Por Rafael Poci Déa

Fiat pode se orgulhar de sua tradição com picapes no Brasil: criou o segmento de picapinhas com a 147 e hoje tem duas best-sellers desenvolvidas por aqui, a Strada e a Toro – com a última, também introduziu o conceito de picapes intermediárias monobloco no país. Agora, com esta nova Titano, mira mais alto, em uma outra categoria, invadindo o território de Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10 e cia.

Na realidade, globalmente, é a segunda média com o logo da marca italiana: a primeira foi a Fullback, que, lançada em alguns mercados em 2016 e descontinuada já em 2019, usava a base da Mitsubishi L200 Triton. Agora, a marca faz uma segunda tentativa com esta picape, que é derivada da chinesa Changan Kaicene. Em alguns mercados, virou Peugeot Landtrek, mas, aqui, desenvolvida/aprimorada pela Fiat do Brasil, que virou líder global do projeto KP1, a aposta é na marca com tradição de modelos menores.

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Produzida pela Nordex, no Uruguai, tem qualidades ao gosto de picapeiros, mas fica devendo em outros pontos.

(Divulgação)

A Titano chega em três versões:
 a Endurance (R$ 219.990),
 a Volcano (R$ 239.990),
 e a Ranch (R$ 259.990).

Embora use as nomenclaturas da Strada e da Toro, é nas “entranhas” que a Titano se distancia das irmãs monobloco. Diferentemente delas, tem construção tradicional, com carroceria sobre chassi – que aumenta a robustez no trabalho pesado e no uso off-road. Com 5,330 metros de comprimento e 3,180 de entre-eixos, é pouco menor que a Ford Ranger XLS 2.0 4×4 (a versão que custa o mesmo que a Fiat Titano topo de linha).

Com visual limpo e horizontalizado, a picape revela parte das origens nas luzes de circulação diurna (DRLs), que têm assinatura no formato de dente de sabre, marca registrada da Peugeot – mas a grade dianteira tem um desenho diferente da versão francesa, ainda de 2020.

Há três opções de rodas:
 de 17” em aço (Endurance),
• de 17” em liga-leve (Volcano),
 ou de 18” diamantadas (Ranch).

(Divulgação)

De modo geral, compradores de picapes estão interessados, principalmente, na capacidade da caçamba. E a da Titano é boa: 1,630 metro de comprimento, 1,600 de largura e 51,6 cm de altura, com capacidade de carga de 1.020 quilos ou, em volume, 1.314 litros – números semelhante aos das concorrentes médias e muito superior ao que oferecem Strada (650 quilos e 844 litros) e Toro Ranch (1.010 quilos e 937 litros).

O protetor de caçamba e a capota marítima são itens de série, enquanto muitas das rivais cobram um (alto) valor extra por esses equipamentos essenciais.

Ao abrir a porta, o estranho é que a cabine tem plásticos texturizados e um conjunto de botões no painel que irremediavelmente remete aos Peugeot, e não aos Fiat/Jeep.

A posição de dirigir é agradável, graças ao ajuste elétrico dos bancos frontais e à coluna de direção regulável em altura e profundidade (que nem todas médias têm). Mas alguns botões deviam ficar em posição mais acessível, como os do ajuste dos retrovisores com rebatimento automático e da altura do facho do farol.


(Divulgação)

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O curioso é que a cabine irremediavelmente remete aos Peugeot, e não aos Fiat/Jeep. A posição de dirigir é agradável, graças ao ajuste da coluna de direção também em profundidade. Acima, o quadro de instrumentos que lembra o do antigo Chevrolet Agile, mas com TFT de 4,2”. Ao centro, a câmera 360º, que ajuda também no off-road, e os comandos do ar-condicionado de duas zonas, o útil botão giratório de volume e uma série de outros atalhos

quadro de instrumentos tem ao centro uma tela TFT de 4,2” com escalas invertidas do velocímetro e do conta-giros, como no antigo Chevrolet Agile – o que é meio confuso. O sistema multimídia de 10” tem conectividade sem fio, e ainda há mimos como o porta-luvas refrigerado e o ar-condicionado de duas zonas, além de câmeras de 180º e 360º, e um resquício do mercado chinês: acendedor de cigarros, item raro de ser visto atualmente.

