Por Flávio Silveira

Por aqui, mostramos como vai a corrida pelo carro elétrico de R$ 100 mil e prevemos que o Dolphin Mini não chegaria a este valor. Na verdade, podia ter chegado: bastava tirar uns equipamentos e colocar uma bateria 25-30% menor – que já seria suficiente para o uso urbano, sua maior vocação.

Quem ultrapassou tal barreira simbólica de preços – surpresa! – foi o Renault Kwid (que havia estreado, mais de um ano antes, por R$ 146.990: além da chegada da concorrência chinesa, já foi reestilizado na Europa, onde é vendido como Dacia Spring). Talvez a BYD tenha preferido lançar essa versão mais cara do Dolphin Mini até para não vender demais: com o enorme sucesso do irmão maior, o Dolphin “normal”, a marca precisa controlar o crescimento e se ajustar até começar a produção nacional, pois, além do risco de falta de peças de reposição, há cotas limitadas para importação sem imposto elevado.

De qualquer modo, ele custa R$ 115.800, contra R$ 149.800 do irmão e líder de vendas. Vale notar que, na lista de equipamentos, a novidade é até mais equipada, com itens que o Dolphin grande só tem na versão Plus, como banco do motorista com ajuste elétrico, carregador por indução – muito bem localizado, à mão e na frente de saídas de ar – e até ajuste de profundidade do volante, que o Dolphin não tem.

• Curioso é ficar devendo o retrovisor interno eletrocrômico e, o mais chocante, um simples limpador traseiro, muito importante em hatches (os chineses “esquecem” dele). Ainda surpreendem, nos itens de série, retrovisores externos com aquecimento, faróis e lanternas de LED, freio de mão eletrônico, auto-hold, chave presencial, seis airbags e regulador de velocidade, além da já famosa multimídia giratória de 10,1”. Ou seja, podia custar bem menos.

• Apesar das dimensões reduzidas – apenas cinco centímetros mais longo que um Kwid –, o Mini utiliza a mesma arquitetura “e-Platform 3.0” do Dolphin e do Song Plus, assim como deles vêm inúmeros componentes de sua cabine (juntos, serão os principais modelos da linha de produção nacional, que começa no ano que vem na Bahia). E isso é ótimo, pois leva a um acabamento que é surpreendente para o segmento – irregular, verdade, mas com muitas partes com materiais macios e boa montagem.

• Há, ainda, boas soluções para aproveitar espaço, como um porta-objetos abaixo do apoio de braço dianteiro – mas, com as saídas de ar pequenas, o sistema de refrigeração sofreu pra gelar a cabine no calor.

• Outro problema é a tela central que concentra muitos comandos bastante usados e que deveriam ser diretos, como o ajuste de temperatura do ar-condicionado. Como o motor é pequeno, mesmo sendo subcompacto ele tem bom espaço no banco traseiro para até dois adultos – mas ao custo de um porta-malas diminuto, de só 230 litros, e isso porque não tem estepe. Uma versão de cinco lugares virá depois, mas, na prática, só acomoda três crianças atrás.

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Um verdadeiro city-car

Ao volante, o Dolphin Mini comprova que nasceu pra rodar na cidade. É um verdadeiro city-car, com dimensões compactas para caber em qualquer vaga e passar em qualquer vão. E é bastante ágil, apesar do motor dianteiro ter só 75 cv e 135 Nm (no Kwid E-Tech são 65 cv e 113 Nm, mas a massa é 22% menor).

Então, o Dolphin Mini literalmente sente o peso da sua plataforma e acaba entregando um desempenho igual ao do Renault. Que não tem nada de errado, muito pelo contrário: elogiei o francês, e elogio este Dolphin Mini, pela agilidade (surpreendente, para quem nunca andou de carro elétrico) na “prova” mais frequente na cidade, 0-60 km/h, e em qualquer retomada nesta faixa – sempre rápidas, até porque o BYD tem câmbio automático de apenas uma marcha, como 99% dos elétricos.

Não há atraso de câmbio, de acelerador (bem calibrado pra evitar manobras bruscas), de nada. E os níveis de regeneração de energia também são bem dosados: na cidade, preferi o mais forte, que na verdade não é tão forte e incômodo como nos carros com “one pedal drive”.

