Texto adaptado: Flávio Silveira

Reportagem: Andrea Rapelli

Foto: Massimiliano Serra

Não adianta mais reclamar: a típica silhueta de sedã, elegante e sinuosa, mas também racional e às vezes até ostensivamente esportiva, abandonou quase definitivamente a cena automotiva atual. Como indicam os números do mercado, hoje existem só alguns entusiastas obstinados que continuam a amá-los, resistindo ao canto da sereia entoado pelos onipresentes SUVs.

Por isso, para alguns fabricantes, parece natural tentar repensar as proporções dos queridos e antigos sedãs, mas com uma cabine mais alta, a característica principal e mais cobiçada dos SUVs: junto com o Renault Arkana, o Citroën C4 X foi um dos primeiros produtos desta nova tendência. E, nascido agora em 2023, ele não poderia ser desvinculado da transição que vivemos: além dos motores a gasolina e a diesel (sim, eles ainda existem na Europa), há também um elétrico, neste ë-C4 x.

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Sem negar o DNA

Além das inovações estilísticas, verdadeira tradição da Citroën, um fato é inquestionável: o ë-C4X não nega o DNA da marca francesa. Ao abrir a porta, encontramos assentos macios como poltronas, que fazem lembrar, por causa da trama das costuras, as pedras angulares do “citroënismo”, modelos como GS e BX. Aqui, entre outras coisas, os bancos têm ajuste elétrico (embora não longitudinal) e função de massagem. Já o painel é construído na maior parte em plástico rígido, mas tem toques inteligentes e de agradável extravagância: por exemplo, uma gaveta deslizante com fundo de borracha que se projeta diante do passageiro dianteiro.

Logo acima da gaveta, há um suporte retrátil perfeito para colocar o tablet (não se preocupe, ele foi feito de modo a não atrapalhar o acionamento do airbag). Já em relação à visibilidade, o pilar dianteiro encorpado e o espelho retrovisor escondem uma porção considerável do campo de visão. Atrás, as manobras exigem a ajuda das câmeras 360°, pois o vidro traseiro é bastante pequeno e inclinado.

A distância entre-eixos generosa permite a quem senta atrás – em uma “sofá” bem macio, por sinal – chegar com as pernas descansadas mesmo em viagens mais longas. O porta-malas nãofica devendo nada na capacidade total, mas o que pode causar certo estranhamento aos donos de SUV é a ausência da porta traseira se abre inteira. Até porque, aqui, além da abertura de acesso ser bem pequena, os braços da tampa são particularmente intrusivos e mal protegidos.

O silêncio da bateria

Como já se pode imaginar, a experiência ao volante deste Citroën ë-C4 X segue o conceito de máximo conforto, no qual os franceses são tradicionalmente muito fortes. E, de fato: além dos ótimos assentos, os amortecedores hidráulicos progressivos suavizam com eficiência as imperfeições do asfalto. Legado das famosas suspensões hidropneumáticas – às quais, é importante dizer, certamente não podem ser comparadas –, cumprem bem seu dever, perdendo a compostura proverbial só para quem viaja atrás, e apenas em obstáculos curtos e volumosos.

A isso tudo, soma-se se o silêncio do carro elétrico, ligeiramente perturbado em alta velocidade por um tímido farfalhar. Em um carro como este, o conjunto motriz atualmente usado pelo grupo tem seu melhor casamento. Porque os 136 cv nunca decepcionam: respondem rápido sempre que se acelera fundo, mas você não gruda no banco como em outros elétricos de temperamento mais vivo. É fluido, como deve mesmo ser, em vez de ser arisco.

PreviousNext

Mesmo assim, o ë-C4X é capaz de transmitir uma certa dose de esportividade, se solicitado. Com reações dóceis e previsíveis, controles eletrônicos bem calibrados e uma boa aderência ao asfalto, mas não é para curvas rápidas. Você logo aprende a lidar com a direção bastante rápida e progressiva, mas que, no entanto, nunca consegue dizer com muita precisão o que está acontecendo com as rodas dianteiras. Uma característica esperada em um carro como este, e não incomoda tanto quando se quer curtir um trecho tranquilo.

Além disso, mais desempenho significa mais uso de energia, e a bateria de 45 kWh utilizáveis já não garante viagens longas, mesmo com esse desempenho pacato. A autonomia oficial é de razoáveis 360 quilômetros, mas, em rodovias, no pior cenário (130 km/h), ele fez só 3,9 km/kWh e não chegou a 200 quilômetros (testes de nossa parceira Quattroruote. Já em estradas menores, (90 km/h), com tráfego, fez 5,2 km/kWh, resultando em um alcance de 236 quilômetros. Por outro lado, ele foi bem na cidade: fez bons 7,2 km/kWh (autonomia de 357 quilômetros).

Por fim, voltemos ao design: inovar sempre é arriscado, e a Citroën sabe bem disso, por meio de seus sucessos (e fracassos) históricos. Quanto a este novo e inusitado crossover-SUVcupê-sedã, o tempo dirá se a mistura de gêneros vai conseguir conquistar o consumidor.

Concorrência

Kia Niro EV

Embora só tenha chegado ao Brasil, por enquanto, como híbrido, ele também tem uma versão 100% elétrica. É bem mais curto que o ë-C4X e tem 204 cv e 255 Nm, com bateria bem maior: são 64,8 kWh.

Volkswagen ID.3

Tem porte similar ao do Golf e já sofreu o primeiro facelift, mas não veio e nem mesmo foi confirmado para o Brasil: marca apostará primeiro no ID.4, um SUV médio, equivalente elétrico do fracassado Taos.

Citroën ë-C4 X

Preço Europa: R$ 230.000

Preço Brasil (estimado): R$ 299.990

Motor: elétrico, dianteiro, síncrono, ímãs permanentes

Combustível: a bateria

Potência: 136 cv

Torque: 260 Nm

Câmbio: automático, caixa redutora com relação fixa

Direção: elétrica

Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)

Freios: disco ventilado (d) e eixo de torção (t)

Tração: dianteira

Dimensões: 4,60 m (c),1,83 m (l), 1,53 m (a)

Entre-eixos: 2,67 m

Pneus: 195/60 R 18

Porta-malas: 510 litros (465 na medição QRT)

Bateria: íons de lítio, 50 kWh (45 utilizáveis)

Peso: 1.659 kg

0-100 km/h: 10s2

Velocidade máxima: 151,6 km/h (limitada eletronicamente)

Consumo cidade: 7,2 km/kWh

Consumo estrada (90 km/h): 6 km/kWh

Consumo rodovia (130 km/h): 3,9 km/kWh

Autonomia na cidade: 269 km

Autonomia na estrada: 194 km

Tempo de recarga: 22h49 (tomada comum) – 6h10 (wallbox 22 kWh) – 48 min (DC 50 kW, 20-80%) e 40 min (DC 350 kW, 20-80%) — dados de desempenho e consumo da Quattroruote