Quem viaja no banco traseiro consegue acessar a cabine com facilidade graças ao bom ângulo de abertura das portas, mas, uma vez lá dentro, encontra espaço apenas suficiente para as pernas e os joelhos, pois o entre-eixos, como vimos, não é dos maiores. Por outro lado, há saídas de ar-condicionado dedicadas (nem todas picapes têm), tomada USB-A e encosto traseiro com inclinação que não cansa tanto em trajetos mais longos ou no uso fora de estrada. Sob o assento, ainda há um porta-objetos bastante prático.

Dirigibilidade mediana

A Titano combina o motor 2.2 turbodiesel com injeção direta, emprestado do furgão Ducato, a um câmbio automático tradicional de seis marchas.
• São 180 cv de potência, com torque de 400 Nm a 2.000 rpm – números piores que os da Nissan Frontier SE, com seus 190 cv e 450 Nm, que tem um ruído igualmente “encorpado” que aparece logo na partida, feita por botão.
 Mesmo com a caçamba vazia em nosso teste, consideramos o desempenho apenas condizente com a proposta: mesmo com o baixo turbo lag (atraso antes de atuar), não empolga muito.
 Ao menos as marchas são passadas brevemente, e a 100 km/h o conta-giros marca 2.000 rpm, contribuindo com o conforto acústico e também com o consumo – fizemos 12,7 km/l guiando de modo civilizado na estrada, conforme o computador de bordo, mas no Inmetro dados não são assim tão bons (8,5 km/l na cidade e só 9,2 na estrada).

Um dos sinais da idade do “novo” projeto aparece na direção ainda com assistência hidráulica – substituída pela elétrica na maioria das picapes médias. Resultado: o sistema não é nada rápido ao esterço e a comunicabilidade com o piso deixa muito a desejar, afetando negativamente a experiência ao volante.

As suspensões seguem o padrão da categoria, com sistemas independentes na dianteira e eixo rígido na traseira, mas a calibração é macia demais, resultando em um “pula-pula” em nosso asfalto, que até chega a incomodar depois de um período longo ao volante (ela deve se comportar um pouco melhor quando estiver carregada).

Em contrapartida, o pedal do freio tem boa modulação, apesar de o conjunto utilizar discos ventilados na dianteira, mas tambores na traseira.

Se fica devendo no asfalto, é fora dele que a Titano se sobressai, como comprovamos em um test-drive pela Chapada dos Veadeiros (MT).

Seu acerto mostra mais desenvoltura e um nível maior de conforto no uso off-road do que nas estradas tradicionais, e a picape supera obstáculos sem dificuldades, graças aos ângulos de entrada (29º) e de saída (27º), à altura livre do solo (mediana, 23,5 cm) e à tração 4×4 com reduzida, ativada por um comando giratório no console.

Se a ideia é superar rios e alagamentos, a capacidade de imersão é de razoáveis 60 cm (são 80 na Ranger, por exemplo).

Como quase nenhum veículo é perfeito, a Titano possui acertos e falhas – as últimas aparecendo, principalmente, nos sistemas de direção e de suspensão. Mas, para superar a concorrência – ou ao menos conseguir uma fatia desse volumoso mercado –, a marca italiana aposta na tradição no segmento de picapes e na ampla rede, com 520 concessionárias espalhadas pelo Brasil. Terá uma trajetória vitoriosa, como Strada e Toro? Ainda é difícil prever, mas talvez precise de preços mais agressivos. A conferir.

Fiat Titano Ranch 2.2 AT Diesel

Preço básico R$ 219.990
Carro avaliado R$ 259.990

Motor: quatro cilindros em linha 2.2, 16V, duplo comando de válvulas, injeção direta, turbo com geometria variável (TGV) Combustível: diesel
Potência: 180 cv a 3.750 rpm
Torque: 400 Nm a 2.000 rpm
Câmbio: automático, seis marchas
Direção: hidráulica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo rígido (t)
Freios: discos ventilados (d) e tambor (t)
Tração: 4×2 ou 4×4, com reduzida
Dimensões: 5,330 m (c), 1,963 m (l), 1,897 m (a)
Entre-eixos: 3,180 m
Pneus: 265/60 R18
Caçamba: 1.109 litros
Peso: 2.150 kg
Tanque: 80 litros
0-100 km/h: 12s4
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumo na cidade: 8,5 km/l
Consumo na estrada: 9,2 km/l
Nota do Inmetro: C
Classificação na categoria: D* *dados estimados