão CVT – agora com oito marchas simuladas –, enquanto o Tracker tem câmbio automático tradicional de seis marchas. A aceleração de 0-100 km/h leva ótimos 9,2 segundos no Renault, contra 11,1 no Chevrolet Tracker – isso segundo os dados oficiais, mas vale notar que marcamos menos de 10 segundos em nosso teste (enquanto no Captur fizemos os mesmos 9s2 declarados). Ah, e para quem busca esportividade, é bom notar que nenhum dos dois tem aletas para trocas manuais de marcha – elas podem ser feitas movendo a alavanca, no Captur, ou por um botão na alavanca (Tracker).
Ao volante, mais diferenças: o Captur brasileiro ainda não adotou a plataforma CMF-B, mas a base B0 ganhou as evoluções já vistas no Duster. Uma das novidades é o ajuste de profundidade do volante, que só não melhorou mais a posição de dirigir porque o banco, quando ajustado para ficar mais alto, é elevado mais atrás do que na frente, deixando o motorista “caído” para a frente. Além disso, seu assento é mais curto, incomodando por uma certa falta de apoio para as pernas. No SUV da Chevrolet, o motorista se acomoda melhor.
Em movimento, outra novidade do Captur logo se faz notar: a direção agora tem assistência elétrica, como no rival. Com ela, o SUV ficou mais leve nas manobras e mais agradável para o uso urbano. Ainda assim, o Tracker tem um sistema mais direto e preciso, o que se nota principalmente na estrada. Mas, de novo, o que chama a atenção ao volante é, obviamente, a nova mecânica. O Captur responde com prontidão ao mais leve toque no acelerador (a não ser que você use o modo Eco, que “mata” o desempenho para poupar combustível). Enquanto isso, o Chevrolet Tracker precisa subir um pouco mais de giro para responder, mas está longe de decepcionar, pois a calibração do conjunto ficou muito boa e a transmissão reage mais rapidamente do que a CVT.
Os dois modelos têm o sistema start-stop, que desliga e religa o motor em breves paradas para poupar combustível na cidade – cenário em que o PBEV aponta consumos praticamente idênticos, na faixa de 7,5 km/l com etanol e 11 com gasolina. Já na estrada, os dois trabalham em faixas de rotação iguais (2.000/2.100 rpm a 120 km/h), mas a melhor aerodinâmica e a menor distância do solo garantem consumo mais baixo para o Tracker, na faixa de 13,5 km/l com gasolina (marcamos 15) e 9,5 com etanol, contra 12 e 8,3 km/l, respectivamente, com o Captur (fizemos 9 com etanol).
Já para quem busca um SUV para circular por estradas de terra, nenhum deles é exatamente adequado: o Tracker tem suspensões bem acertadas para isso, oferecendo mais conforto, mas só 16,1 cm de vão livre do solo, enquanto o Captur, que tem 21,2 cm livres, peca pela calibração mais afeita ao asfalto liso do que a pisos ruins (para isso, o “irmão” Duster e o rival Jeep Renegade são muito melhores).
Chevrolet Tracker vs. Renault Captur: conclusão
No fim, o Captur melhorou substancialmente com a nova mecânica, mas não o suficiente para superar o Tracker, a Compra do Ano 2021. Embora seja mais potente, ele entrega um desempenho praticamente idêntico ao do rival. Agrada pelo acabamento interno mais caprichado, mas parte dele é perdido quando se olha para a versão Intense. E se o Tracker leva vantagem na lista de equipamentos mesmo contra o Captur Iconic, que é um pouco mais caro, no caso da comparação com o Intense ele é bem mais equipado – e, neste caso, vale pagar a diferença. Para completar, mesmo sendo maior por fora, a vantagem do Renault em espaço aparece só no porta-malas, e ela nem é tão grande assim. O Tracker ainda é mais silencioso e econômico na estrada, além de ter um rodar mais confortável em pisos ruins. É o vencedor deste comparativo – fazendo jus ao título de Compra do Ano.
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