PreviousNext

A Honda confirmou em Tóquio que tem planos de importar o novíssimo NSX para o Brasil a partir de 2016, quando começa sua produção na fábrica de Marysville, Ohio, nos Estados Unidos. A informação foi dada pelo diretor de Relações Públicas para a América do Sul, Sergio Bessa, após um programa de test drive do carro na pista de provas da Honda em Tochigi, no Japão.  A alta cotação do dólar, entretanto, tem dificultado a definição de um cronograma para a venda do superesportivo no Brasil. Nos Estados Unidos, o NSX (que será vendido naquele país com a marca Acura) custará cerca de US$ 150.000. Com o dólar variando próximo de R$ 4, o preço já subiria para R$ 600.000. Acrescentando os impostos de importação, margem de lucro e custos de pós-venda, o preço do carro passaria de R$ 1,2 milhão, segundo Bessa. Apesar disso, a Honda gostaria de vendê-lo no Brasil por se tratar de um carro que resume a filosofia “the power of dreams” (o poder dos sonhos) adotada pelo novo presidente mundial da empresa, Takahiro Hachigo. De qualquer forma, o volume inicial será bem pequeno (de 10 a 15 carros por ano), pois a Ferrari mais vendida no Brasil (F458) emplacou apenas sete unidades de janeiro a setembro de 2015 (seu preço vai de R$ 1,9 milhão e R$ 2,5 milhões, dependendo da versão). Outro carro considerado para os estudos é o Porsche 911 Turbo, que custa cerca de R$ 1,2 milhão e emplacou 12 unidades este ano.

Acelerar o novíssimo NSX no oval de Tochigi foi ao mesmo tempo excitante e frustrante. Excitante porque foi a primeira vez que jornalistas da América do Sul puderam dirigir o “superesportivo para todos os dias” — ainda que se tratasse de um modelo pré-série, pois a produção nos EUA ainda não começou, apesar de o carro ter sido apresentado oficialmente no Salão de Detroit, em janeiro. E frustrante porque a velocidade estava limitada eletronicamente em 188 km/h. Mesmo assim, deu para sentir algumas sensações. A primeira é que trata-se de um carro incrivelmente bonito, uma jóia do design industrial. Ele é muito baixo (apenas 1,215 metro) e o motorista senta-se quase no chão, mas é fácil entrar nele. Uma vez lá dentro, você praticamente veste o carro — tudo se encaixa de forma perfeita. A ergonomia é fantástica, com todos os comandos muito próximos das mãos e facilmente visíveis. Também impressiona a visibilidade externa num carro tão baixo.

Só pude dar duas voltas na pista com o NSX, contando a saída e a entrada dos boxes. Pouco, muito pouco. Com um engenheiro da Honda ao lado, a primeira volta foi obrigatoriamente no modo de condução normal, para sentir o comportamento suave e ao mesmo tempo ágil do carro para o dia a dia nas cidades. Na segunda volta fui autorizado a mudar para condução esportiva. Ao virar o seletor do modo de condução no painel,  ouvi o ronco do motor mudar e percebi que todos os “sentidos” do NSX se tornaram mais agudo, então enfiei o pé no acelerador e me programei para contornar a curva 1 de Tochigi em sua máxima inclinação de quase 90 graus, mas em poucos segundos o motor cortou. Então completei a volta abaixo de 180 km/h, o que, para esse novo NSX, é pouca coisa. De qualquer forma, foi um excelente aperitivo.

Quando a Honda decidiu levar adiante o seu projeto “New Sport Experience” (daí o nome NSX), no final dos anos 1980, contou com a colaboração do piloto Ayrton Senna, a partir de 1988, para os ajustes finais no carro. Depois de várias sessões de testes no circuito de Suzuka, no Japão, o Honda NSX foi lançado em agosto de 1990 com motor motor 3.0 V6 de 274 cv de potência. Logo se tornou um ícone e foi produzido na fábrica de Takanezawa, na região de Tochigi, até novembro de 2005. Já a segunda geração do NSX foi pensada para os Estados Unidos. E tudo foi diferente, pois os avanços eletrônicos diminuíram drasticamente a dependência de um superpiloto de testes no desenvolvimento do carro. Mesmo assim, segundo o engenheiro Keiji Otsu, diretor executivo de Estratégia de Tecnologia da Honda, as impressões de um piloto profissional ainda são imprescindíveis. Dessa vez o NSX contou com a colaborações de dois pilotos da Fórmula Indy, o japonês Takuma Sato e o escocês Dario Franchitti.

O novo Honda NSX também usa motor V6, mas seu powertrain é completamente diferente. Trata-se agora de um carro híbrido com tração integral. O motor convencional tem 3,5 litros biturbo com injeção direta de combustível, desenvolve 507 cv de potência e entrega 56,1 kgfm de torque. Ele tem um ângulo de apenas 75o, fica na traseira em posição longitudinal e trabalha em conjunto com dois motores elétricos dianteiros independentes de 7,9 kgfm de torque cada (só para mover as rodas dianteiras), além de outro motor elétrico na traseira acoplado diretamente ao virabrequim. No total, o NSX da segunda geração entrega 581 cv de potência e 65,9 kgfm de torque. O câmbio é automatizado de nove marchas com dupla embreagem. Atrás do banco dianteiro do passageiro, existe uma “unidade de energia inteligente” que abriga a bateria do sistema híbrido. Já a unidade de transmissão de toda a energia gerada pelo conjunto é posicionada sob o console do controle central dos três motores.

Toda essa tecnologia compacta fez do NSX um supercarro incrivelmente amigável na condução, até onde pudemos avaliar. Claro que a construção do chassi acompanhou o nível de excelência atingido pela Honda nesse carro. Ele é feito com quatro tipos de alumínio e dois tipos de aço. Seu peso é de 1.725 kg, o que dá uma relação peso-potência de apenas 2,9 kg/cv. Os números de desempenho ainda não foram divulgados pela Honda. Resta saber agora se as condições econômicas do Brasil permitirão que o sonho de importar o NSX se realize.