(Divulgação)
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O seletor do câmbio (detalhe no alto), junto com outros poucos botões. A cabine tem suas linhas inspiradas em ondas, com destaque para a tela que reúne informações e comandos (até demais) e ainda é giratória (na foto, na vertical com o ótimo GPS nativo). Já o carregador sem fio é bem localizado (foto ao centro). E há ajuste elétrico do banco do motorista (acima)

Além de já ser ambientalmente excelente na cidade por não emitir gases ou ruídos localmente, quanto menos energia um carro elétrico gastar, melhor. Parece óbvio, mas não aparece tão claramente em carros que se dizem eco-friendly mas têm 400 cv “à toa”.

Nesse ponto, o Dolphin Mini é exemplar: em nossos testes, foi o único que passou facilmente de 10 ou 11 quilômetros por quilowatt-hora (menos de R$ 1) nas áreas planas de São Paulo (com o Kwid, não chegamos a 9) e fechou o teste com uma média de 9 km/kW (como a bateria tem 38 kWh, sem sufoco, usando 85% dela, dá para rodar 290 quilômetros com uma carga – 10 a mais que no PBEV, onde o Kwid marca só 186 quilômetros.

Vale destacar, ainda, a direção e freios são bem calibrados, embora nada comunicativos e longe de qualquer proposta esportiva (como esperado).

Mas a suspensão, principalmente traseira, deixa a desejar: é macia demais, deixando os passageiros enjoados e “pulando” demais em desníveis, calombos, emendas de pontes, etc… Realmente deve ser recalibrada.

Também fomos testar o Dolphin Mini na estrada, mais por curiosidade – porque, se esse for um tipo de uso constante, é melhor tentar chegar no valor do Dolphin maior (ou o Ora 03). Até porque é no uso rodoviário, em velocidades mais altas, que o hatch entrega bem mais claramente suas limitações.

Além do problema da suspensão piorar, principalmente em estradas ruins, pra acelerar ao sair do pedágio, por exemplo, são longos 14,9 segundos, 0,3 a mais que o Kwid, pra chegar a 100 km/h.

As retomadas também são ruins – afinal, é potência de 1.0 aspirado, e com mais peso. Não que não dê para viajar, mas é bom ter paciência.

Por outro lado, ainda faz bons 6,5 a 7,5 km/kWh a 110 km/h, subindo a 8 onde o limite era 100 km/h e caindo a 5,8 quando tentei manter 120 km/h – perto da máxima, limitada a 130 km/h. Após 135 quilômetros de estrada, gastei 42% da bateria, o que projeta cerca de 250 quilômetros de alcance.

No fim, o Dolphin Mini tem muitas qualidades do irmão maior e mais caro, ao mesmo tempo em que é muito superior ao Renault Kwid, exceto pelas suspensões (mas, pela boa diferença de preço e rede/peças, o Kwid merece ser considerado).

Este “Mini” é um bom carro, com design simpático, até cativante, e pode ser o elétrico mais barato do mercado em uma eventual versão nacional (ou importada) mais pelada e com bateria menor. Dá, sim, para chegar aos R$ 100 mil, ou até menos.

Pelo preço desta versão, porém, vale mais a pena, se puder ou quiser, fazer o upgrade para o Dolphin “original”, principalmente pelo espaço extra na cabine e no porta-malas, pelo estepe de verdade e, ainda, pelo desempenho e pela dinâmica melhores – ou, dependendo das prioridades, para o GWM Ora 03 Skin, seu rival também novo e de mesmo valor, mas com tocada mais esportiva.

(Divulgação)

BYD Dolphin Mini EV

Preço básico R$ 115.800
Carro avaliado R$ 115.800

Motor: elétrico, síncrono, dianteiro
Combustível: eletricidade
Potência: 75 cv
Torque: 135 Nm
Câmbio: automático, caixa redutora de relação fixa
Direção: elétrica
Suspensão: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 3,780 m (c), 1,715 m (l), 1,580 m (a)
Entre-eixos: 2,500 m
Pneus: 175/55 R16
Porta-malas: 230 litros
Bateria: LFP, tipo “Blade”, 38 kWh
Peso: 1.239 kg
0-100 km/h: 14s9
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada)
Consumo na cidade: 10 km/kWh (teste MOTOR SHOW)
Consumo na estrada: 6,6 km/kWh (teste MOTOR SHOW)
Autonomia: 280 km Recarga máxima: 6,6 kW AC e 40 kW DC
Nota do Inmetro: A
Classificação na categoria: A (Subcompacto)