16/01/2024 - 14:40
Jogos de sobrevivência (ou survival) nunca foram minha primeira opção na hora de gastar umas horinhas na frente do computador. O meu tempo é limitado, por isso fiquei surpreso quando percebi que tinha devorado a demo de Pacific Drive como se estivesse em férias eternas.
Lembro de assistir o primeiro teaser lançado pela Ironwood Studios em 2022 e pensar, de maneira bem preguiçosa: ‘Um Mad Max com elementos sobrenaturais?’
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Com o jogo em mãos, fui conquistado logo na abertura: uma estrada hipnótica e solitária, rodeada pelos muros da Zona de Exclusão Olympic, um local misterioso e isolado da sociedade por motivos de segurança.
Aqui, minha única companhia é o rock psicodélico que atravessa as caixas de som e se mistura com o barulho da chuva batendo nos vidros do carro.
Uma voz amigável surge no rádio e me explica o tamanho do problema: na Zona de Exclusão, massa, matéria e a física não se comportam da maneira que estamos acostumados. O local abriga anomalias que desafiam nosso entendimento da realidade, prontas pra me presentear com uma passagem só de ida pro caixão.
Na estrada, as regras estabelecidas pelo universo são jogadas no ralo: estranhos terrenos e máquinas surgem do chão para bloquear seu caminho, robôs com formas incomuns patrulham o acostamento enquanto vozes sinistras surgem em meio à estática do rádio, declamando salmos bíblicos para aterrorizar o motorista que vos fala. E conseguiram.
A voz amigável retorna para reforçar o quão ferrado eu estou, mas também para me apontar um porto seguro: uma garagem para descansar e arrumar o carro, já destruído pelos impactos da viagem.
Na garagem, a voz que me recebe é diferente: uma mulher que claramente não está contente com a minha presença, mas que está disposta a me deixar arrumar minha carroça.
Como uma professora mal humorada, ela me mostra como trocar pneus, portas e painéis destruídos por peças (quase) novinhas. Já imaginou se o Pink Floyd decidisse virar uma banda punk depois da saída de Syd Barrett? A banda tocando no rádio da garagem certamente imaginou. Fica fácil trabalhar assim.
Uma coisa estava clara: Pacific Drive era tudo, menos um Mad Max com elementos sobrenaturais.
Jogabilidade
Em Pacific Drive, sua missão é explorar as áreas da Zona de Exclusão, coletar suprimentos e retornar em segurança à garagem para melhorar seu carro, aumentando suas chances de escapar do isolamento de uma vez por todas.
Durante a exploração, você coleta ‘âncoras’ espalhadas pelo mapa. Elas garantem um retorno seguro à garagem através de portais, mas não antes de ativar a ‘instabilidade’, um evento catastrófico que absorve toda a estrada junto com você, seu carro e os preciosos suprimentos que você sofreu para coletar.
Como escapar? Pé no acelerador. E lembre-se: qualquer tipo de contato com as anomalias é capaz de danificar componentes do seu carro, te deixando mais lento e suscetível às ameaças do ambiente.
Caso seja pego pela instabilidade, você perde todos os seus itens e uma força misteriosa te faz retornar à garagem para reconstruir o seu carro e tentar novamente.
O sistema de tuning/mecânica é bem completo e, por alguns minutos, você se esquece dos terrores da Zona de Exclusão e se imagina apenas como um punk aposentado melhorando o seu carrinho, com o som ligado no máximo, em uma garagem que já viu dias melhores.
Apesar de visualmente classuda, a interface dos menus é bastante confusa e pode levar um tempo para se acostumar. Preparo e carregamento do carro, ferramentas, fabricação e instalação de novas peças: tudo está sob sua responsabilidade. Seu espaço para suprimentos é limitado, por isso, o planejamento é tão essencial quanto a administração dos itens.
Com o carro arrumado e uma nova rota planejada, é hora de voltar para a estrada (outra vez)
Veredito
Em suas primeiras horas, Pacific Drive demonstra ser um filho rebelde de ‘Aniquilação’ e ‘Stalker’, adaptando o conceito da Zona e muitas características visuais, além de temas como isolamento, sobrevivência e o encontro com o desconhecido.
Mas não se engane: o jogo está muito longe de ser um museu de referências, e sua verdadeira personalidade aparece no gameplay, que eu definiria como ‘som na caixa e pé na estrada’.
Medo, adrenalina e recompensa se misturam, e o resultado final é consistente o suficiente para me fazer querer mais.
Com atuações de voz impecáveis e músicas capazes de transformar um passeio pelo inferno em uma aventura punk-psicodélica, a Ironwood Studios promete fazer uma estreia de respeito no mundo dos games.