02/07/2022 - 8:00
A crise dos chips deixou os carros mais caros, trazendo à tona a vulnerabilidade de um sistema de produção de automóveis que há anos – por conta da globalização – transferiu grande parte dos processos a países que produzem em grande volume a baixo custo.
E a este problema, ainda longe de acabar, acrescenta-se outro: a guerra na Ucrânia. O conflito evidencia esta deficiência do setor, que depende tanto do país agressor quanto do agredido para peças e matérias-primas que não chegam mais à cadeia de suprimentos.
Faltam tantos componentes para carros em geral, como microchips, quanto para os eletrificados – como o níquel, do qual a Rússia é o terceiro maior produtor e cujo preço aumentou 197%. Isso resulta em paradas nas linhas de produção, com custosos lay-offs e atrasos nas entregas de até um ano, como no caso do Jeep Commander.
Uma situação dramática para fabricantes, que já lutam com aumentos anteriores à guerra nos preços do alumínio, aço e, no caso dos elétricos, cobalto e lítio. Tudo deixando os carros mais caros, sejam a combustão ou não.
Assim, a prometida eletrificação “total” do mercado deve demorar mais que o esperado – e será ambientalmente menos eficaz em mercados como o europeu, que terá que usar mais energia elétrica “suja” para diminuir a dependência da Rússia (a Itália vai reabrir sete usinas a carvão).
Nesse ponto, até um fabricante insuspeito como a Volvo, que investe pesado em elétricos, reconhece que seus modelos a bateria, com as atuais fontes de energia, levam 110.000 quilômetros para ter uma pegada de carbono menor que o equivalente a gasolina. Usando carvão, esse equilíbrio vira fantasia…
Além disso, há os custos industriais: hoje um carro elétrico custa até 50% mais que um a combustão na Europa, e até 100% no Brasil, no caso de um “popular” como o Kwid E-Tech (isso porque há incentivos ou redução de impostos).
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Se o aumento das matérias-primas continuar, tornam-se inviáveis. E, ao escolher elétricos como futuro inevitável, a indústria fica presa também à China, que controla boa parte da cadeia, da maior parte da extração de cobalto e lítio à produção das baterias.
E não adianta voltar correndo para os modelos a combustão, no caso da Europa, ou atrasar a eletrificação a no Brasil, onde ainda é bastante incipiente: mesmo no caso deles, a pressão nos custos se reflete nos preços, que crescem sem parar com a demanda superior à oferta.
Somando isso à inflação alta, que corrói o poder aquisitivo, e a consequente decisão das marcas de focar em modelos de maior valor e lucratividade, o carro zero-quilômetro, cada vez mais caro, volta a ser um bem para poucos privilegiados, destinado a se tornar – como disse Akio Toyoda – “uma flor no topo da montanha”.
O carro popular vai morrendo, e passamos a ter só o carro de elite — até porque abastecê-los está caríssimo.
Nesse triste contexto de carros mais caros e inatingíveis torna ainda mais essencial a edição especial da Compra do Ano da revista MOTOR SHOW. Ainda que carros zero-quilômetro sejam para poucos, ou justamente por se tornarem um “investimento” tão mais significativo, torna-se ainda mais importante acertar na escolha.
E é justamente para isso que a equipe da MOTOR SHOW indica, com base em suas experiências e nas avaliações e testes realizados, os melhores modelos para você colocar na sua garagem em 22 categorias – sejam de R$ 60 mil, sejam de R$ 1 milhão.